‘Sweet Tooth’: série é um bom exemplo de como não fazer adaptações
Pedro Marco
A onda das adaptações de HQs segue seu fluxo ininterrupto. Após investir nas páginas de Mark Millar, na recentemente cancelada O Legado de Júpiter, agora é a vez de Jeff Lemire ter suas páginas transpostas na tela do serviço de streaming.
A série Sweet Tooth, premiada história da DC/Vertigo, estreia nesta sexta (4), na Netflix, sua primeira temporada da adaptação, com Robert Downey Jr. como produtor executivo.
Assim como seu material original, o seriado nos leva a um mundo pós-apocalíptico onde uma doença viral exterminou grande parte da raça humana. Assim, seres nascidos híbridos entre pessoas e animais começam a surgir. Neste meio, Gus (Christian Convery), um menino cervo, cresce afastado do mundo real durante sua primeira década de vida. Até o dia em que terá de cruzar a fronteira que o cerca e encarar o mundo.
Pós-apocalipse colorido
Ao contrário do que possa ser encontrado por quem busque o material original, a produção da Netflix aborda a história de forma doce e esperançosa, em um dos pós-apocalipses mais coloridos já vistos. A extrema limpeza, bem como os destinos utópicos e as sociedades lideradas por crianças, criam um tom confuso em uma temporada que funciona, porém não identifica seu público.
Além de cortar todo o lado niilista e pesado que Lemire criou em seu mundo, a série Sweet Tooth também opta por tirar o teor religioso e partes mais animalescas de Gus, dando uma roupagem que beira comerciais de margarina.
Por mais que não seja novidade no meio das adaptações, visto que Tartarugas Ninja também sofreu esta transição de uma revista adulta para um material infantil, a aposta ousada da Netflix entra em conflito com o rol de sucessos atuais. Dessa forma, ela evita estar ao lado de produções como The Boys e Invencível em ser mais adulta.
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Tramas paralelas pífias
Retomando erros cometidos em O Legado de Júpiter, novamente temos uma expansão do universo em tramas paralelas de desenvolvimento pífio, assim como personagens novos que nitidamente estão perdidos no roteiro. Isto cria uma extensa “barriga” na temporada que poderia ter avançado bastante e até mesmo sendo uma história fechada, mas opta em estender em mais temporadas.
A ideia da distopia pandêmica atinge novos patamares na produção. O uso obrigatório de máscaras, as vacinas, a contaminação e o preconceito se aproximam de uma quebra de parede com o mundo real e discute temas espinhosos e tabus. Apesar da história original ser de 2009, a questão de apontar culpados pela origem da doença se mostra mais atual do que nunca.
Divertes, mas…
Os paralelos com os judeus injustiçados como culpados na guerra ou mesmo a comunidade chinesa na situação atual, estão ali, mesmo que mesclado no cenário previsível, clichê e infantilizado que a adaptação criou.
Por fim, a série Sweet Tooth cria ganchos para uma sequência inevitavelmente desejada, e tende a se distanciar cada vez mais das HQs. Seu primeiro ano é um retrato da época em que foi feito, diverte, mas está longe de revolucionar seu meio como Lemire fez em 2009.
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TRAILER DA SÉRIE ‘SWEET TOOTH’
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FICHA TÉCNICA
Título original da série: Sweet Tooth
Temporada: 1
Criação: Jim Mickle
Direção: Jim Mickle
Produção: Susan Downey, Robert Downey Jr., Amanda Burrell, Linda Moran, Beth Schwartz, Jim Mickle
Elenco: Christian Convery, Nonso Anozie, Adeel Akhtar, Aliza Vellani, Stefania LaVie Owen, Dania Ramirez, Neil Sandilands, Will Forte, James Brolin
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