Com promessa de resistência, encerramento do Rio Fantastik Festival consagra ‘A Sombra do Pai’

Wilson Spiler

Não teve nada de terror no encerramento do Rio Fantastik Festival 2018, muito pelo contrário. A “fantástica”  (para ficar no trocadilho) noite foi de festa na entrega dos prêmios para os melhores do evento, que consagrou “A Sombra do Pai” como o grande vencedor.

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O filme de Gabriela Amaral Almeida levou os troféus Cramulhão em quatro categorias: Melhor Filme, que foi escolhido tanto pelo Júri Oficial – formado pela atriz Alessandra Verney, pelo diretor Hsu Chien e pelo roteirista Rodrigo Lages – quanto pelo da Crítica – integrado por membros da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ), como Ana Rodrigues, Bruno Giacobbo (que é crítico do BLAH!), Francisco Carbone, Graça Paes e Zeca Seabra; Melhor Diretor (a diretora, inclusive, já havia sido premiada no ano anterior como Melhor Roteirista por “O Animal Cordial”); e Melhor Ator (Julio Machado). “Morto Não Fala”, de Dennison Ramalho, também se destacou com dois importantes prêmios: Melhor Diretor (pelo Júri da Crítica) e Melhor Atriz, para Fabíula Nascimento.

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Idealizador do festival, Mario Abbade falou sobre as dificuldades de se fazer cinema no Brasil (Foto: Wilson Spiler / BLAH!)

Idealizador do Rio Fantastik, Mario Abbade, crítico de cinema e jornalista, falou como é difícil realizar um evento deste tipo no Brasil e como adotou medidas para evitar que algum filme deixasse de ser exibido.

– Eu estive no Festival do Rio agora e a primeira sessão de “A Casa que Jack Construiu”, um filme do Lars Von Trier, um diretor consagradíssimo, que as pessoas vão assistir, num domingo à tarde, na Gávea, tinha quatro fileiras vazias dentro do cinema. Para vocês verem a crise que está. As pessoas, infelizmente, não estão tendo dinheiro para ir ao cinema. Então, às vezes, você faz uma sessão que tem quatro, cinco, seis, dez pessoas, mas é importante a gente fazer mesmo tendo apenas uma única pessoa. A gente não pode deixar de exibir o filme.

Mario destacou ainda que, mesmo diante de tantos obstáculos, é preciso resistir. Ele ainda afirmou que o melhor para que todos ficasse satisfeitos.

– Resistir no computador, no Facebook, mandando mensagem, é uma coisa. Eu acho que resistir é você ir para o cinema, programar um filme, mesmo contra tudo e contra todos, e passar esse filme mesmo que tenha uma única pessoa dentro do cinema. Eu acho que resistir é fazer um ato e não ficar só no diálogo e na fala. A gente fez o melhor para que todos os realizadores ficassem satisfeitos.

Dono do Cine Joia, Raphael Aguinaga elogiou os filmes exibidos no festival (Foto: Wilson Spiler / BLAH!)

Ao obter a palavra, Raphael Aguinaga, administrador do Cine Joia, espaço onde os filmes do Rio Fantastik foram exibidos, e organizador do festival, enalteceu a qualidade dos trabalhos selecionados.

– Fiquei impressionado com a qualidade das produções e acho que o brasileiro é muito criativo, consegue fazer coisas maravilhosas, principalmente quando ele não tem recursos, Acho que o que vai abrir as portas para a gente lá fora é exatamente esse gênero, porque, para ganhar da gente na criatividade, vai ser muito difícil.

Aguinaga também chamou a atenção para o conservadorismo e deixou o convite para a quarta edição do Rio Fantastik, em 2019.

– Queria fazer também uma menção de um sinal de mudança de tempo, né? Hoje, a gente está aqui entregando a premiação num festival de gênero, nichado, com a presença do presidente da Ancine é uma honra, um orgulho e um prazer muito grande. Queria deixar o convite para a quarta edição do Rio Fantastik, para a gente ir com mais força no ano que vem, atingir mais gente e trazer mais produções.

Christian de Castro Oliveira, presidente da Ancine, elogiou a iniciativa do Rio Fantastik (Foto: Wilson Spiler / BLAH!)

O presidente da Agência Nacional do Cinema, Christian de Castro Oliveira, citado na fala de Aguinaga, também falou sobre as dificuldades de se produzir no Brasil, elogiou a iniciativa do Rio Fantastik e prometer trabalhar cada vez mais para que o cinema brasileiro obtenha mais recursos.

– O brasileiro sabe fazer filme. A criatividade e a diversidade, a gente tem. Nós conseguimos fazer filme com muito pouco recurso. Então, o meu trabalho é a gente procurar fazer com que a gente tenha cada vez mais recursos para fazer cinema de gênero porque esse é o que vai fazer a gente crescer como cinematografia, não só local, mas também internacional. A oportunidade está aqui, terceira edição, cada vez mais forte, uma cinematografia diversa, novos cineastas… a ideia é a gente trabalhar para que isso não seja a exceção e que a gente, cada vez mais, tenha isso cada vez mais presente com a capacidade que a gente tem de entregar.

Luciana Paes, atriz de ‘A Sombra do Pai’, brinca com o troféu Cramulhão (Foto: Wilson Spiler / BLAH!)

Diante das promessas de resistência e da continuidade do trabalho, além da revelação de uma nova edição do festival, como bem disse Luciana Paes, atriz de “A Sombra do Pai”, em um de seus discursos: “Vida longa ao Rio Fantastik”.

Confira todos os premiados:

JÚRI OFICIAL

  • Longa:

Melhor Longa-metragem: “A Sombra do Pai”, de Gabriela Amaral Almeida
Diretor Longa-metragem: Gabriela Amaral Almeida por “A Sombra do Pai”
Atriz: Fabíula Nascimento por “Morto Não Fala”
Ator: Julio Machado por “A Sombra do Pai”
Menção Honrosa para a Fotografia: “O Barco”, de Petrus Cariry

  • Curta:

Melhor Curta-metragem: “Para minha gata Mieze”, de Wesley Gondim
Diretor Curta-metragem: Armando Fonseca, Raphael Borghi por “A Última Cova”

  • Voto Popular:

Longa-metragem: “Christabel”, de Alex Levy-Heller
Curta-metragem: “Lilith”, de Edem Ortegal

JÚRI DA CRÍTICA

  • Longa:

Melhor Longa-metragem: “A Sombra do Pai”, de Gabriela Amaral Almeida
Diretor Longa-metragem: Dennison Ramalho por “Morto Não Fala”
Menção Honrosa para a Fotografia: “Los Silencios”, de Beatriz Seigner
Menção Honrosa para Efeitos e Maquiagem: “A Mata Negra”, de Rodrigo Aragão

  • Curta:

Melhor Curta-metragem: “Para minha gata Mieze”, de Wesley Gondim
Diretor Curta-metragem: Edem Ortegal por “Lilith”

Homenageado: cineasta Ivan Cardoso

Veja o álbum de fotos do evento:
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.2294806817220079&type=1&l=7e99763ee6

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
NAN