REVIEW | ‘Resident Evil VII: Biohazard’ é definitivamente um game que pode ser chamado de Resident Evil

Everton Duarte

A franquia Resident Evil, com certeza, é uma das mais famosas do universo gamer. Já se vão mais de 20 longos anos desde o seu primeiro título e, desde então, já ocorreram dezenas de alterações no seu modo de jogo e até gênero. Eu posso me considerar um fã old school dessa saga, pois RE1, RE2 e RE3, fizeram parte da minha adolescência coisa que já faz um certo tempo kkkkkk. Lembro-me claramente da reunião entre os meus melhores amigos para jogarmos o tão assustador game de sobrevivência aos zumbis. Aquela cidade caótica, os puzzles desafiadores, trilha sonora horripilante, portas onde roíamos as unhas para não encontrar um Licker ou o Nemesis do outro lado, além de sobreviver com uma Green Herb, 16 balas na Handgun e um Ink Ribbon.

Ah, que tempo feliz era aquele! Gráficos? Quem se importava com isso? A maior preocupação era se o CD do PS1 passaria da introdução com o logo da Sony. Era completamente lúdico. A imersão naquele universo maravilhoso de Resident Evil era algo singular e que poucos jogos proporcionaram tal façanha com tamanha competência. Infelizmente – ou felizmente -, o game foi ganhando fãs ao redor de todo mundo e a Capcom, criadora e desenvolvedora dele, se viu na obrigação de angariar mais adeptos à franquia. Com isso, o desenvolvimento da história da franquia ia sendo moldado paralelamente às gerações que a acompanhavam.

O jogo foi deixando cada vez mais de lado as suas origens de survival horror até se tornar um game de ação frenética à la “Call of Duty”. E não estou criticando a franquia do game de guerra mais famosa da atualidade, ao qual eu também sou fã. Mas Resident Evil deixou esvair a sua essência por entre os dedos do controle. Já não tínhamos mais medo dos zumbis e do cenário que nos era proposto. O game se tonara tão linear quanto previsível. De fato, a nova geração de gamers que nem sequer precisou assoprar uma fita e colocá-la de volta, já fora introduzida num gênero ao qual estava familiarizada. Mirar, atirar e correr era o princípio básico de muitos games da 7ª geração de consoles. Sendo assim, Resident Evil foi alvo das mais ferozes críticas negativas, que iam desde mídias especializadas a fãs de longa data, assim como eu.

Todas as críticas negativas por parte dos fãs, não se refletiam tantos nas vendas – que é a outra metade dessa laranja. Sendo assim, o game continuava sendo um dos carros chefe da empresa oriental ano após ano. O ponto positivo dessa história é que a Capcom, por mais que tenha optado em seguir rumos de ação em seus títulos, nunca deixou os fãs completamente desamparados. Vide RE6, que é um jogo frenético sim, mas o início da campanha desenvolvida para o Leon trouxera novamente um ar de esperança à franquia. E é em Resident Evil VII: Biohazard, que o game finalmente triunfa no retorno às suas origens.

Novos protagonistas tentam resgatar antigos elementos

RE VII ‘deixa’ de lado o time STARS e seus famosos protagonistas e aposta em uma nova história.

Ethan nosso atual protagonista, vai à procura de sua namorada, Mia, que está desaparecida há três anos. Além de Ethan, apresentado na DEMO lançada pela Capcom, nós também somos conduzidos à trama por uma equipe de TV que está explorando o local onde todo o universo do novo título se passa. Na versão final do game é possível assistir à incursão dessa equipe à assombrosa mansão da família Baker, que é a precursora maligna da trama.

O game começa através de uma cutscene onde Ethan está assistindo a um vídeo antigo que mostra Mia bastante feliz. Logo após isso, ele abre outro vídeo enviado por Mia, onde ela pede para que ele desista de encontrá-la. É óbvio que ele faz exatamente o contrário e, através das pistas deixadas no e-mail enviado junto ao vídeo, ele chega até a mansão onde acredita que desvendará todo o mistério sobre o desaparecimento de sua amada. Após essa bela introdução, podemos, de fato, iniciar a jogatina. E é aqui que notamos a primeira grande diferença em relação a todos os outros títulos de Resident Evil já lançados: o game é em primeira pessoa.

Resident Evil em primeira pessoa. Será que funciona?

Essa grande alteração na jogabilidade havia me deixado bem preocupado quando eu conferi o primeiro trailer do game. Não acreditei que ficaria ruim, mas a comparação com “Amnésia”, entre outros do gênero, seria inevitável e, com isso, o título perderia a identidade novamente.

De fato, a mudança é um artifício de imersão ao game, uma vez que o mesmo tem suporte ao PlayStation VR. Essa alteração foi mais do que acertada. O jogo é baseado em elementos completamente sombrios e a proximidade da câmera a cada passo ao adentrar a mansão nos passa a sensação de que precisamos ficar com todos os sentidos em alerta. Eu ainda não tive a oportunidade de conferir o game no VR, mas se a experiência da nova sobrevivência ao horror de RE VII já está tão boa no controle, a imersão estará completa com a realidade virtual.

Outro elemento que está a favor do game em relação a jogabilidade é a volta de alguns itens que marcaram a história do game.

Existe uma ótima referência aos Ink Ribbons uma vez que o modo de salvamento do game não é automático. Até há pontos com checkpoint, mas mesmo assim você precisará correr até o gravador de áudio para registrar o andamento de sua sobrevivência. Caso contrário, quando você morrer, precisará reiniciar boa parte de jogo. O mais nostálgico desta parte se dá na referência às antigas ‘salas‘ de save. Aqueles locais seguros onde era possível correr desesperadamente para tentar bolar a melhor estratégia entre fugir ou enfrentar o Nemesis, por exemplo. Outro item que retorna juntamente com a sala e o gravador é o baú, onde é possível guardar objetos que não podemos carregar e não cabem no inventário.

