REVIEW | ‘Tales of Berseria’ ou ‘Invocação do Mal’ de William Peter Blatty?

Stenlånd Leandro

Hoje em dia há muito o que se falar sobre o terror nos jogos quando muitos deles são baseados em seus filmes, HQs, séries etc. Se olharmos para o passado e buscarmos algumas referências oriundas de longas-metragem, podemos lembrar de Doom, Resident Evil e até mesmo o famoso Evil Dead, que saiu para Playstation 1, 2 e Xbox. Visto por esse lado, o gênero do terror é muito sensitivo para aqueles que realmente não podem sequer ouvir uma porta rangendo devido à mesma estar velha demais para se eximir de ruídos. Tales of Berseria tem um lindo início de trama e que arrepia também por lembrar muito, em certos momentos, os filmes “Invocação do Mal” ou “Exorcista”.

A continuação do game Tales of Zestiria, lançado para PS4, tem uma história envolvente e forte sobre uma mulher intensamente empenhada em vingar-se pela morte de seu pequeno irmão. A maior força da trama em si reside na sua capacidade de contar um tipo diferente do usual nos jogos provindos da série. Seja Tales of Symphonia ou Tales of Zestiria, Tales of Xillia ou qualquer outro, o atual título lançado pela Bandai Namco em solo tupiniquim mostra ao invés do espírito animado e otimista que qualquer um espere dos jogos da franquia, as partes mais escuras do coração humano. Na verdade, acompanhar a história de Velvet e sua equipe, sendo ser vistos até como vilões (ou talvez anti-heróis), e que possuem metas que passam longe do tradicional “salvar o mundo”, pode ser arriscado. O principal objetivo de Velvet é a vingança sobre aqueles que lhe tiraram tudo o que amava, e esse desejo de vingança era tão grande que acabou transformando-a em um demônio que possui uma mão estranha, que lembra até Gabriel do jogo Castlevania Lord of Shadows.

A trama segue sempre no sentido de haver um demônio e, para isso, um exorcista se faz necessário. Ao contrário do imaginário, Velvet é um demônio indo atrás de um exorcista, sendo assim, imagina-se que o o bem não vencerá o mal, correto? Velvet Crowe e seu irmão mais novo Laphicet são salvos por seu suposto ‘irmão’ Artorius de um evento demoníaco conhecido como Scarlet Night. Ao mesmo tempo, Velvet chega bem na hora para ver Laphicet sacrificado por ele como parte de algum ritual místico que, até então, deixa você a ver navios. Há então um certo embate em formato anime entre Artorius e Velvet. A protagonista transforma-se mesmo em uma criatura demoníaca, matando seus companheiros aldeões antes de ser despejada em um calabouço.

Anos após o incidente, os três estão vivendo juntos como uma família. A protagonista tem sido treinada na arte da batalha por Artorius em uma vida pacífica em seu pequeno vilarejo. Devido à Scarlet Night, os moradores da vila se transformam em demônios. É praticamente isso: se você matar um demônio, estará automaticamente aniquilando um humano. O tema do jogo, em si, é basicamente a razão contra a emoção, criando um ambiente onde há muito drama, muitas lágrimas, mas também a tensão de uma ‘bela’ aventura com temática de terror e suspense.

Durante essa incrível jornada no mundo da fantasia, vamos conhecendo os ‘ditos’ novos ‘amigos’ de Velvet, como a Malak chamada Seres, que antes foi uma defensora de Artorius, pela qual Velvet vai em busca. Entre outros amigos de jornada estão Eizen, Magilou (que é a comédia do jogo) e o demônio de guerra Rokurou. Basicamente, o mundo entrou em caos total e, mesmo assim, os laços que unem esse grupo ameaçam se desfazer quando a busca pela verdade na morte do irmão de Velvet pode vir à tona.

Poucos devem ter essa informação, mas Tales of Berseria foi lançado – também – para Playstation 3 (somente no japão). Mas isso nada remove suas qualidades, inclusive graficamente falando. O game é altamente bem produzido e bonito. Todos os principais pontos desse universo são muito bem detalhados. O título possui cutscenes que utilizam âncoras provindas de anime e isso o deixa cada vez melhor. Os movimentos das animações lembram muito Naruto e, por diversas vezes, o que pudemos ver no anime de One Piece.

