Antes de qualquer coisa ser mencionada, o principal a dizer é que não há vida sem água. Em relatos de fome, que se pode assistir por aí, uma pessoa pode até aguentar dias sem comer algo, ou até um mês, mas nunca sem a água.

Um bem da humanidade que a cada dia se esvai, chega em um documentário bastante político. O problema da água mencionado no debate ser um problema sério e nacional, equivoca-se aí. O problema é muito grave e de dimensões gigantescas. E o documentário A Lei da Água [Novo Código Florestal] veio para tentar conscientizar um bocado toda a população nacional, e até mesmo mundial.

Quando se fala de água, envolve-se muita coisa, inclusive a existência de tudo. Sem água não se pode ter vida e sem vida não há alimento. Não se pode comer nenhum animal, pois não conseguiriam viver sem matar sua sede e, para os vegetarianos, a situação também não ficaria muito boa, pois o maior insumo da agricultura é a água.

O código florestal ou melhor, o Novo Código Florestal visto no filme, envolve muita coisa, incluindo a biodiversidade. Muitos confundem tapar um buraco e abrir outro. As pessoas se enganam ao dizer que nossa floresta tem água suficiente para manter o Brasil por décadas. Se enganam ao impor tal heresia e dizer que é basta tirar água da baia amazônica e transpor para outros lugares. A coisa é muito mais complicada, o buraco é muito mais embaixo.

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A Lei da Água [Novo Código Florestal], filme produzido pelo cineasta Fernando Meirelles (‘Cidade de Deus’, ‘Ensaio sobre a Cegueira’, ‘O Jardineiro Fiel’)  e dirigido por André D’Elia, foi exibido pela primeira vez no Congresso Nacional, em evento realizado na última quarta-feira (18) pela Frente Parlamentar Ambientalista e a Fundação SOS Mata Atlântica, no auditório Freitas Nobres, na Câmara dos Deputados.

O documentário, de 78 minutos, explica de forma intensa toda a relação entre o novo Código Florestal (Lei 12.651/12) e a atual crise hídrica brasileira. O impacto dessa atual legislação sobre a capacidade da floresta de proteger mananciais de água e, assim, tentar prevenir possíveis crises como as que afetam São Paulo hoje, por exemplo, que acaba sendo um dos temas centrais da produção.

Segundo o diretor André D’Elia, a intenção do filme é abrir o diálogo entre os diversos setores e fazer um alerta sobre as consequências dos desmatamentos e sua relação com a escassez de água. “A crise hídrica veio em um momento certo para debater essa questão com a sociedade e ver qual é o interesse dela”, ressaltou D´Elia, que é autor de “Belo Monte, o anúncio de uma guerra”, já assistido por 45 mil pessoas nos cinemas e mais de 3 milhões de pessoas na internet.

O documentário é extremamente importante porque revela que “não seria necessário existir essa dicotomia” (meio ambiente x produção agrícola). Todo o projeto para a criação do documentário foi realizado ao longo de 16 meses, mas incrivelmente só soubemos de tal crise recentemente e, com base em pesquisa e 37 entrevistas realizadas no Rio, São Paulo, Pará, Mato Grosso, Paraná e Brasília. Foram entrevistados ambientalistas, cientistas, ruralistas e agricultores, trazendo perspectivas diversas e discordantes sobre o tema.

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Enquanto analisam o processo de escassez, especialistas denunciam que, durante a elaboração da lei, houve uma mobilização da comunidade científica alertando para os principais problemas que o novo código poderia provocar no meio ambiente – os cientistas reclamam que não foram escutados.

Entre os pontos criticados pelo documentário estão a anistia para os produtores que devastaram florestas, a fusão das Áreas de Preservação Permanente (APP) às Reservas Legais, a redução das áreas de proteção em margens de rios e a desproteção das nascentes. Segundo ambientalistas, o que houve foi uma privatização dos lucros e uma socialização dos prejuízos.

A obra que é uma parceria da Fundação SOS Mata Atlântica, WWF-Brasil, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e Bem-Te Vi Diversidade não peca na sua produção. Retratar a polêmica sobre as mudanças na legislação que prevê o que deve ser conservado e pode ser desmatado nas propriedades rurais e cidades brasileiras afeta até mesmo grandes empresas. O impacto sobre a capacidade da floresta de proteger mananciais de água e, assim, prevenir crises como as que afetam São Paulo hoje, por exemplo, é um dos temas centrais da produção.

O longa vai fundo na familiaridade com as questões socioambientais, como sequer nem façamos ideia de sua existência.

BEM NA FITA: A conscientização contida no documentário.

QUEIMOU O FILME: O Sistema político tentando sair como ‘bonzinho’ da história com possíveis leis que já deveriam existir há séculos.

FICHA TÉCNICA:

Documentário, Brasil, 2014, 78′
Produção: Cinedelia, em coprodução com O2 Filmes
Distribuição: O2 Play
Direção: André D’Elia

Uma parceria:

Instituto Socioambiental – ISA
WWF-Brasil
Fundação SOS Mata Atlântica
Associação Bem-Te-Vi Diversidade
Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS)