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Ruído Branco crítica do filme da Netflix 2022 (1)

‘Ruído Branco’ pode ser uma experiência única

Taynna Gripp

Por definição, um ruído branco é um sinal sonoro que contém todas as potências na mesma frequência, utilizado, quase sempre, com o intuito de relaxar ou proporcionar concentração prendendo apenas parte da sua atenção ali. Disponibilizado recentemente pela Netflix, o longa, que rouba o nome do recurso, tem Adam Driver como protagonista e é tudo de mais oposto ao título. O filme Ruído Branco (White Noise) é uma narrativa cheia de vozes destoantes, com muita coisa coexistindo, personagens únicos e problemas que todos temos, mas que, ali, na tela, parecem muito com algo impossível de acontecer. De fato, é quase difícil manter o foco no enredo com essa gama de acontecimentos aleatórios se misturando.

Adam dá vida ao professor universitário Jack, especialista em Hitler, e parte de uma família composta por sua esposa Babette e seus filhos (de outros casamentos e também do atual). A família de Jack é falante, pulsante, cheia de personalidade e é com ela que passamos todo o filme, acompanhando tramas que ora abordam uma catástrofe apocalíptica, ora o terror que acompanha boa parte de nós: o medo da morte.

Desconforto

No primeiro ato, existe um desconforto que se sente quando vemos muito de perto algo peculiar. Somos apresentados a cada membro da família e também ao círculo de amigos de Jack e à pacata vida que todos pretendiam ter para sempre, não fosse um acidente envolvendo um caminhão que transportava carga química e vagões de trem, causando uma grande nuvem radioativa e um acidente de proporções terríveis.

Todos são expulsos de sua vida, são obrigados a saírem de sua zona de conforto. E quando pensamos ser essa a premissa desse drama com pitadas de terror e forte presença de humor ácido de 136 minutos, o enredo muda o foco e se aprofunda, afunilando até unir as duas premissas centrais: o medo da morte que Jack passa a ter quando é exposto à nuvem tóxica e o mistério que acompanha a perda de memória recente de sua esposa Babette.

Noah Baumbach está longe de ser considerado um diretor clichê. Com “História de Um Casamento” trouxe uma trama familiar forte e densa e aqui não é diferente. Mesmo que a abordagem do tema pareça se tratar de qualquer coisa, menos de conflitos familiares. Em Ruído Branco existem tantas formas de se interpretar a história do casal principal, que cabe a cada um assistir e tirar as suas próprias conclusões. Afinal, diferente de algo científico, a arte é múltipla e toca a cada um em lugares exclusivos.

Medo da morte

Adam Driver está excelente aqui (o que já é um fato corriqueiro). Quando ele finalmente descobre o segredo que aflige sua esposa e o filme parte para o terceiro ato, temos uma visão tão ampla de quão atormentada por ser uma mente por algo tão real e assustador e óbvio quanto é a morte. A morte, aliás, definida no próprio filme como um ruído branco que nos acompanha durante toda nossa existência, ali, à espreita, prendendo parte da nossa atenção. Talvez ninguém almeje realmente morrer, e, para isso, seja capaz de matar partes preciosas até mesmo de si. Talvez, pela busca de se esvair desse medo sejamos capazes de coisas inimagináveis.

Uma crítica ao imediatismo, à sociedade doente que vivemos e que se medica freneticamente, ao terror da morte e à pouca profundidade de nossas crenças. Tudo isso colocado com bastante cor, falas, personagens, movimentos de câmera. Definitivamente não é um filme que vai agradar a todos, mas se você insistir e se permitir cair um pouquinho no buraco de minhoca filosófico que ele propõe, pode ser uma experiência única.