Cavalo Dinheiro, filme do diretor português Pedro Costa,  chegou ao Festival do Rio cercado de expectativas. O filme, recebeu o prêmio de Melhor Realizador em sua estreia no Festival de Locarno. A breve sinopse já nós dá indícios de que o obra foge às linguagens mais tradicionais do cinema: “Enquanto os jovens capitães marcham por Lisboa,  o povo de Fontainhas segue à procura de Ventura, que se perdeu na floresta.” Costumo dizer, que escolher filmes por esse tipo de sinopse é sempre uma aposta. No caso de Cavalo Dinheiro, a aposta é positiva.

Narrativa ambientada em Portugal, permeia alguns imigrantes africanos do bairro de Fontainhas, e em sua desconstrução traz uma clara suspensão do tempo. Ventura, o protagonista, habita diversos espaços marcados pela desolação – um hospital, corredores vazios, florestas escuras e elevadores – em todos eles, sente-se abandono e tristeza.  A Revolução dos Cravos, na década de 70, permeia as lembranças do senhor, imigrante cabo-verdiano, de mãos trêmulas e olhar perdido. Vivencia encontros, devaneios e experiências que fogem ao que costumamos chamar de real. Num dado momento, um soldado imóvel, de olhos fechados e rosto pintado, pergunta a ele: “Qual é o seu lugar no mundo?”. Se Ventura parece não saber a resposta, muito menos nós. Estaria vivo? Sonhando? Pouco importa, pois o que se destaca são as sutilezas trazidas em meio as tantas cenas densas. A opção pela predominância do som direto, afirmam um tempo suspenso no vazio; já a fotografia, marcadamente escura, leva o espectador a uma sensação de observar através das frestas e o que vê é pura desolação.

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Se as imagens de Cavalo Dinheiro recebem um cuidado pictórico evidente, o ritmo deixa um pouco a desejar.  A lentidão de algumas sequências parece se perder em alguns momentos, gerando incômodos em espectadores mais afoitos. Assim como na sessões de imprensa do Festival de Nova York, na exibição do último dia 30 de setembro no Festival do Rio, alguns espectadores acabaram por deixar a sala de cinema antes de esgotado o filme. Essa é uma marca que vem se repetindo desde a sua estreia em Locarno, a de promover reações distintas e mesmo opostas no público.

Com orçamento – 150 mil euros – e equipe limitadíssimos, Pedro Costa constrói uma narrativa marcada por uma cumplicidade com as dores do seu personagem Ventura, presente em outras produções suas.  Nem sempre, as mazelas dos outros nos tocam a ponto de nos fazer chorar. Nesse sentido, Cavalo Dinheiro é um filme de uma cumplicidade difícil para os espectadores. Quando passeia pelo documental se torna mais palatável mas, claramente, ser fácil não é o que diretor almeja. É preciso portanto, estar disposto a mergulhar junto aos fantasmas de Ventura, sem garantia alguma de vitória.

BEM NA FITA: fotografia, atuação do protagonista Ventura, desconstrução da narrativa.

QUEIMOU O FILME: lentidão  e o tempo de algumas sequências pode incomodar os espectadores menos pacientes.


FICHA TÉCNICA:
Direção: Pedro Costa
Produção: Abel Ribeiro Chaves
Elenco: Ventura, Vitalina Varela, Tito Furtado
Gênero: Ficção
Duração: 115 minutos
Cor
País: Portugal
Ano de produção: 2014
Produtora: Optec