A exploração dos ambientes e a busca por objetos estão de volta e de forma esplêndida. Como era magnifico procurar itens em Resident Evil. Buscar uma chave secreta aqui, buscar uma medalha Wolf e outra Eagle ali, dentre tantos outros itens para o andamento do game.

Após já estarmos dentro da mansão – e até mesmo em outros pontos como a casa antiga -, alguns itens precisam ser encontrados para dar continuidade ao game. Itens que vão desde fusível para o painel de energia, chave para porta, cortador de cadeado, peças escondidas em pontos estratégicos, passagens secretas, além de puzzles, que, quando desvendados, nos presenteiam com itens de grande valor à jogatina. Outros objetos também estão presentes, tais como, fotos, artigos de jornal, fitas de vídeo, algumas bonecas, itens pessoais de Mia, dentre outros vários que poderão ser encontrados durante a exploração.

O elemento de cura felizmente retorna à boa e velha erva. Curar-se em Resident Evil de outrora era uma arte de combinação de ervas e que acabaram sendo substituídas ao longo da franquia. Nessa versão, temos a presença da “Green Herb”, que pode ser “evoluída” num frasco medicinal que torna o seu poder de cura mais eficiente. A percepção de que precisamos encontrar logo uma erva ou um frasco e curar o personagem o quanto antes é notável e foi muito bem desenvolvida, uma vez que a respiração agonizante. A forma de andar cambaleando e a visão esmaecida envolta em sangue deixam isso bem evidente.

É claro que eu não poderia deixar de falar sobre as armas encontradas, e mesmo que a nomenclatura mude, as clássicas  estão lá. Knife, Handgun, Shotgun, Flamethower, Machine Gun, Granade Launcher e a minha querida e amada Magnum estão de volta, claro que uma releitura caracterizada ao padrão atual do game. Além delas, temos a adição de algumas outras novas, como machado, motosserra e bombas caseiras. Apesar de que granadas já estiveram presentes no arsenal de RE5.

Outra boa adição à jogabilidade é a capacidade de Ethan de se defender com as próprias mãos aos ataques sofridos. Esse item fora explorado de uma forma exagerada em RE6, mas entende-se que o game era voltado para ação, então aqueles contra-ataques de arte marcial eram aceitáveis. Essa habilidade não estava presente nos primeiros títulos, porque, possivelmente, o maior problema do contato físico com os zumbis era a contaminação pelo T-Vírus.

À medida em que vamos progredindo e nos aprofundando na história, os inimigos acompanham a evolução da narrativa. Vou procurar não me aprofundar muito nesse ponto, até mesmo para não soltar algum spoiler que comprometa experiência do game, mas não há uma variedade exorbitante de inimigos se compararmos aos últimos títulos como RE5 e RE6. Aqui iremos enfrentar, além da já demonstrada família Baker, alguns inimigos biológicos que, de certa maneira, têm características físicas similares a inimigos de títulos passados. Mas fica o relato de que a família Baker consegue ser tão assustadora quanto qualquer Nenemis, Dr. Willians ou Mr. X.

Gráfico 99% realista, perfeito, mas aquele 1% de serrilhado é aparente

Assim como eu citei no início, a escolha da câmera em 1ª pessoa foi desenvolvida em benefício da realidade virtual, que não ficará restrita ao PlayStation 4. A Capcom, por sua vez, desenvolveu uma nova engine exclusivamente para RE7, denominada de RE Engine. O detalhe dessa escolha é que existe uma diferença bem considerável entre os consoles. No que se refere a paisagem (entre outros elementos que fazem parte do cenário do game), eles estão de fato impecáveis. A ambientação está ultrarrealista, mas, infelizmente, ao se observar de perto alguns objetos, nota-se uma textura com a aparência meio plastificada. O maior problema está no cabelo de Mia, onde é perceptível um serrilhado gritante na versão jogada no Xbox One.

O terror ao pé do ouvido

A sonoplastia é um dos pontos mais altos da jogatina em RE7. De fato, o elemento que torna a experiência sensitiva muito mais agradável (dito isso, me refiro a imersão ao terror e o medo). É na parte sonora onde habita o maior trunfo do game. Todos os efeitos sonoros foram muito bem sincronizados com os acontecimentos que lhe são apresentados. E isso não se aplica somente à trilha, que se encaixa perfeitamente em momentos que vão desde o extremo suspense a até a suave cena da sala de Save, que traz uma notável sensação de segurança, mesmo que momentânea. Existem detalhes sonoros como o vento batendo na janela, os passos dos inimigos do outro lado da parede, trovões, entre muitos outros, são executados com maestria e determinam a qualidade da experiência no game. Para os fãs e gamers mais old school de Resident Evil, há um puzzle em que você surtará com os sons das teclas digitadas, mas infelizmente o característico “RESIDENT EVIL” narrado na tela de início dos títulos passados acabou ficando de fora.

VEREDICTO

A Capcom está de parabéns com esse novo título. Há muito tempo esperávamos por um Resident Evil que trouxesse de volta toda a mitologia do universo que o cerca. Você levará sustos, sentirá medo, talvez entre em pânico em alguns momentos. De fato, esse novo título entra para história do mundo gamer com uma volta por cima triunfal. Resident Evil VII: Biohazard tem cara e personalidade de Resident Evil.

TRAILER


Everton Duarte

Paulista, jornalista em desenvolvimento, amante do mundo geek, co-fundador e editor-chefe do Ultraverso. Busco sempre o melhor em tudo o que me proponho a fazer.
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