A Brasil Game Show, maior feira de jogos eletrônicos da América Latina, pela primeira vez realiza um ciclo de palestras com grandes nomes do mercado de games e indústrias do ramo. Nós do BLAH! fomos conferir o evento e curtir um dia inteiro de painéis de palestras interativas, onde pudemos fazer perguntas aos convidados que são alguns dos principais nomes da indústria de games e equipamentos eletrônicos para jogos online. A BGS Summit ocorreu no Expo Center Norte, no dia 09 de Outubro, das 09 às 18h.

O CEO da Logitech e Astro contou um pouco sobre o universo de games começando pelo passado, passando pelo presente e indo direto para o futuro. Nos mostrou o forte crescimento dos chamados Esports e as tecnologias avançadas que a Logitech pôde desenvolver. Além disso, trouxe alguns temas que são pauta no mundo todo, como inclusão social, inclusão feminina no universo de games e adaptação para pessoas com deficiência. Conhecemos as novidades as quais a Logitech tem investido para mudar esse cenário onde mulheres precisam jogar com nicknames masculinos porque se sentem acuadas de jogar entre homens.

Na palestra seguinte, Noah, Gabriel e Kenia trouxeram informações importantes sobre carreira, empreendedorismo, desenvolvimento na área de games e jogadores de ligas profissionais. Noah afirmou que “os gamers atuais são bem jovens e o universo está crescendo, pois cada vez mais crianças começam a jogar, porém os gamers mais antigos. As pessoas mais velhas permanecem gamers, não desistem de jogar e esse é o mercado que temos hoje.” Ele também afirma perceber que essa audiência vem crescendo de forma constante. Como transformar essa audiência em uma indústria? — Nós temos que canalizar essa audiência e transformá-las em pessoas mais engajadas e mais produtivas, declara Noah.

Gabriel de Toledo, mais conhecido pelo seu nickname de jogador Fallen, respondeu a duas perguntas do BLAH! com exclusividade, confere só:

BLAH! — Sobre os canais de TV paga iniciarem coberturas de Esports e a expansão dessa categoria. Você como visionário que é do universo gammer, acha que a veiculação dessa categoria vai passar a ser transmitida por TV aberta também?

Fallen: Na minha opinião, as televisões estão seguindo por esse caminho porque o público jovem não está assistindo televisão mais. Ainda mais com os avanços da internet, facilidade de celular, quantidade de conteúdo que a gente tem via transmissões por Youtube, Netflix, Twitter, está muito mais fácil o acesso. Então eles pensam em como fazer para segurar esse público aqui. Além disso, se compararmos o Esports com outros tipos de consumo de entretenimento, ainda assim continua sendo uma transmissão barata. A Champions League de futebol, por exemplo,  tem altíssimo custo. Um exemplo disso são as E-league, o preço para formação de uma equipe, ficaria mais caro rodar essa reprise do que transmitir ao vivo a e-league. Ao invés de repassar programas como Friends, por exemplo, estão investindo em algo moderno, contemporâneo e que é um entretenimento mundial divertido. O próximo passo provavelmente é que essa briga se acirre cada vez mais, e nós do mundo do Esports vamos começar a ganhar bastante. A maioria das transmissões são monetariamente remuneradas através das licenças de transmissão dos jogos e vai chegar ao ponto de se ganhar muito dinheiro com isso.

Você como marca também investiria em buscar esse tipo de parcerias, esse tipo de veiculação dos seus jogos, ou de formação de ligas próprias para competições, etc.?

Fallen – Como marca, a gente tá num momento da empresa em que a maior parte da veiculação ainda está atrelada a mim como jogador. Daqui a alguns anos, em um cenário que eu não jogue mais, por exemplo, uns cinco anos, a gente vai ter que começar a ter estratégias de trazer o pessoal pra nossa marca usando essas referências, aí sim começa a fazer muito sentido esse tipo de divulgação. Mas a gente tem projetos paralelos já acontecendo, apoio a outras equipes, buscando times femininos. A gente pensa num futuro em patrocinar equipes também, por enquanto a gente ainda está crescendo e focado em Fallen como jogador e a marca de produtos.

Uma das coisas que mais chamou a atenção de Fumito Ueda no Brasil foi a quantidade de arte que temos nas ruas, os grafites nas paredes. “Isso é algo que eu gosto muito. Eu queria ser artista, mas arte não dava tanto dinheiro, então pensei o que eu poderia fazer dentro do que eu gosto que também poderia ser rentável. A partir daí que veio a ideia de desenvolver jogos, porque sempre gostei de desenhar, criar arte e jogar video games”, afirma Ueda. Segundo ele, as inspirações naturais para desenvolver os primeiros jogos são arte, mangá, filmes e vivências de infância.

