Arctic Monkeys estaciona ‘The Car’ ao longo de seus sete discos no Rio de Janeiro
Mylena Larrubia
A banda Arctic Monkeys tocou, nesta sexta-feira (04), na Jeunesse Arena, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O grupo, que performou em seguida como um dos headliners do Primavera Sound São Paulo, no sábado (05), também esteve na Jeunesse em 2014, quando a casa ainda se chamava “HSBC Arena”, e em 2019.
Com uma setlist de 21 faixas, que se alternaram transitando por toda a discografia da banda, entregaram um show eletrizante aos fãs. Entre gritos de “gostoso” que a plateia dedicava ao vocalista, Alex Turner, e pedidos que diziam “Sculptures”, eles tocaram para os cariocas, pela primeira vez ao vivo, uma das músicas do álbum “The Car”, que lançaram há duas semanas.
Show do Interpol no Rio de Janeiro
A noite no Rio de Janeiro começou antes de Arctic Monkeys entrar no palco. Com a abertura da banda Interpol, pontualmente às 20h45, várias pessoas já se agitavam na plateia. Na grade da pista, que fica próxima de onde os artistas se apresentam, muitos pareciam também estar presentes no show por causa do grupo convidado. O que mais marcou a passagem da banda nova-iorquina foi a quase súplica de alguns fãs por “Stella”, se referindo à canção “Stella Was a Diver And She Was Always Down”.
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Estética mais ‘clean’
Pouco depois das 22h, Arctic Monkeys pisou no cenário que tinha poucos detalhes além dos instrumentos que seriam usados. A estética mais “clean” e sofisticada, a julgar pelo piano e arranjos do novo álbum, apareceu também nessa montagem. Então, “There’d Be A Mirrorball”, da mesma forma que deu início a toda a criação de “The Car”, foi a primeira música tocada.
A aceitação do público com essa faixa, e com as outras três deste disco que foram performadas, foi surpreendente, principalmente se for comparada ao show de 2019, que a banda realizou no mesmo local. Naquele momento, eles vieram ao país com a Tranquility Base Hotel & Casino Tour, e os fãs, em sua maioria, cantavam e se animavam somente com as músicas dos cinco primeiros álbuns, os mais pop-rock.
Depois de tocar cinco músicas, cada uma de um disco diferente, com exceção dos “Tranquility Base Hotel & Casino” e “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” até então, Alex começou a vocalizar, cantando, “Rio”. Em seguida, disse: “Obrigado! É bom estar aqui novamente”.
Outro aspecto que diferiu do antigo comum da banda foram as roupas, sobretudo a de Alex, com cor mais clara, indo de encontro com a estética calma da faceta atual do grupo. A camisa do vocalista lembrava a de pilotos de carros de corrida do final da década de 60.
Alternância entre discos
Em algumas músicas, como “Brianstorm” e “Crying Lightning”, Alex tocou a guitarra, dando ênfase tanto nos intensos solos do instrumento quanto por sua forte presença de palco. Mas em várias faixas, que em shows anteriores ele tocava em conjunto com o guitarrista, Jamie Cook, só teve seu vocal contribuindo para a performance ao longo desta apresentação.
Depois de “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, grande sucesso do álbum “AM”, eles deram início a um dos últimos lançamentos que mais agradou o público: “Body Paint”. Talvez por ter a presença da guitarra distorcida, como acontece com os discos mais aclamados do grupo, conseguiram formar um lugar que converse com os fãs, apesar das mudanças substanciais na sonoridade da banda. A plateia cantou fortemente junto e as pessoas foram, aos poucos, ligando as lanternas dos celulares, iluminando a escuridão que antes só tinha luzes no palco. Ao final da cena, Turner disse, parecendo estar “de alma lavada”: “Muito obrigado!”.
Seguindo a alternância de cada música tocada pertencer a um disco, tocaram “That’s Where You’re Wrong”, que nunca tinha sido performada em solo carioca nas quatro vezes que vieram antes deste ano (2007, 2012, 2014 e 2019). No final dessa, Alex Turner, de forma calorosa, mandou um beijo para a plateia. Após uma quebra no fluxo animado, com “Cornerstone”, a banda britânica entregou o hit que, possivelmente, alguns pagariam o show só para ouvi-lo: “Do I Wanna Know”. O clássico do disco “AM”, que teve grande repercussão desde 2013, segue causando enorme euforia já quando se inicia o marcante riff na guitarra.
