‘Ruptura’ é a obra-prima da AppleTV Plus

Fábio

Quem não gostaria de ter aquele emprego dos sonhos? Onde você faz aquilo que gosta e ainda é remunerado por isso. No entanto, essa é uma realidade para pouquíssimas pessoas. A grande maioria, infelizmente, trabalha onde consegue uma vaga e, muitas vezes, odeia as (geralmente) oito horas por dia que passa no emprego. Mas e se, por um acaso, você tivesse a opção de dividir a sua consciência e, assim, separar a sua vida profissional da pessoal, sem que uma soubesse o que se passa com a outra. Pois essa é a premissa da brilhante ‘Ruptura’ (Severance), em cartaz na AppleTV Plus.

Criada por Dan Erickson e dirigido por Ben Stiller e Aoife McArdle, a série acompanha os passos de Mark (Adam Scott), que após passar por uma grande tragédia em sua vida pessoal, resolve fazer a tal ruptura para, pelo menos durante as oito horas em que estiver trabalhando, esquecer este drama e viver sem dor. Após ser promovido ao cargo de chefe do Departamento de Refinamento de Macrodados da misteriosa Lumon Industries, ele terá que treinar Helly (Britt Lower), a nova funcionária do setor que mudará a sua rotina, bem como a dos seus companheiros Dylan (Zach Cherry) e Irving (John Turturro).

Ruptura

Ódio ao mundo corporativo

De todas as críticas e reflexões propostas pela série, a mais voraz dela é o ódio explícito que o criador tem do mundo corporativo. Quem já passou por um emprego burocrático vai se identificar rapidamente com os funcionários da Lumon. Principalmente com Helly, que não faz a menor ideia do que são os tais refinamentos de macrodados e tão pouco qual o seu trabalho afinal. Ela apenas precisa apenas estar ciente de que ele precisa ser executado, por mais insignificante que seja e ponto final.

Outra bela crítica ao corporativismo é acabar com os discursos motivacionais que fazem parte do lado fantasioso desse universo. A realidade é dura e crua e a vida de quem apenas acorda para o trabalho é, na verdade, um grande inferno. Exatamente. Se por um lado a ruptura é uma dádiva para a consciência pessoal, por outro ela é extremamente miserável para a consciência profissional. Uma vez que ela fica presa naquele universo e toda vez que ela entra no elevador para sair do trabalho, ela retorna para a mesma rotina no exato momento que a porta do mesmo elevador abre novamente. Um looping infinito de uma vida infernal.

Empresa ou seita?

Erickson acerta em cheio ao nunca revelar realmente qual é a grande motivação ou objetivo ou finalidade da Lumon. O que ela produz, oferece além do bizarro tratamento ou o que ela desenvolve nunca é mostrado por completo. O criador nos oferece pistas sobre ela e, além disso, mostra como muitas vezes ela aparenta ser mais uma seita do que uma empresa propriamente dita. Basta ver como os funcionários são devotos da companhia, assim como do seu criador, o misterioso Kier Egan. Uma relação que até pode ser comparada com os fãs e funcionários da própria Apple e do seu fundador, Steve Jobs. Um golaço de placa marcado por Erickson.

Sem contar como o organograma da Lumon funciona. A hierarquia, os manuais, as regras, os “prêmios”, bem como as punições… tudo tem uma “arquitetura bíblica” que deixa o espectador e os funcionários desconfortáveis com tudo o que acontece dentro da empresa. Os líderes da corporação nunca aparecem na verdade. Apenas falam pelo telefone, através do “Conselho”, onde orientam a chefe imediata, Harmony Cobel (Patricia Arquette) que, por sua vez, repassa as ordens ao seu braço direito, o misterioso e assustador Sr. Milchick (Tramell Tillman).

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O despertar

A chegada de Helly ao setor de Refinamento de Macrodados acontece porque um dos funcionários, Petey (Yul Vazquez), simplesmente foi desligado da empresa do dia para a noite. Mas logo descobrimos que, na verdade, ele conseguiu reverter a cirurgia da ruptura e busca agora acordar desse pesadelo o seu melhor amigo do trabalho (Mark), que agora ocupa seu lugar como chefe do setor. Inconformada com o procedimento cirúrgico que o seu “outro eu” a fez passar, a nova funcionária vai lutar com todas as forças para que o seu outro consciente acorde desse pesadelo e tente reverter esse processo.

Escolhas perfeitas

A princípio, a trama da série pode parecer confusa. Mas tudo é muito bem amarrado pelo ótimo roteiro escrito pelo criador da série. E não para por aí. A direção de Stiller (que comanda seis episódios) e McArdle (que comanda os outros três) é magistral, assim como a linda direção de arte e fotografia e, o melhor de tudo, um elenco poderoso formado por ótimos atores (a maioria desconhecida do grande público) e uma dupla icônica formada por dois gigantes: John Turturro e Christopher Walken que protagonizam as mais belas cenas dessa primeira temporada da série.

Se você ainda não teve curiosidade em conhecer o catálogo da AppleTV Plus, Ruptura é a série que vai te fazer assinar esse serviço de streaming. Vale muito a pena.

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Onde assistir à série Ruptura?

A saber, Ruptura está disponível para assinantes da AppleTV Plus.

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 Trailer da série Ruptura, da AppleTV Plus

Ruptura (AppleTV Plus): elenco da série

Adam Scott
Zach Cherry
Britt Lower
Tramell Tillman
John Turturro
Christopher Walken
Patricia Arquette
Yul Vazquez

Ficha Técnica

Título original: Severance
Criação: Dan Erickson
Direção: Ben Stiller, Aoife McArdle
Roteiro: Dan Erickson,
Temporada: 1
Episódios: 9
Duração: 55 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: drama, suspense, ficção-científica
Ano: 2022
Classificação: 16 anos

Fábio

Santista de Nascimento, flamenguista de coração, paulistano por opção. Jornalista, assessor de imprensa viciado em cinema, série, HQ, música, games e cultura em geral.
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