Os jogos de Fumito Ueda são mais minimalistas, de single players que ele se baseou em sua própria experiência para imagina-los, já que é do tempo que jogava Mega Drive ele vs o computador. Ueda falou sobre seus jogos terem sequências de gráficos e jogabilidade simples e confessou que sempre se coloca na posição do jogador para criar e desenvolver. “Devem ter no mundo pessoas que pensam como eu, que gostam de jogar esses jogos mais simples contra o computador e que provavelmente vão gostar dos jogos que desenvolvi.” O diretor e projetista declarou gostar muito dos animes dos Studios Ghibli e disse que se inspira também neles para desenvolver os jogos que mais gostava de jogar, como Príncipe Persa e Waterword.


 

A palestra mais interativa e divertida foi com o carismático Yoshinoro Ono, criador de Street Fighter II e que até hoje trabalha na Capcom desenvolvendo jogos. Ele trouxe para nós a linha do tempo de Street Fighter, que incluía desde a primeira versão do jogo desenvolvida para um Arcade (fliperama), possuindo somente dois botões sob pressão. Aliás, botão que ele afirma ter sido um erro de criação, pois as máquinas quebravam muito rapidamente com os socos que deviam ser dados para que o jogo correspondesse aos movimentos feitos até a versão mais atual desenvolvida com gráficos mais modernos no estilo Mangá.

Entre um slide e outro, havia perguntas de um quiz que Yoshinoro montou para interagir com a plateia, que valiam prêmios como camisetas e adesivos, pois nunca vi um japonês tão fofinho e animado como ele. Desde o primeiro instante que chegou, demonstrou toda essa simpatia e alto astral, além da alegria de vir visitar novamente o Brasil. Nos mostrou vários personagens novos que foram entrando ao longo dos anos nas versões atualizadas, os diferenciais e curiosidades. Se encantou também em ver, enquanto fazia o levantamento de todas as informações,  quantos personagens e cenários brasileiros o jogo contém. De forma nostálgica e deliciosa, nos lembramos da infância com o fliperama e vimos tudo isso passar na nossa frente como um flashback ao ver as apresentações de power point de Yoshinoro Ono. Um momento inesquecível. Aprender e conhecer mais sobre 30 anos de um jogo que marcou a vida de muita gente.

Na última palestra tivemos a presença de Katsuhiro Harada, diretor de Tekken e Soul Calibur. Ele falou sobre suas primeiras referências, que foram Anime e Mangá, e depois foi adicionando as características regionais. “O que um personagem europeu precisa ter?” Ele se perguntava para poder criar uma história de seu game e por último a faixa etária, características mais amplas do público. Essas foram suas principais inspirações e ele ainda acrescentou: “Processo criativo não é algo fixo, você vai desenvolvendo ao longo do processo. Claro que há personagens que são criados e permanecem de sua maneira original.”

Um exemplo disso é o personagem que luta capoeira, apesar de Katsuhiro ter conhecimentos de diversas lutas marciais porque é um lutador, não teria bagagem para criar um personagem que joga capoeira, então trouxe um profissional americano para ensiná-lo sobre os movimentos. A ideia do personagem se chamar Ed Gordo veio de uma primeira sugestão que ele recebeu e assim ficou. Ele disse não saber se Ed Gordo tem alguma referência para nós e perguntou pra gente o que achávamos. Cada um da plateia acrescentou algo sobre sua impressão do que o nome trazia.

Katsuhiro citou Ono algumas vezes na sua palestra, já que trabalharam juntos na Capcom e são amigos de longa data. — Uma das principais coisas que Odo sempre diz é que se você para  pra ler as histórias dos personagens dos jogos, sempre são histórias bizarras, vocês já pararam para ler? Por isso, nem sempre o que cativa é o personagem. E eu sempre digo que na realidade o personagem principal é quem está jogando – em jogo de luta não precisa ter motivos para lutar, porque o protagonista é o jogador. Já num RPG são necessárias histórias mais fechadas e amarradas para fazer sentido a luta.

E assim encerramos esse dia de palestras. Além de viver essa experiência maravilhosa, eu e outros integrantes do BLAH! acompanhamos toda a feira e exposição, visitamos os principais stands e vamos contar todas as novidades do mundo dos games para vocês. Confira em nosso site a cobertura completa de tudo o que rolou no evento mais esperado do ano e abaixo alguns vídeos com entrevista que fizemos na feira: