Richard Martin, um pouquinho de Brasil nos Estados Unidos
Cadu Costa
Viver da sua música pode parecer distante para muitas pessoas, mas desistir não é uma saída para o cantor Richard Martin.
Nascido em São Paulo, o jovem de 28 anos escolheu a música country como paixão e decidiu arriscar tudo ao morar fora do Brasil para conseguir realizar esse sonho.
E qual lugar seria melhor para um cantor country mostrar o seu trabalho do que a cidade berço do estilo? Sim, é claro que Richard Martin se mudou para Nashville, Tennessee, EUA, baby!
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E é de lá, do lar onde grandes nomes da música country fizeram sucesso mundial (eu ouvi Johnny Cash, Willie Nelson e Dolly Parton?) que o ULTRAVERSO conseguiu falar com esse promissor artista sobre sua história, o momento da música atual em meio à pandemia e de sua relação com a cidade americana. Essas impressões de Nashville, inclusive são o tema central do seu EP “Demonbreun Diaries” que deve sair muito em breve.
Então, confira a seguir nossa entrevista EXCLUSIVA com Richard Martin:
ULTRAVERSO: Você tem uma carreira que está crescendo nos EUA. Como começou a sua trajetória?
Richard Martin: O começo da história da música na minha vida foi bem por acaso. Um primo meu ganhou um violão, mas preferia ganhar um boneco. Então trocamos de brinquedo. Pouco depois, alguns amigos meus começaram a tocar. Eu tinha uns 9, 10 anos de idade. Aí comecei a aprender, pegando o jeito, montei as primeiras bandas.
Chegou uma hora que a mudança para os Estados Unidos virou uma possibilidade e decidi vir, pois queria aproveitar a oportunidade para mesclar a música brasileira com a norte-americana. Eu tenho um sonho de ser uma espécie de representante do Brasil nos EUA.
Eu acho o Brasil um país muito grande para não ter um expoente no Estados Unidos ainda. Agora tem a Anitta indo bem, mas, até aquela época, não existia ninguém que se destacava.
Quais as influências, inclusive brasileiras, que você carrega no seu som?
Eu trabalho com o produtor brasileiro do Jorge & Mateus, que é um grande amigo meu. A gente faz até umas músicas juntos. Nada foi lançado ainda com ele, mas já temos canções gravadas.
Eu sempre gostei muito de sertanejo, dos ritmos brasileiros. Eu acho que o Brasil tem um ritmo e uma melodia muito interessantes. Os americanos ouvem algumas músicas brasileiras e dizem: “nossa, muito mais legal que o nosso som!”. Eu sempre quis mesclar.
Cresci ouvindo música country por influência de um primo. Ele gostava muito de Alan Jackson e Garth Brooks, por exemplo. Mas também passei por uma fase do rock quando estava tocando guitarra. Então cresci ouvindo esses estilos.
O seu som está bem focado na música country americana. No entanto, seus trabalhos mais novos têm uma veia pop. Então, quem é o verdadeiro Richard Martin?
Essa é a proposta do novo EP que estamos trabalhando, “Demonbreun Diaries”, de 6 faixas. É exclusiva isso! Não tenho data precisa de quando vai sair, mas deve ser logo em breve. Terá música nova sendo lançada no mês que vem.
Demonbreun é uma rua muito famosa de bares aqui em Nashville, só que apenas o pessoal local frequenta. Os turistas vão mais ao centro, onde tem as bandas covers, vários barzinhos.
Então, a ideia era pegar as influências da região, porque eu via muito mais gente aqui, em Nashville, fazendo música pop, rap, música eletrônica, fazendo coisas diferentes. Buscando outros sons e novidades, bem diferente do tom tradicional country que mostramos para os turistas. Assim, o meu disco vai ter muito disso. Não sou só country, chapéu de caubói e bota.
A mudança para os EUA fortaleceu a sua cultura musical?
Sim. Foi uma coisa que mudou muito a minha vida, porque eu tinha 16 para 17 anos. Fui morar com uma outra família, a princípio, e depois morei sozinho num país diferente, com uma cultura diferente. Então fortaleceu muito em questão de vida e entender que muitas coisas que são óbvias pra gente no Brasil não são para os americanos.
Também tem muita a questão de que os próprios brasileiros se desvalorizam, dizendo que a música americana é muito melhor. Mas tem coisas boas de cada lado, sendo genuinamente culturais. Nem melhor nem pior.
Como você está construindo essa carreira?
Acho que está no começo ainda, mas está indo muito bem. Muita gente pensa em comprar “plays”, seguidores, entretanto, eu sempre achei que era desnecessário, que atrapalhava mais que ajudava, porque dá uma falsa impressão de que você está indo bem.
No final das contas, a única estatística que vale a pena, que realmente faz sentido, é o número de fãs, de discos, de consumo verdadeiro. Então vamos um por um, conhecer todo mundo que me manda mensagem, todo mundo que fico sabendo que ouve. Agradeço todos. Essa foi a estratégia que eu preferi adotar, de ter conexão direta com as pessoas, de tratar não como fãs, mas como amigos.
O seu foco será sempre nas músicas em inglês?
