Ao Seu Lado
Crítica do filme
Desterro é o primeiro filme de ficção de Maria Clara Escobar, uma renomada e premiada documentarista. Além de dirigir, ela também assina o roteiro que consegue trazer uma certa poesia que podemos facilmente notar em tela. O filme teve sua estreia no Festival de Roterdã e, posteriormente, foi exibido no Festival do Rio.
O longa-metragem tem como protagonistas Carla Kinzo (Quando Eu Era Vivo) e Otto Jr. (Tropa de Elite), bem como participações de Bárbara Colen (Bacurau), Isabél Zuaa (A Viagem de Pedro), Gerogette Fadel (Aruanas), Grace Passô (Temporada) e Maria José Novais Oliveira (Ela Volta na Quinta).
Na trama, Laura (Carala Kinzo) é uma mulher que visivelmente não está se sentindo bem com a vida que leva. Sempre muito pensativa e aérea durante o cotidiano. Desconfortável com tudo isso, ela resolve sair de casa e pegar um rumo aleatório. Nessa jornada de autodescoberta ela irá se deparar com situações inusitadas na estrada e conhecerá outras histórias como a dela. Enquanto isso, Israel (Otto Jr.), seu marido, terá que lidar com as consequências da partida da mulher.
Não importa o que eu diga e não importa a sinopse que eu coloque aqui, Desterro nunca será nada do que você está esperando. Vale o aviso de que não é uma obra fácil de ser acompanhada pelo grande público e é bem capaz de ficar apenas presa no nicho. A sua linguagem incomum pode dar aversão a alguém despreparado para vê-lo. O grande ritmo experimental pode causar algumas indagações sobre o que está vendo na tela e isso pode tirar o interesse de alguém que aprecie a sétima arte de um modo tradicional.
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Posso dizer também com tranquilidade que esse longa é uma grande experiência poética e até mesmo transcendental. Muitos não devem concordar comigo, mas foi o que senti. Aquela câmera na cara dos personagens nos leva a algo novo e estranho ao mesmo tempo. Na segunda parte do longa, ouvir relatos das pessoas do ônibus foi uma cereja em cima do bolo do qual não esperava. Esse detalhe foi minha parte preferida dele todo e gostaria até de ter ouvido mais histórias do tipo. Consegui me identificar e entender cada transeunte, o que me levou a crer que todo mundo tem uma história a ser contada. Todos merecem ser ouvidos.
Eu desconhecia a palavra ‘desterro’ até ver esta obra. Rapidamente fui ao Google para saber o que é (vivendo e aprendendo). O termo significa basicamente algo como exílio de sua terra natal. No caso, um autoexílio. O interessante é que o filme possui duas partes bem distintas. A primeira, acompanhando Israel, em uma situação em que a burocracia nos dá uma longa dor de cabeça. Na segunda, acompanhamos Laura em sua aventura de autodescoberta. Ficamos ansiosos com o destino da personagem e como ela irá se juntar com a primeira parte. Tudo isso com muitas cenas aleatórias, vide a cena da dança que já considero uma das melhores do ano facilmente.
Definitivamente, Desterro não é fácil de se ver e que certamente dividirá opiniões. O filme chega a ser esquisito em diversos momentos, mas que consegue contar uma boa história mesmo que ela não seja linear ou óbvia. Eu gostei justamente por ser algo muito diferente do que vi por aí em muito tempo. E isso acaba cheirando como ouro. Se você fizer parte daquela galera que ama festivais de filmes, acho que poder ser uma ótima pedida. Caso contrário, acho melhor passar um pouco longe.
A saber, Desterro estreia na próxima quinta-feira, dia 22 de setembro, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
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Não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do ULTRAVERSO:
Carla Kinzo
Otto Jr.
Bárbara Colen
Isabél Zuaa
Georgette Fadel
Grace Passô
Maria José Novais Oliveira
Título original do filme: Desterro
Direção: Maria Clara Escobar
Roteiro: Maria Clara Escobar
Duração: 122 minutos
País: Brasil, Portugal, Argentina
Gênero: Drama
Ano: 2020
Classificação: a definir