A nota aí do lado você vê pelo simples fato de que Os 33 (The 33/ Los 33), um filmaço, na verdade, é feito “made in Chi-chi-chi-le-le-le”, ou seja, tipo exportação.  A história dos 33 homens (chilenos e bolivianos) que desceram rumo à uma mina antiga em busca de ouro num dia qualquer sofreu um revés danado e que foi acompanhado pela imprensa mundial em 2010. A mina começou um processo de desmoronamento interno, deixando os 33 funcionários à mercê da fúria geológica da montanha. Esta jornada durou 69 dias.

Por se tratar de uma história que o mundo inteiro viu ou soube, a diretora mexicana Patricia Riggen preferiu agilizar o roteiro sem deixar de lado a emoção. A passos explicados ao espectador, como se fosse uma sala de uma escola, a diretora apresentou o cotidiano desta profissão arriscada. No começo do filme, ela usa o personagem  Mamani (Tenoch Huerta) como fio condutor para o mergulho profundo nas rochas do Deserto do Atacama.  Destaco aqui a fotografia belíssima apresentada logo nos créditos iniciais do longa e os movimentos de câmera.

Só que o grande problema do filme é a falta de latinidade do mesmo. Tem o sangue latino, tem a verve latina, tem a música latina, os atores são latinos (a maioria deles), o cenário, a fotografia, enfim, tudo é latino. No entanto, a professora, ops, diretora, decidiu que a aula fosse ministrada em inglês. Oi? Sendo assim, tudo o que ela apresenta, prega, aponta no filme, fica meio plastificado, meio incorporado com outra personalidade, menos a latina. E isso é uma pena. Até entendo que Patricia deva ter optado pelo “idioma universal”, pois, o longa iria rodar o mundo todo. Foi uma escolha errada. Ela transformou o conjunto num bolo bem seco e difícil de engolir.

Chilean President Sebastian Pinera shows a message reading "We are fine in the refuge, the 33 of us", from the miners trapped in the San Esteban gold and copper mine, near the city of Copiapo, Atacama desert, 800 km (480 miles) north of Santiago, on August 22, 2010. The miners are alive and contact has been established with them 17 days after a structural collapse trapped them below ground. AFP PHOTO/ HECTOR RETAMAL (Photo credit should read HECTOR RETAMAL/AFP/Getty Images)

O roteiro atinge o cúmulo do ridículo quando há uma cena em que o presidente Sebastián Piñera, vivido pelo ator Bob Gunton, dá uma coletiva para a imprensa em espanhol. Mas a legenda aparece em inglês!! (muitos risos)

Os atores Antônio Banderas e Rodrigo Santoro esbanjam talento na telona. O primeiro, já consagrado, pode ter qualquer papel de figuração que sua atuação cresce a olhos vistos. O segundo, consagrado aqui, está seguindo os passos de seu colega e crescendo formidavelmente. A decepção um pouco fica para a francesa Juliette Binoche. Não por culpa dela, e sim, do roteiro. No final das contas, seu personagem não é muito relevante e acaba sendo mais um na sociedade chilena.

Aliás, falando em sociedade, e voltando à Patricia, Os 33 poderia muito bem se chamar como La Mina de San José ou algo do tipo. Durante uma boa parte da fita, o filme é dividido em dois outros independentes: um só com os mineiros e o outro com os familiares dos mineiros. Riggen faz com que cada um tenha seu protagonista forte (por isso que Banderas e Santoro os fazem com naturalidade) e sigam o seu caminho. Apenas quase na parte final, é que as duas partes se cruzam.

Esta nova forma de montar o filme foi bastante interessante e deu emoção aos pontos certos. Não ficou naquela “lenga-lenga” de filme típico hoolywoodiano, no qual o mocinho após extenuantes batalhas corre aos braços da mocinha no final. Ponto para ela. Desliguem os celulares e boa diversão!


FICHA TÉCNICA:

Direção: Patricia Riggen

Roteiro: Mikko Alanne, Craig Borton, Jose Rivera, Michael Thomas e Hector Tobar

Elenco: Cote de Pablo, Juliette Binoche, Antonio Banderas, Rodrigo Santoro, Bob Gunton, Gabriel Byrne.

Produção: Benjamin Anderson, Andrés Calderon, Leopoldo Enriquez e José Luis Escolar

Trilha Sonora: James Horner

Fotografia: Checco Varese

País: Chile

Ano: 2015

Duração: 120 min.