‘Segredos Oficiais’ | CRÍTICA
Alvaro Tallarico
Segredos Oficiais é baseado em eventos reais e no livro “The Spy Who Tried to Stop A War”, de Marcia e Thomas Mitchell. Estados Unidos, Inglaterra, guerra do Iraque e uma mulher, Katherine Gun, vivida por Keira Knightley. A corajosa tornou-se mundialmente famosa ao divulgar informações confidenciais à imprensa sobre atividades ilegais dos Estados Unidos na tentativa de invadir o Iraque.
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Esse ano assisti outro filme cujo mote principal era uma mulher e a espionagem: A Espiã Vermelha. Esse último, entretanto, seguia um tom mais de romance, ao vermos os casos amorosos em que a espiã se envolveu e como isso afetou, ou não, suas escolhas. Contudo, sua defesa principal para vazar informações era uma busca pela paz, aparentemente. Algo em comum com Segredos Oficiais.
A princípio, Segredos Oficiais começa em 2004 mostrando a protagonista, funcionária do governo britânico, no tribunal, e depois retorna para 2003, para acompanharmos cronologicamente o que aconteceu até aquele momento. “Eu trabalho para o povo britânico. Eu não recolho informações para que o governo possa mentir para o povo britânico”, diz Katherine, com veemência, coragem e verdade.
Ela recebe um memorando confidencial sobre como os Estados Unidos solicitam ajuda do Reino Unido em busca de uma resolução da ONU em prol de uma guerra no Iraque e resolve fazer algo sobre isso. O processo legal contra Gun foi arquivado pelo governo britânico em 2004, após seu advogado, Ben Emmerson QC (interpretado com carisma e autoridade pelo ótimo Ralph Fiennes), ameaçar usar a divulgação para colocar em julgamento a base legal da própria guerra. Na vida real, Katherine foi forçada a abandonar sua carreira no serviço público e deixou a Grã-Bretanha. Hoje, vive na Turquia com o marido e a filha pré-adolescente.
doctor who contra segredos oficiais
O filme é dirigido por Gavin Hood de forma padrão, sem devaneios ou invenções, todavia consegue fazer o espectador pensar sobre ética e a importância do heroísmo individual, além da relevância da liberdade de imprensa e do jornalismo investigativo. Reprodução de releases? Isso não é jornalismo. Katherine atravessa algumas portas decisórias das quais não é possível voltar atrás, o que acaba por instigar alguns verdadeiros jornalistas do jornal The Observer, como Martin Bright, feito pelo décimo primeiro Doctor Who, Matt Smith, que impregna charme ao personagem. Keira Knightley, como de praxe, nos entrega boa atuação.
Ao mesmo tempo, Rhys Ifan enche o corretamente indignado jornalista Ed Vulliamy de vida. O longa-metragem segue naquele estilo que agrada principalmente os que gostam de boas histórias onde o jornalismo investigativo se esforça para trazer verdades à tona e proteger vidas inocentes. Aprendemos sobre decência, integridade, responsabilidade, e, acima de tudo, coragem. Afinal, no dia 31 de agosto de 2010, quando os últimos soldados americanos saíram do Iraque, 4.421 tinham morrido, sendo 3.492 em ação com quase 32 mil feridos (fonte: BBC). Sobretudo, entre 151 mil e 1 milhão de vidas iraquianas se acabaram por causa da guerra.
Foi isso que Katherine tentou impedir. Contudo, ela traiu seu país? A resposta fica clara durante a exibição e o diretor não apela para o maniqueísmo. Segredos Oficiais é contundente e necessário, principalmente no momento em que vivemos. A cena final fala mais sobre como o governo britânico tratou o caso dela. “O objetivo dos Governos é sempre o mesmo: limitar o indivíduo, domesticá-lo, subordiná-lo, subjugá-lo”, disse Max Stirner, filósofo alemão considerado um dos precursores do niilismo, do existencialismo, da teoria psicanalítica, do pós-modernismo e do anarquismo individualista.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Official Secrets
Direção: Gavin Hood
Elenco: Keira Knightley, Ralph Fiennes, Matt Smith
Distribuição: Diamond Films
Data de estreia: 31/10/19
País: Reino Unido, EUA
Gênero: Drama, Suspense
Ano de produção: 2019
Duração: 1h52min