Sepultura Sepulquarta crítica de álbum

‘Sepulquarta’: o encontro do metal pesado do Sepultura

Cadu Costa

A pandemia de Covid-19 foi uma grande desgraça para o planeta. Mesmo sabendo que o mundo realmente que criou esse momento, não podíamos deixar de ver o lado bom de certas coisas. Num momento de maior isolamento, artistas puderam se revisitar e o resultado pode ser melhor do que esperávamos. Vejam o Sepultura, por exemplo. Em vez de apenas sentar e fazer compras online, a banda começou a fazer um podcast com perguntas e respostas online. Eventualmente, convidando seus amigos para se juntarem a eles para uma jam online. A série de colaborações resultante ao longo do nefasto 2020, todas gravadas em suas casas, deu origem a um novo álbum do Sepultura com canções antigas: Sepulquarta.

Uma das coisas mais F*d@$ de Sepulquarta é quanto o vocalista Derrick Green reinterpreta clássicos do Sepultura. Seja de qual época for, inclusive a sua de quando entrou pra banda em 1998. Basta ouvir as novas versões do “Hatred Aside”, originalmente um dueto com o então baixista do Metallica, Jason Newsted, e “Sepulnation”, ambas originalmente do início do mandato de Derrick.

Convidados

Bom, varia. Apesar do nome, David Ellefson (ex- Megadeth) e Scott Ian (Anthrax) não adicionam uma gota de suor a “Territory” ou “Cut-Throat”. Muito menos Phil Rind, do Sacred Reich, em “Inner Self”. As músicas matam porque são matadoras e o rosnado gutural de Derrick soa bem em casa depois de anos ouvindo as versões de Max Cavalera.

No entanto, a entrada de Fernanda Lira (Crypta, ex- Nervosa), Angélica Burns (Hatefulmurder) e Mayara Puertas (Torture Squad) é onde tudo começa a ter uma cara real de inovação. Seus gritos únicos aos versos antes de realçar a seção tribal melódica soam como barulho dos bons, aquela porrada na orelha tão característica e que aquece o coração do metaleiro. Da mesma forma, Danko Jones realmente consegue agitar em “Sepulnation”, uma das faixas que agora soa até melhor do que a gravação original.

Participações inusitadas

E mais: os lendários bateristas João Barone (Paralamas do Sucesso) e Charles Gavin (Ex-Titãs) adicionam seu talento percussivo a uma versão selvagem de “Ratamahatta”. “Kaiowas” também apresenta outro momento mítico com o mundialmente conhecido guitarrista brasileiro Rafael Bittencourt duelando com Andreas Kisser por quatro minutos. Despojado de sua percussão, torna-se uma faixa realmente adorável em contraste com o bombardeio de metal de todo o resto. Ele abraça suas raízes culturais de uma forma que as outras versões não fazem e realmente usa os músicos com quem estão colaborando para levar sua música a uma direção diferente.

A faixa de encerramento “Orgasmatron” tem o ex-guitarrista do Motörhead, Phil Campbell, para juntar a versão original da música – pertencente ao próprio Motörhead – à versão de longa data do Sepultura (do disco “Arise”, de 1991).

Sepulquarta, novo álbum do Sepultura, é isso. Uma experimentação. É sobre aproveitar o momento e usar a tecnologia para lançar algo um pouco diferente e espontâneo de clássicos de uma banda gigante. Uma verdadeira explosão de fazer barulho distribuída em 15 faixas com uma hora de profundidade. Uma ode ao jeito Sepultura de fazer metal. Caia matando!

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Ouça Sepulquarta, novo álbum do Sepultura

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN