‘Star Trek: Discovery’ se reinventa sem distorcer em terceira temporada
Stenlånd Leandro
Star Trek: Discovery, adaptação de Bryan Fuller e Alex Kurtzman chegou de mansinho com sua terceira temporada. Porém, a sétima série de Jornada nas Estrelas começou confundindo muita gente. Afinal, garantia ser canônica, mas acompanhava uma nave experimental sem registro em qualquer episódio, livro, filme, jogo, histórias em quadrinhos conhecidas da criação de Gene Roddenberry. Assim, ganhamos uma nova forma de vislumbrar o caminho de Spock e Kirk com o passar do tempo.
Hoje, apesar de minimalista, o seriado tenta engendrar tudo aquilo que já conhecemos da franquia. Episódios consistentes, bem como muitos embates quando necessário e, maximizar o famoso ‘indo aonde nenhum homem jamais esteve’. Ademais, em Star Trek: Discovery essa teoria se supera cada vez mais com coisas que vão além do imaginável. Anjos do futuro, viagem temporais, combustões que exterminam civilizações e por ai vai.
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Uma nova temporada atípica
Com tudo isso ao nosso dispor, a protagonista Michael (Sonequa Martin-Green) acaba, assim, criando um destino um tanto quanto sinistro para seus colegas na nave. A maioria dos fãs do seriado já haviam mencionado que a Discovery iria para o futuro, e de fato aconteceu em um ritmo acelerado no século 32. Assim, além das naves e personagens diferenciados, em episódios mais para frente, o espectador acaba conhecendo um lado sombrio da Frota Estelar. São diversos personagens chatos, além de outros questionáveis contrastando com tudo que vimos outrora. Assim, a Irmã adotiva de Spock, encarna uma parente que ele jamais comentou existir. Tudo bem que, Vulcanos não se abrem com facilidade, e, antes de mais nada, Spock é mais fechado que a república da Coréia do Norte.
A saber, a segunda temporada ousa trabalhar Spock e seus devaneios, interpretado por Ethan Peck. Já o terceiro ano mexe com a viagem temporal, bem como suas consequências. Assim, o novo ano acompanha a “busca pela Equipe” e o entendimento de misteriosos sinais sobre pontos aleatórios da galáxia, com a Discovery correndo sempre contra o tempo para impedir o fim de tudo graças ao evento conhecido como a ‘Combustão’ que exterminou diversas civilizações.
Os míseros 13 episódios (devido à pandemia, encurtou-se o seriado em menos dois) provam uma intenção clara dos roteiristas, que amarram cada mistério e inconsistência ao final da temporada. Isso porque ‘A Combustão’ é obviamente o antagonista, porém, os episódios finais vão contra a lógica de tentar entender como tudo aconteceu. Ao invés disso, focam em tentar solucionar problemas recorrentes quanto à saúde de Philippa Georgiou.
Episódios consistentes em Star Trek
É nessa intensa adrenalina, de tentar desvendar os mistérios de uma galáxia perto de um colapso que Star Trek: Discovery prova que é possível reinventar sem distorcer o cânone. Ao se adequar ao seu tempo e seguir audaciosamente adiante, essa nova Jornada chega no momento em que o mundo mais precisa de esperança (e não falamos apenas de pura ficção ‘cientifica’). Há um mal lá fora que precisa ser combatido, mas a pressa seria algo disfuncional. Ademais, nesse quesito a série também está de parabéns. Sem se apressar, os famosos episódios enche-linguiça são totalmente funcionais.
Certos conceitos embrionários ganham força na temporada e isso inclui algumas homenagens ao passado da frota. Não há nenhum tipo de dificuldade ou resistência da tripulação em entender isso. Assim, uma nova geração de espectadores pode simplesmente sentar e relaxar diante da tela, sem que haja necessidade de qualquer conhecimento prévio. Nada do que veio antes é alterado e muita coisa que caracteriza todo o universo criado pelo diretor estão presentes, enriquecendo a experiência de quem conhece o sistema.
Quando Kirk aparecerá?
A série reinventa certos parâmetros como ganhar uma nova primeira oficial, que é carismática, ingênua, mas que antes de mais nada fez por onde merecer. As dificuldades desta tripulação incluem fatos curiosos, bem como a recorrente problemática de comunicação. A falta de confiança entre Saru e Michael abala toda a tripulação que é forçada justamente a ter em seu encalço uma nova primeira oficial.
Ainda assim, sempre que pensamos em um Vulcano, não há como negar que o James T. Kirk também foi fundamental para o sucesso da franquia. Vê-se esmero e, sobretudo, respeito ao que veio antes, em cada detalhe, mas não dão o devido valor ao capitão. Apenas a um mero chefe de ciências. Tudo está lá: a cadeira de capitão, Os uniformes, que não são vermelhos nem laranja como antes, mas lá estão. Ainda assim, com toda essa coisa de viagem no tempo e os problemas que a Discovery há de passar, não há vestígios de quando Kirk aparecerá. Até mesmo Almirante Pike deu sua graça.
O que mais falta para melhorar?
Um feito longe de ser digno é que, a terceira temporada de Star Trek: Discovery não carrega nenhum tipo de expectativa em relação à trilha, Star Trek: Discovery já existe há três anos. E o exato oposto dos primórdios da franquia acontece, mesmo com a nova versão de Picard. Rearranjada para o canal CBS, Jeff Russo e o francês Charles Henri Avelange não criam nada condizente com o que conhecemos outrora.
Não é apenas uma questão de trilha sonora, mas a sonoplastia padece um bocado em comparação aos dois anos anteriores. Mesmo em momentos de ação frenética, deixa a desejar. Assim, parece haver falhas neste âmbito, mesmo usando fones de altíssima qualidade ou utilizando sistema Dolby Atmos, bem como o arcaico som digital.
Ainda assim, mostrando ousadia, ao compor música tema que não se baseia na original, mas que algumas melodias, já é possível notar que é, de certo modo, especial. A saber, especial e magnífica, diria, uma das melhores composições modernas para sci-fi dos últimos anos, porém, sempre desejamos algo saudosista. E o compositor se esmera com variações de seu tema para manipular os sentimentos do espectador em diversos episódios.
Resumo da ópera
Por fim, a terceira temporada de Star Trek: Discovery é, no final das contas, uma lição muito bem vinda de como fazer um reboot sem distorcer o cânone. Apesar de Spock jamais ter mencionado que tinha uma irmã adotiva, uma franquia longeva foi trazida de volta à vida graças a um trabalho impressionante do diretor que, a cada ano, acerta em todos os pontos mais importantes.
TRAILER
https://www.youtube.com/watch?v=L8BJquxotKw
FICHA TÉCNICA DE ‘STAR TREK: DISCOVERY’
Título original: Star Trek: Discovery
Temporada: 3
Data de estreia: 15 de outubro
Criação: Bryan Fuller, Alex Kurtzman
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, Shazad Latif, Wilson Cruz, Jason Isaacs, Michelle Yeoh, Anson Mount
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Gênero: ação, fantasia, ficção-científica
Ano de produção: 2020
Classificação: 12 anos
Onde assistir? Netflix