Quarta temporada de Sex Education têm excelentes preliminares, mas termina em um coito interrompido
Pedro Marco
É tempo de despedidas para os grandes tesouros da Netflix, e antes que possamos ter nossa última aventura com os garotos e garotas de Hawkins, temos de nos despedir dos jovens cheios de hormônios de Moordale.
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Durante 4 anos, Sex Education nos levou a acompanhar as desventuras e descobertas sexuais de jovens (e adultos) extremamente cativantes e carismáticos, que com certeza nos deixarão saudades. Muito obrigado por isso. Com o quarto e último ano estreando nesta quinta-feira (21), após anúncios de parte do elenco de que não retornariam para uma possível quinta temporada, temos a confirmação de um ditado levemente alterado: “Dois é bom, e três é bom demais“.
Retomamos a história do ponto caótico em que ela nos deixou no ano passado. Jean teve um bebê, Meave está nos EUA, e os alunos de Moordale têm de procurar uma nova escola para terminar o ensino médio. A partir daí, embarcamos em um empolgante e ousado recomeço, ao estilo que Sex Education realmente dá aula de execução. Com a inserção do colégio Cavendish, temos uma espinhosa apresentação de pautas importantes da nova geração sendo levantadas, mas em subtexto mostrando que seu exagero ou extremismo pode ser falho, incômodo e estranho, mesmo para as pessoas mais envolvidas com a causa.
Como uma boa relação sexual, a série sabe começar com calma, e ir esquentando as coisas aos poucos até chegar no ápice. Mas como qualquer relação sexual, as coisas podem não sair como planejado.
Exaustão criativa
Com novos 8 episódios, a série criada por Laurie Nunn flerta com a exaustão criativa em seu ano final. Antes de nós despedirmos dos queridos personagens, demos adeus aos momentos grandiosos de drama, compaixão, amor e sororidade que nos fizeram amar a série. Desta vez, passamos por uma repetição de pautas, que em alguns pontos é apresentada de forma tímida, e em outros de forma confusa.
O difícil adeus à parte do elenco que saiu entre o terceiro e o quarto ano, acaba sendo acentuado por uma nova leva, com uma gigantesca importância de representatividade, mas uma infeliz carência de carisma. Por mais diferentes que possam ser para alguns olhares mais conservadores, ao analisar o universo pessoal de Sex Education, Abbi, Roman, O e os demais alunos de Cavendish acabam pecando por serem “normais demais”.
Com essas inserções e novas relações ocorrendo entre os personagens antigos, torna-se quase palpável a falta de excitação pelos novos relacionamentos. Os “vai e vem” tiraram o peso dos casais cativantes, e mesmo Otis e Maeve se tornaram uma versão moderna de Ross e Rachel com seus términos e retornos infindáveis.
Mais do mesmo
Os choques culturais nunca foram o grande forte da série, trazendo uma França e uma Nigéria bastante próximas à pequena cidade inglesa de Moordale. E com os EUA a fórmula se repete. Se havia alguma expectativa de vermos a diferença dos temas abordados no progressismo europeu contra o tradicionalismo norte-americano, foi completamente deixado de lado. Parabéns por encontrarem as pessoas mais inglesas dos EUA para retratar uma grande mudança de cenário da sua protagonista.
Temas como nudes, assexualidade, aceitação dentro da Igreja e amizades entre hetero cis e LGBTQIA+, acabam retomando – sem o peso da primeira vez – e se aliando à novas discussões. Vemos nossos colegas levantando vozes de acessibilidade, luto, terapia para terapeutas, peso na voz de educadores, e outras pautas que dão um sabor novo para a série, mas deixam a pergunta: Ela realmente esgotou todos os temas sexuais?
Seja como for, o último ano tenta se agarrar em uma ansiedade de momentos previsíveis que acabam não tendo o impacto que poderiam ter, como o retorno de Maeve, sua primeira vez com Otis, ou seu aguardado encontro com Jean. Temas e traumas que pareciam fechados nos anos anteriores também tomam uma sobrevida inesperada, no pior significado da palavra.
Ponto alto
Em segundo plano, a série investe em algumas fórmulas clichês de comédias escolares como uma corrida eleitoral – desnecessariamente esticada por toda a temporada – e o ponto alto em seu belo e delicado episódio de funeral.
No momento mais dramático da série, temos finalmente uma parte do que esperávamos para um último ano. Reencontros, participações especiais, drama e comédia na medida certa, despedidas, e U2. Pena que acontece no meio da trama, e não no final. Mas vamos seguindo em frente.
De fato, se tem algo que pode resumir este ano final são as descobertas individuais. O coletivismo do It’s my vagina, do grupo de mulheres acompanhando Eimee no ônibus, ou a nova rede de apoio de Maeve quando se tornou uma atleta de matemática, foi completamente deixado de lado para evoluções mais dispersas. A emancipação pessoal de Eimee e seu jeans, o suposto câncer de Jackson, a maternidade e depressão de Jean, o relacionamento abusivo de Viviane, a “segunda puberdade” de Cal e até mesmo a literatura de Maeve, são caminhos traçados quase que inteiramente sozinhos, o que nos dá um abraço frio de despedida. E, infelizmente, não são faltas de tentativas. A série tenta trazer este coletivismo com a paralisação pelo elevador de Isaac, ou mesmo para procurar Cal, mas mesmos nestes momentos, os personagens que estão de corpo presente ali, permanecem mentalmente presos em suas pautas próprias.
Para melhor exemplificar, temos a estranha jornada religiosa de Eric, que apesar de ter tido uma introdução orgânica nos anos anteriores, acabou escolhendo uma abordagem que chega a tirar o espectador da série por alguns momentos. O peso de dar um desfecho grandioso ao maior personagem da série, sem dúvida foi o grande destaque para mostrar como as tramas individuais não mais se conversam. E de fato, era hora de parar.
Conclusão
Por fim, a temporada fecha com a mensagem do que sempre foi. A transformação horizontal entre Otis e Maeve e sua expansiva influência ao redor. Mas ao encerrar isto precocemente, ficamos sem uma grande celebração destes 4 anos, que poderia ter abraçado o clichê do baile de formatura. Dessa maneira, ficamos cheios de promessas, e uma gama tão grande de redenções, que cada núcleo parece uma bomba relógio prestes a explodir novamente. Sem antagonistas para serem derrotados, ou aplausos com nomes sendo lidos no palco, Sex Education foi uma transa rápida, boa, com excelentes preliminares, um grande envolvimento inicial, e que quando estava prestes a perder a graça, teve seu coito interrompido.
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Trailer da quarta temporada da série Sex Education, da Netflix
Ficha Técnica da quarta temporada da série Sex Education, da Netflix
Título original: Sex Education
Criação: Laurie Nunn
Elenco: Asa Butterfield, Gillian Anderson, Ncuti Gatwa
Onde assistir: Netflix
Data de estreia: 21 de setembro de 2023
Temporada: 4
Episódios: 8
País: Inglaterra
Gênero: Comédia, Drama
Ano: 2023
Classificação: 16 anos