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Foto: Marco A. Teixeira -TexBank Image / ULTRAVERSO

Os erros e acertos (?) do primeiro final de semana do Rock in Rio 2022

Cadu Costa

Enfim, vai começar mais um final de semana com pontos positivos e negativos do Rock in Rio 2022. E entre mortos e feridos nos primeiros shows, salvaram-se todos. Mas será que salvaram mesmo? O que funcionou de fato? E o que foi um completo desastre? Com vocês, nossa avaliação sobre o Rock in Rio até aqui e o que esperar das próximas apresentações.

Pontos negativos do Rock in Rio 2022

BRT

Vamos começar falando mal…rs. Na verdade, sobre tudo que não funcionou. E foram muitas coisas. Para começar, a chegada. O que foi isso? Desde o primeiro anúncio de que não teríamos mais o BRT – que tão perfeitamente funcionou em edições anteriores – para a chegada na Cidade do Rock, o público ficou com um pé atrás. Ainda mais por conta da notícia sobre um novo meio de transporte exclusivo para o Rock in Rio chamado Rock Express ao valor de R$ 22 por dia. E nem vamos incluir aqui o Primeira Classe ao custo de R$ 125. Paga quem quer.

Mas quem teve a ideia brilhante de tirar um transporte funcional da cidade do Rio de Janeiro para colocar outro que sequer funciona satisfatoriamente? Logo que você sai do metrô na estação terminal Jardim Oceânico, o caos se instala. Muitas pessoas sem saber para onde ir, sem saber o que fazer, onde entrar…a perfeita definição do “mermão, erramos rude”.

Rock Express

Se tem algo que a gente gosta é saber entrar e saber sair. Se entrar já estava difícil, a volta então era triste. A fila do Rock Express para quem retornava era digna de condenados indo para o presídio. Com chuva ou sem chuva (tempos distintos no final de semana passado), a impressão era a mesma. Não estavam preparados para assistir 100 mil pessoas por dia, coisa que o BRT faz na casa dos milhões diários.

Ah, mas então vou de Uber. Esqueça! Após andar 30 minutos da Cidade do Rock até o espaço destinado exclusivamente ao app de motoristas particulares, deparamos com mais gente confusa, mais bagunça sem sentido e carros com preços acima dos R$ 150 para te levar somente até o metrô mais próximo (WTF?!?)!!! Vimos uma pessoa que mora na ilha, topar pagar R$ 300 por conta do filho cansado e tossindo na chuva: “Pra mim, essa experiência já deu. Rock in Rio nunca mais!”. Talvez seja isso que os organizadores queiram. Filtrar o público, tirar o povo de acesso à cultura como já fazem nos estádios de futebol.

Por quê?

Sim, porque a visão aqui era clara até para quem é cego: na esperança de lucrar ao máximo, tiraram o transporte mais econômico e viável , que faz o trajeto diário ao local, para colocar outros com pagamento somente online com preços inviáveis como os ingressos e sobretudo, testando a paciência do brasileiro. Do gringo também, diga-se como disse o francês Guillaume Perte: “Na França, temos espaço para estacionar ou o transporte vem incluído no ingresso”.

Sim, esse é outro detalhe que deve ser mencionado. Se você tem a ‘brilhante’ ideia de tirar um BRT que funcionou perfeitamente em edições anteriores para colocar seu carro exclusivo, por favor então, embuta isso no preço do ingresso se o usuário quiser. Porque pagar R$ 700 diários para ver um festival e sequer ter o transporte incluído é o máximo da soberba e de querer ganhar dinheiro de forma vil.

Se alguém queria um estudo sobre o capitalismo, bastava ir a qualquer dia do Rock in Rio de semana passada para entender o sentido do “Manifesto Comunista” de Karl Marx.

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Tratamento com a imprensa

O tratamento com os jornalistas merece um capítulo à parte. Independente se você cobre um festival da magnitude de um Rock in Rio ou a banda do seu primo tocando no chá de 90 anos da vovó, o mínimo que se espera é estrutura e apoio para executar o nosso trabalho.

Todo um trabalho sério é feito para que tenhamos a chance de levar para nosso público – que são limados do festival pelos motivos acima – reportagens bacanas, vídeos legais e muita informação. Quem foi aos shows também quer ver o que falamos do seu artista favorito, se tivemos a mesma impressão que ele sobre a apresentação e tudo o mais.Então, se trabalhamos duro para ter a chance de estarmos no Rock in Rio, porque quando conseguimos somos tratados como um mero detalhe? Ou o Rock in Rio seria alguma lá em 1985 – mundo sem internet – se não fosse a cobertura da imprensa?

