Cinco séries para celebrar o Dia da Consciência Negra

Fábio

Ao contrário do que o vice-presidente da República diz, o racismo existe no Brasil e temos a obrigação de combatê-lo diariamente. Assim como fizemos na música e no cinema, celebraremos o Dia da Consciência Negra no universo das séries, indicando cinco produções que servem de reflexão e conscientização para que você não repita imbecilidades por aí.

A Escuta

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Embora seja classificada como uma série dramática policial, The Wire é essencial para compreender a importância do Dia da Consciência Negra. Ela, a princípio, não se trata do racismo de maneira explícita, ela é uma produção que nos leva a refletir sobre o racismo estrutural. Ou seja, ela mostra o efeito das estruturas sistêmicas e institucionais da desigualdade racial e de riqueza sobre todos, e como isso influencia a população, principalmente a comunidade negra.

Retratando desde traficantes de drogas, bem como policiais, alunos, jornalistas até políticos que influenciam essa questão. Não há vilões ou heróis, mas em vez disso, esta que é, ao lado de A Família Soprano, a melhor série de todos os tempos, dá uma descrição realista das lutas das pessoas comuns que apenas tentam sobreviver em Baltimore (Maryland).

Onde assistir? HBO GO

O.J.: Made in America

Os bastidores de um dos julgamentos mais controversos na história é outro ponto de reflexão para o Dia da Consciência Negra. A princípio, trata-se apenas de uma série documental sobre O.J. Simpson, ex-jogador de futebol americano e astro de cinema que supostamente teria assassinado a esposa.

Motivo de sobra para ser odiado por toda a população, seu julgamento acabou se tornando uma nova ameaça de guerra em Los Angeles por causa de conflitos raciais. Apesar de ser um caso de crime passional, ele surgiu logo após dois casos que revoltaram a comunidade preta norte-americana. A saber, o de Rodney King. Um motorista de táxi que foi espancado por quatro policiais brancos que, posteriormente, foram inocentados por um júri branco ao alegar legitima defesa. Mesmo com imagens mostrando que ele estava ajoelhado e com as mãos por trás da cabeça quando o espancamento policial começou.

Por fim, temos o caso de uma jovem preta, adolescente, grávida, que após uma discussão com a dona de um estabelecimento comercial, acaba levando um tiro nas costas. A dona, de origem asiática, consegue liberdade condicional e paga apenas fiança irrisória.

Ademais, apesar de ser uma série documental, O. J.: Made in America concorreu e venceu o Oscar de Melhor Documentário.

Onde assistir? Vivo Play e ESPN

Watchmen

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Continuação da HQ homônima criada por Alan Moore e Dave Gibbons, considerada a melhor história em quadrinhos de todos os tempos, Watchmen é espetacular. Por outro lado, a série não fica atrás em qualidade e se passa 34 anos após os acontecimentos da graphic novel.

Em Watchmen, Angela Abar (Regina King) é uma detetive que atua como a justiceira Sister Night para investigar um antigo grupo de supremacistas brancos, mais conhecido como a Sétima Kavalaria. O bando se inspirou nos escritos do diário de Rorscharch, personagem da HQ clássica, que defendia absurdos como fazer justiça com as próprias mãos.

Ao investigar o caso, Angela descobre que aliados fazem parte desse grupo supremacista branco, bem como que seus antepassados lutam contra o racismo desde sempre. Seu avô, a saber, foi um sobrevivente ao Massacre de Greenwood.

Esse fato histórico realmente existiu e ocorreu entre 31 de maio e .1º de junho de 1921, no distrito de Greenwood, em Tulsa, que era a comunidade negra mais rica dos EUA. Ele foi invadido por supremacistas brancos, inconformados com o sucesso da comunidade preta, mataram homens, mulheres e crianças nas ruas, queimando e saqueando lojas e casas, pulverizando o distrito.

Onde assistir? HBO GO

Lovecraft Country

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Produzida por Misha Green, Jordan Peele e J.J. Abrams, a série de terror é baseada no romance “Território Lovecraft”, de Matt Ruff. Assim como no livro, a série usa elementos sobrenaturais do universo criado por H.P. Lovecraft (um dos maiores escritores de terror de todos os tempos e, a saber, um notório supremacista branco) com questões sociais para discutir o racismo norte-americano. Isso traz um paralelo interessante e bem triste, onde, para a população preta, os brancos são tão (ou até bem mais) perigosos que os “monstros lovecraftianos”.

Lovecraft Country  segue os passos de Atticus Freeman (Jonathan Majors), que na década de 1950 viaja pelos Estados Unidos regidos pelas leis segregacionistas, a princípio, para encontrar seu pai desaparecido. A viagem, realizada na companhia da sua amiga Letitia (Jurnee Smollett-Bell) e do seu tio George (Courtney B. Vance), exige uma luta pela sobrevivência tanto em frente aos horrores racistas da ‘América Branca’, bem como dos monstros assustadores que parecem terem saído de contos de terror do gênero Lovecraft.

Onde assistir? HBO GO

Olhos que Condenam

Por último, temos essa minissérie que é de embrulhar o estômago de tão revoltante, bem como injusta e racista. E, por fim, inacreditável que se trata de uma história baseada em fatos reais em um caso que ficou conhecido mundialmente como ‘Os Cinco do Central Park’ (Central Park Five).

Olhos Que Condenam conta a história de cinco adolescentes negros do Harlem, que a princípio estavam em um parque onde uma moça foi estuprada, em 1989. Interrogados sem a presença de pais ou advogados, sem ter nenhuma prova contra eles, foram coagidos e processados, bem como julgados e condenados por um crime que não cometeram.

Por fim, somente anos depois o verdadeiro estuprador confessou o crime. Seu DNA foi comparado ao colhido no local do crime e, dessa forma, os agora adultos foram inocentados e libertados em 2002. Os cinco carregam para sempre os traumas, a brutalidade, bem como a injustiça que sofreram e jamais se recuperaram totalmente.

Onde assistir? Netflix

Fábio

Santista de Nascimento, flamenguista de coração, paulistano por opção. Jornalista, assessor de imprensa viciado em cinema, série, HQ, música, games e cultura em geral.
NAN