O combate e sua jogabilidade continuam praticamente a mesma coisa, mas com algumas melhorias. Em Berseria, a maior mudança é a barra ‘Soul Gauge’, que determina quanto tempo você pode atacar um oponente, seja ele demônio ou não. Claro que esse ‘limite’ imposto pela barra inclui magia e seus respectivos combos. Essa barra, a princípio, parece incômoda, mas ela pode ser aumentada e vai variar de acordo com cada inimigo, até mesmo com o cansaço da personagem, visto que durante o jogo você tem a opção de descansa-lo. Se você planejar com antecedência poderá inclusive incorporar certas habilidades especiais de outros personagens no decorrer da trama e desencadear ataques mais poderosos. Isso é bom no começo, mas ainda é fundamentalmente o mesmo sistema que tem sido usado em outros jogos da franquia. O jogador também terá a experiência de viajar certamente por lugares encantadores com certos puzzles que lhe prenderão em certos cenários. Exemplo disso é a quantidade de portas a adentrar, porém somente uma é a saída e acaba que, quem tiver esse contato direto, consequentemente, poderá perder sua paciência com o game em certos momentos.

É um sistema de batalha divertido que fica melhor à medida em que você terá contato com os personagens, conhecendo as possíveis modificações do personagem, novas habilidades, capacidade de manter seus bônus de combo e especiais, dentre outros detalhes. O contato com alguns itens pode ser frustrante, entretanto, um, em especial, chamou muito minha atenção: há uma erva que, ao ser coletada de alguns monstros derrotados, fazem com que haja uma recordação direta de uma série em específico. A tal erva em questão chama-se ‘Verbena’, que é utilizada, por exemplo, na série The Vampire Diaries com intuito de ser uma espécie de alho para exorcizar/expulsar vampiros. No jogo, infelizmente, ela não possui essa utilidade, sendo somente de uso para uma espécie de heal dos protagonistas. Não houve sequer contato algum com supostos ‘livros’ de exorcismo, visto que o jogo possui demônios. No entanto, não foi necessário isso, uma vez que há diversos exorcistas espalhados pelos mapas durante a incursão no game.

A trilha sonora é legal e muito bem composta, apesar de simples e não ter a mesma qualidade do visual. A dublagem em inglês é bem fraca, mas o jogo foi lançado com dual áudio, ou seja, logo no começo é possível optar pelas vozes originais em japonês, o que acrescenta vida e dramaticidade aos diálogos. É isso mesmo. A dublagem e as legendas merecem elogios. De certo modo, o contato com as legendas incomoda, como no uso da palavra GOLD, que é ‘traduzida’ para nossa língua como ‘GALD’… Tipo, você coleta loot (dinheiro) do chão e, de repente, aparece a mensagem ”Você obteve 50 Gald”. Estranho, não? Ainda assim, o game conta com a opção de escolher a dublagem original em japonês ou em inglês e possui interface completamente traduzida para português do Brasil. Isso é fenomenal!

O VEREDICTO

Em Tales of Berseria, a trama sempre será o destaque, independente de outros detalhes do jogo como gráfico, jogabilidade, trilha sonora etc. A franquia vinha definhando após Vesperia, que foi o título com melhor história até então. Mesmo com jogos como Tales of Xillia e Tales of Zestiria, que não tiveram tanto alarde, este título acaba dando uma sobrevida à franquia. O jogo introduz, enfim, um tom mais sombrio, com pitadas de terror e, ao mesmo tempo, sem deixar sua veia cômica de lado. Seria esse o melhor título da série Tales? A resposta é ‘SIM’. Esteja certo que o mesmo não reinventa totalmente o gênero, mas que se mantém no topo dos JRPG’s, se mantém! Totalmente recomendável!

‘TALES OF BERSERIA’ FOI TESTADO PELA EQUIPE DO BLAH CULTURAL NO PLAYSTATION 4. MÍDIA DIGITAL CEDIDA GENTILMENTE PELA BANDAI NAMCO.

TRAILER

Stenlånd Leandro

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
NAN