Para quem não sabe, foi em abril de 1974 que Alice Cooper fez seu primeiro show no Brasil e que teria sido o marco zero dos megaconcertos e festivais no país. Justamente por conta da falta de cobertura da imprensa, o mercado não entendeu o apelo e somente um certo empresário – que havia ido nesse show da Tia Alice – entendeu que havia um nicho ali ansioso por mais eventos daquele porte. Só era preciso aumentar a divulgação. Nascia então o maior festival do mundo.

Falta de internet

Assim sendo, por que diabos ter uma sala de imprensa feita para jornalistas trabalharem sem internet? Ou ainda com acesso privilegiado à imprensa patrocinadora? Ninguém aqui quer bater de frente com a Globo pois ela é o que é por méritos próprios. Mas porque não tratar os coleguinhas como iguais como nós nos tratamos na sala? Só porque não temos milhões de seguidores em redes sociais? Isso faz um bom jornalismo? Talvez o mundo esteja como disse o ator Denzel Washington uma vez, estamos no tempo da desinformação, dane-se a verdade e o bom trabalho, o importante é ser o primeiro e ter milhões de séquitos.

Van

Nem vamos mencionar a van dos jornalistas localizada num metrô desconhecido para a maioria dos cariocas e que não tinha corredor exclusivo e levava horas intermináveis para chegar comprometendo a paciência e consequentemente o ânimo para acompanhar as apresentações que viriam.

Mais pontos negativos

Agora vamos voltar ao tópico inicial. Concentrando-se agora na estrutura do Rock in Rio 2022, podemos ver que pouca coisa mudou das últimas edições para cá. Ninguém vai mais ao festival para ver as bandas e artistas, o lance é estar lá para dizer “Eu Fui”. Ou quem sabe dizer “Sou o otário que vendi um rim para estar aqui e tirar selfies para minha rede social na frente da roda gigante que não entrei e que nem sei quem é aquele pretinho bonitinho ali com a família cantando ‘Ah ah ah ah Que Deus deu, Oh uh oh Que Deus dá'”.

E sério? Quem faz a produção desse festival? Nem vamos entrar no mérito de terem chamado Guns N’ Roses e Iron Maiden pela 369º vez. Mas para que chamar DJs para o Palco Mundo e ter uma pista eletrônica no mesmo evento enquanto você espreme gente do quilate de um Racionais MCs num Palco Sunset?

Palco Supernova

E o que foi o Palco Supernova? Ótima ideia criar mais um espaço para bandas e artistas se apresentarem, mas precisava ser num lugar cheio de cactos em volta? E o pior: colocar gente como Ratos de Porão, Matanza Ritual, MC Poze do Rodo – que no mínimo deveriam ir para o Sunset – num lugar desses e esperar que dê bom é confiar demais no ser humano. Local megalotado, som baixo e todo mundo saindo arranhado e tropeçando nas escadas que ficavam próximas.

Já o preço exorbitante das coisas é notícia velha e nem cabe mais menção. Só críticas ao (des) governo mesmo.

Pontos positivos do Rock in Rio 2022

Shows incríveis

Com tanta coisa ruim tendo acontecido, será que houve pontos positivos? Sim, os shows. Apesar de tentarem limitar os artistas de se posicionarem publicamente, FELIZMENTE, eles deram uma banana para a “recomendação”. Gente como Matuê, Emicida, Racionais MCs e até gringos como o vocalista Corey Glover, do Living Colour, deram a real e exaltaram o papel da democracia no Brasil.

Musicalmente falando também foi um – ah, trocadilho miserávi – show à parte. Nos primeiros dias, destacamos Black Pantera com seu trash metal preto e político abrindo o festival cantando em alto e bom som “Fogos nos Racistas”. Além deles tivemos o Sepultura tocando a 9ª Sinfonia de Bethoveen em ritmo de porrada na orelha, o Living Colour fazendo um show de juntar multidões e o Dream Theater surpreendendo quem não tinha muito apreço e confundindo a cabeça dos Tiktokers com suas músicas com duração de quatro dias.

Já no segundo dia, Orquestra Mundana Refugi, banda Malvada, MC Poze do Rodo, Criolo, Racionais MCs e Post Malone em diferentes palcos e momentos fizeram o melhor dia do Rock in Rio até aqui.

No último dia do final de semana passado, destaque para Gilberto Gil celebrando com a família, Emicida pedindo para a galera nunca esquecer que “Fora Bozo” é também no dia 02 de outubro, a maravilhosa Iza emocionando todos os presentes com sua mãe no palco e Demi Lovato mostrando que era “dia de rock, bebê”.

Expectativas

Para esse próximo final de semana, cresce a vontade para que os problemas estruturais sejam sanados. Sobre os shows, já sabemos o que esperar de Axl Rose e companhia, por isso olhos atentos para o Måneskin, CeeLo Green, Macy Gray e celebre os seus tempos áureos de adolescência com o Offspring, Greenday e o Coldplay.

Até a próxima, pessoal. Sim, vai ter próxima, se permitirem… e se tiver internet, claro.

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Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN