Terror nacional e cinema de baixo orçamento.

Cinema nacional é cinema de guerrilha. Salvo alguns nomes já consolidados, é recorrente que se faça muito com pouco. A verba destinada para a realização é escassa. Quando a grana aparece, geralmente seu destino são algumas poucas produtoras de grande porte, deixando a grande maioria dos cineastas independentes a mercê da criatividade, da inventividade em escrever e pensar a produção numa realidade artística de baixo custo. Intruso é filho dessa realidade e, como tal, reflete todas as peculiaridades que atravessam o cinema de baixo custo. Positiva e negativamente.

A trama

Intruso é um filme de suspense/terror, dirigido, roteirizado e montado por Paulo Fontenelle, nome relativamente conhecido no underground do cinema independente, e tem como protagonista Eriberto Leão, que interpreta um visitante misterioso, “o intruso”, que dá nome ao longa. A trama gira em torno de uma família que, por razões desconhecidas ao espectador no início do filme, precisa ficar em casa por tempo indeterminado. Eles precisam também acolher esse sujeito desconhecido e acatar suas demandas. Seguir suas regras ou sofrer as consequências.

13 anos de espera e R$ 10 mil

Antes da exibição do filme, diretor e elenco puderam comentar detalhes a respeito do processo de realização da obra. De acordo com Fontenelle, a produção foi rodada há 13 anos e só agora teve chance de ser lançada nas salas de cinema, tendo em conta que não havia verba para colorização, finalização e distribuição. Ressalto ainda que o longa foi produzido com apenas R$ 10 mil, que foram investidos pelo próprio autor/diretor e filmado em 12 dias.

Intruso (3)

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Sei que, na realidade em que vivemos, esse valor não é nenhuma migalha e inúmeros brasileiros não têm acesso a essa quantia, mas parece importante ressaltar que, em números cinematográficos, isso não é nada. Nada mesmo. A grande maioria dos clipes musicais que vemos por aí custa mais do que isso. Alguns muito, mas muito mais do que isso. Realizar um longa-metragem de uma hora e vinte com essa quantia é um feito quase inacreditável e digno de muitas palmas. Todavia – e infelizmente -, essa contenção de despesas acaba se refletindo em tela.

Problemas, muitos problemas

Aliás, todas as áreas de Intruso têm problemas. Pequenos problemas de som, bem como de trilha sonora e atuações deixando a desejar em uma cena ou outra. Além disso, a fotografia e arte também sofrem e, ao espectador mais exigente, devem incomodar. Por outro lado, o roteiro tem seu charme e nos leva até o ápice do filme, no final, ainda com dúvidas a respeito de como a trama vai se concluir.

Intruso (4)

Falar sobre a história para além do que já foi dito seria entregar demais. Me atenho a afirmar que a história é simples, contudo, contada com ‘malandragem’. De pouco em pouco, o autor vai clarificando nossas incertezas, apresentando novas informações que nos levam ao completo entendimento a respeito do que está acontecendo na casa. As dúvidas, somadas ao sentimento claustrofóbico, causam o desconforto necessário a uma obra desse gênero. O elenco é bom. Além do já citado Eriberto Leão, os personagens principais são interpretados por Juliana Knust, Genézio de Barros, Lu Grimaldi, Danton Mello – que se destaca como melhor atuação – e Karla Muga – nossa eterna Grampola da novela “A Indomada”.

Em suma, Intruso talvez seja o reflexo de um cinema nacional independente que sofre com a falta de recursos. Afinal, é feito para além dos limites do imaginável e dependente de muita boa vontade e amor daqueles envolvidos. Acertando e errando, mas tentando. Sempre.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Paulo Fontenele
Roteiro: Paulo Fontenele
Elenco: Eriberto Leão, Danton Mello, Juliana Knust
Distribuição: Pipa Produções
Data de estreia: qui, 31/10/19
País: Brasil
Gênero: suspense
Ano de produção: 2016
Duração: 80 minutos
Classificação: 12 anos