Então, eu tenho uma ideia de fazer algum dia uma parceria com artista brasileiro. Ele cantaria a versão dele em português e a minha parte seria em inglês. Também tenho uma influência do k-pop que eles cantam trechos em inglês e em coreano. Eu pensei: “por que não?”.
Eu tenho essas ideias, mas, no momento, acho que ainda não está na hora de fazer isso. Sempre penso no sentido fazer o que é certo para a música. O arranjo certo, o artista certo…
Aqui em Nashville, a gente tem muito foco na composição. Às vezes, a música é muito boa, mas não encaixa com a voz de determinado artista. Assim, eu tenho sempre esse cuidado de fazer o certo para aquela situação específica.
Como foram recebidas as músicas “Rebound” e a mais recente, “Drinking Games”?
Antes delas eu lancei um EP de músicas que eu tinha escrito para outros artistas em Nashville, nos meus primeiros anos aqui, enquanto terminava a minha faculdade de Produção e Music Business. Então, peguei as que não foram gravadas e produzi meu primeiro EP, até para o pessoal me conhecer.
“Rebound” foi a primeira música onde me identifiquei plenamente: “esse é o som do Richard Martin, o som que eu gosto”. A primeira impressão foi muito boa, a recepção foi muito positiva. Eu diria que é uma crescente a cada vez que eu lanço uma música nova, cada vez que eu posto um vídeo.
A canção, especificamente, tem uma história “engraçada”. Porque a “Rebound” fala sobre o término de um relacionamento e já ter outra pessoa esperando. Eu escrevi a música para uma amiga de composição, mas não sabia que ela estava terminando um relacionamento, ou seja, casou com o momento dela. Eu queria um som country, mas puxado um pouco para o R&B, algo que os americanos estão um pouco mais familiarizados.
Por outro lado, na “Drinking Games” fomos mesmo para onde eu quero ir, que é essa questão do reggaeton latino. Misturar um sertanejo meio pop com o country. E o pessoal gostou muito.
Um dos objetivos que eu tinha era de que as pessoas achassem um som diferente de tudo o que já ouviram. Que achassem comercial, viável, mas, ao mesmo tempo, achassem distinto.
Eu sempre tive a ideia de ser o melhor numa “coisa estranha”, digamos, e o pessoal pegar o gosto pela coisa. Por exemplo, Billie Eilish, que ganhou vários grammys, e é uma música relativamente estranha para os “padrões comerciais”.
A “Drinking Games” é sobre uma brincadeira comum nos Estados Unidos, o beer pong, certo?
Fala de vários, na verdade. Tem três jogos que eu cito na música: flip cup, que ainda não pegou no Brasil; corners, que é onde a pessoa joga moeda na mesa e cai dentro do copo; e beer pong, onde tem que acertar a bolinha de ping-pong na cerveja do outro e beber.
Então “Drinking Games” fala dessa brincadeira, de jogos de bebida num ambiente de bar. Na verdade, é uma menina que está bebendo e flertando com você. Apesar de ser do ponto de vista do homem, a mulher é a protagonista. É meio que um duplo sentido.
Por fim, um dos setores mais afetados pela pandemia foi o da música. Como você imagina o cenário atualmente?
Vou responder em duas partes: opinião pessoal minha e análise que eu tenho sobre a indústria, sendo tanto músico como profissional do meio.
Minha opinião pessoal: saúde vai acima de tudo nesse sentido. Já tive várias discussões, discordei de vários colegas meus que, infelizmente, aqui nos EUA, muitos dependem da música ao vivo, tocam em barzinhos.
Os americanos nunca passaram por necessidade de não conseguir trabalhar, não ter uma forma de renda, porque é um país muito estável. Então o pessoal está desesperado aqui, quer abrir tudo e eu acho isso completamente errado. Tudo tem que ter um tempo.
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No Brasil e nos Estados Unidos, os governantes agiram muito mal, tiveram atuações muito fracas. Eu cito como exemplos países asiáticos que, desde o começo foram afetados pela pandemia, como Coreia do Sul, Japão, até a própria China, e tomaram medidas muito melhores para conter a situação. Tanto é que, hoje em dia, já estão tendo uma volta mais tranquila.
Sobre a indústria, não podemos pensar só de uma maneira. Só fazer dinheiro com shows, só vamos lançar disco dessa maneira… eu acho que a gente tem que evoluir. Não acho que a pandemia mudou o jeito que a música é, mas acelerou o processo que já vinha numa crescente.
Essas lives online já existiam. O pessoal apenas não explorava e teve que fazer isso. Então, temos que nos adaptar, nos prevenir contra esse tipo de problema. Lógico que isso nunca vai substituir os shows ao vivo, porque não dá para piratear, você tem que estar na apresentação, estar fisicamente lá. Mas temos que pensar outras maneiras de fazer isso.
Mas não é o momento de termos shows ao vivo. Não é hora de abrirmos dessa maneira. Infelizmente, as duas populações, tanto aqui quanto aí no Brasil, não levam muito a sério a pandemia. Então é difícil esperar que as pessoas sejam responsáveis.
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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Corrente do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!
Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho.
Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail wilson@ultraverso.com.br! Aquele abraço!