Clima ‘assombrado’ e nostalgia
Depois de tocar a música que dá nome ao penúltimo álbum, “Tranquility Base Hotel & Casino”, e “Pretty Visitors”, do “Humbug”, o clima ficou quase assombrado, o que parece ser o ponto comum entre os dois instrumentais. Nessa vibe, “Do Me A Favour” surgiu como uma suavização, embora triste. Mas não foi nada assim para os fãs, que pediam por essa desde o início da noite. A música não aparecia na setlist brasileira desde 2012. Em 2019, a plateia pediu muito para ouvi-la, mas não aconteceu. Neste show, pode ter sido performada como recompensa.
A vez de outra que não vinha sendo tocada no Rio foi “From the Ritz To the Rubble”, desde 2007 sem aparecer. Os fãs na plateia falavam sobre estarem nostálgicos e contentes por ouvirem músicas que nem esperavam que seriam apresentadas ao vivo. De forma um pouco diferente, “505” já era uma expectativa, principalmente porque tem aparecido em performances que a banda vem fazendo para divulgar seu novo trabalho. “We’re the Arctic Monkeys”, disse Alex Turner no final dessa música, fechando o set principal da apresentação. O momento talvez só possa ser descrito como “fofo”, considerando que a fala aparentava que o grupo estivesse no início de carreira, quando precisam sempre dizer quem são. Mas, ainda mais com a nova formatação sonora da banda, “Who the Fuck Are Arctic Monkeys?”, não é?
Bis e política
No intervalo que acontece antes do bis, enquanto os Arctic Monkeys saíram do palco, a plateia do Rio de Janeiro fez declarações políticas em coro. Começaram cantando “Olê, olê, olê, olá! Lula, Lula!”, aparentando estarem satisfeitos com o resultado das urnas no 2º turno das eleições deste ano, que aconteceu no domingo anterior ao dia do show. Embora estivessem comemorando, o presidente vigente ainda não é o candidato que ganhou, então, seguiram fazendo gritos de repúdio ao atual representante.
O que talvez tenha sido o ponto mais alto da noite foi quando a banda britânica debutou a música “Sculptures Of Anything Goes” em uma apresentação ao vivo. O acontecimento foi muito comentado pelos fãs, que diziam, por exemplo: “Não acredito! A primeira vez ao vivo é nossa!”. Encerraram a noite com duas queridinhas que geralmente animam o público: “I Bet That You Look Good On the Dancefloor” e “R U Mine”.
Nesta noite tocando para o Rio de Janeiro, Arctic Monkeys deixou a impressão de que, apesar de estarem se distanciando cada vez mais da sonoridade pop-rock original, “The Car” talvez tenha conseguido estacionar a nova musicalidade que querem criar. E, até mesmo os fãs de momentos diferentes da música deles, deixam um álbum que, com mais piano do que guitarra, segue se dirigindo a espaços novos em vez de deixar “o carro” apenas num rock de garagem.
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Não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do ULTRAVERSO:
Setlist do show do Arctic Monkeys no Rio de Janeiro em 2022
- There’d Be A Mirrorball
- Brianstorm
- Snap Out Of It
- Crying Lightning
- Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
- Why’d You Only Call Me When You’re High?
- Body Paint
- Four Out Of Five
- Arabella
- I Ain’t Quite Where I Think I Am
- That’s Where You’re Wrong
- Cornerstone
- Do I Wanna Know?
- Tranquility Base
- Pretty Visitors
- Do Me A Favour
- From the Ritz To the Rubble
- 505
Bis
- Sculptures Of Anything Goes (live debut)
- I Bet That You Look Good On the Dancefloor
- R U Mine?
Fotos do show do Arctic Monkeys no Rio de Janeiro em 2022
*Fotos: Maíra Coelho Chalfun / ULTRAVERSO