Em ‘Sou Francês e Preto’, só quem ganha é o espectador
Cadu Costa
Filmes, pinturas e estátuas são objetos iridescentes, isto é, dependendo de onde estiver ou quando são vistos, eles mudam matizes e formas, como um arco-íris. Eles podem nos fazer rir, chorar ou nos revoltar nos mesmos momentos. Além disso, não nos contam as mesmas histórias. Por isso, o filme francês Sou Francês e Preto (Tout Simplement Noir), de Jean-Pascal Zadi, não poderia ter uma definição melhor.
Visto por mais de um milhão de espectadores na França após a reabertura dos cinemas, o longa dirigido por Jean-Pascal Zadi em parceria com John Wax, tem o potencial de uma bomba. E ela não poderia ter pedido um alvo melhor do que o momento atual pulsando sob as alegações e manifestações de uma fúria em chamas pelo assassinato policial de George Floyd, assim como do caso da morte do brasileiro João Alberto no Carrefour na última semana.
-
‘O Caderno de Tomy’ é uma grata surpresa da Netflix neste fim de ano
-
‘O Orfanato’: filme aborda política do Afeganistão sob os olhos de crianças
A trama
Ademais, um agradecimento ao Festival Varilux de Cinema Francês, que proporcionou uma exibição online especial para imprensa. Graças a isso, podemos acompanhar Jean-Pascal Zadi interpretando a si mesmo, colocando-se como um ator malsucedido, que já tentou tudo na vida e decide organizar um grande protesto contra o racismo, em Paris. Vendo tudo como uma oportunidade de autopromoção do que propriamente pela causa, Zadi busca apoio em diversas personalidades da comunidade preta parisiense.
No entanto, nem tudo corre como o planejado e o resultado são sequência simplesmente hilárias num formato ‘mockumentary’, tão popularizado pelos filmes de Sacha Baron-Cohen. Mas ao contrário do “Borat” (2006), Sou Francês e Preto é simplesmente espetacular.
Ousado, comovente e engraçado
Político, bem como fino, ousado, comovente e incrivelmente engraçado, a produção transcende sua natureza como um filme de esboço para oferecer um retrato emocionante de uma França em plena introspecção de identidade.
Repleto de piadas contundentes, o longa de Zadi e Wax seduz com sua maneira sutil de desmontar um por um todos os clichês do racismo fingindo sucumbir a ele. Também gostamos de sua diversão dos códigos de reportagem para pintar um retrato de um homem de família cativante que também gostaria de seu lugar sob o Sol.
Por fim, Sou Francês e Preto não é somente hilário. É simplesmente revigorante ao mesmo tempo que agradável, inteligente e numa eterna zoeira com o politicamente correto. Enfim, em tempos de Vidas Negras Importam, uma comédia despojada com um humor corrosivo onde só quem ganha é o espectador.
TRAILER
[youtube v=”YU5Thw4cvVg”]
FICHA TÉCNICA
Título original: Tout Simplement Noir
Direção: Jean-Pascal Zadi e John Wax
Elenco: Jean-Pascal Zadi, Fary, Caroline Anglade
Distribuição: Festival Varilux
Data de estreia: qua, 24/11/20
País: França
Gênero: comédia
Ano de produção: 2020
Duração: 90 minutos
Classificação: a definir