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Ruído crítica do filme da Netflix 2022 (1)

Que o ‘Ruído’ permanente nos tire da inércia

Taynna Gripp

Ruído (Ruido), lançamento da Netflix, é aquele filme que te incomoda já desde a primeira cena. Existe na ausência de trilha sonora, nos seus planos claros e, principalmente, na história da trama, que vai se desenrolando aos nossos olhos, aquele desconforto que tão bem designa a arte.

É uma obra criada para incomodar, para nos tirar da bolha de conforto, para que o nó na garganta que vai se formando ao longo dos 105 minutos culmine em um grito mudo, tal qual vemos Julia fazer em determinado momento da película latina.

Julia (Julieta Egurrola) é uma artista plástica que há nove meses não tem paz. Sua filha desapareceu e a polícia trata o caso com o pouco interesse que trata todos os desaparecimentos do país. Em busca de um paradeiro para encontrar ao menos um corpo para enterrar, Julia conhece a jornalista Abril (Teresa Ruiz), que dedicou sua carreira a investigar a pauta.

A amizade entre a artista e jornalista vai, aos poucos, desenrolando uma colcha de retalhos de crimes nunca solucionados. Ambas, cada uma por seus motivos, não conseguem descansar sem respostas. Enquanto Julia faz isso por sua filha perdida, Abril faz por sua filha criança, para que ela cresça em um país mais igualitário e menos assustador para o gênero feminino.

A luta que não acaba

Falar sobre a jornada de dor que a mãe vive é ser clichê. O filme não é só sobre isso. Existe um momento em que a própria mãe se vê no meio de outras tantas mulheres que buscam alguém. Afinal, enquanto homens descansam, mulheres jamais abandonam a busca pelo sentido de suas vidas, seja esse sentido um pai, um irmão, um filho ou filha.

Ambientado no México, Ruído é dirigido por Natalia Beristáin (filha de Julieta Egurrola) e tem o olhar que só uma mulher poderia ter sobre o desespero que é viver em um país em que corpos femininos são mutilados, estuprados, traficados. O movimento Ni Una Menos (#NenhumaAMenos) tem, inclusive, uma ou outra aparição em cena aqui, quando milhares de mulheres protestam, já no terceiro ato, contra a imensa taxa de feminicídios.

De acordo com o próprio longa, Ruído não é baseado em uma história real. Infelizmente, se inspira em várias histórias de mulheres desaparecidas. Seja em outras tantas que seguem procurando ou em outras que acabaram tendo o mesmo destino de Julia e de sua filha.

Grande crítica social e acerto da Netflix, a produção merece todo o barulho que está fazendo, como o próprio nome já indica. Que seja um ruído permanente que nos tire da inércia que vivemos.