Em 1973, Hal Ashby dirigiu uma comédia dramática chamada “A Última Missão”, sobre dois oficiais da marinha americana (Jack Nicholson e Otis Young) que recebem a ordem de escoltar um cadete (Randy Quaid) até uma prisão militar. No entanto, antes de cumprirem com a sua obrigação, eles decidem levar o rapaz para a farra. O filme foi um sucesso, tendo disputado a Palma de Ouro, em Cannes, e recebido múltiplas indicações ao Globo de Ouro e ao Oscar. Com este currículo e fruto da adaptação do romance homônimo de Daryl Ponicsan, que, por sua vez, tem uma continuação, é de se estranhar que tenham demorado tanto para adaptar o segundo livro. Demorou, mas, enfim, foi adaptado. E o responsável é Richard Linklater, um dos cineastas mais originais da atualidade.

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A Melhor Escolha (Last Flag Flying) se passa 30 anos depois. Com os nomes levemente alterados, todos os personagens principais do primeiro longa estão de volta. Agora na reserva e sem se falar há bastante tempo, cada um seguiu um rumo diferente. Sal (Bryan Cranston) é o proprietário de um bar. Mueller (Lawrence Fishburne) abraçou a vida religiosa e se tornou pastor. Já Larry (Steven Carell) continua a trabalhar nas forças armadas, só que em uma função burocrática. Seus caminhos se cruzarão, novamente, com a morte do filho de Larry, um fuzileiro naval, em ação, no Iraque de Saddam Hussein. A dor levará o pai a procurar seus antigos colegas de farda em busca de apoio na árdua tarefa de enterrar o jovem soldado.

 

Inicialmente, o longa-metragem segue a fórmula de histórias onde velhos amigos se reúnem, invariavelmente, devido a alguma razão triste, para viver uma última e emocionante aventura. Entre os sucessos mais recentes deste subgênero estão “Amigos Inseparáveis” (2013), “Última Viagem à Vegas” (2013) e “Despedida em Grande Estilo” (2017). Este nicho tem sido pródigo para que veteranos do naipe de Al Pacino, Morgan Freeman e Robert De Niro, entre outros, brilhem. E se tivesse seguido por este caminho não teria problema algum, pois já seria um grande divertimento. Contudo, como escrevi lá em cima, Linklater é uma das cabeças mais originais da Hollywood atual e a trama, no seu decurso, se transforma em uma ácida e divertida crítica à participação dos Estados Unidos em guerras pelo mundo afora.

Ainda que o texto desta continuação não seja de Robert Towne, o autor do roteiro de 1973, o novo script é repleto de tiradas, piadas e diálogos afiados que levarão o público a rir o tempo todo. A explicação passa pelo fato de Linklater ser um roteirista tão bom quanto é como diretor e por ter contado com a preciosa colaboração do próprio autor do livro. Além disto, atuações como a do verborrágico Bryan Cranston, por exemplo, só valorizam cada palavra que foi escrita. O eterno protagonista de “Breaking Bad” dá mais uma prova de que não existe terreno onde ele não se vire bem. Comédia ou drama, tanto faz para o tamanho do seu talento e quantidade de recursos dramatúrgicos. Ladeado por um Steven Carell que também transita à vontade entre os dois polos, tudo vai muitíssimo bem.

A dobradinha roteiro e interpretações é o pilar desta excelente produção, assim como ocorre em quase todos os demais trabalhos do cineasta. A Melhor Escolha diverte, emociona, instiga e, ainda por cima, é redondinho, feito com esmero e capricho. Pode não ser o melhor filme que vocês assistirão na vida, mas é cinema de qualidade e em sua essência plena.

Desliguem os celulares e excelente diversão.

*Filme visto no 19º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Last flag flying
Direção: Richard Linklater
Elenco: Bryan Cranston, Steve Carell, Laurence Fishburne
Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 01/02/18
País: Estados Unidos
Gênero: comédia dramática
Ano de produção: 2017
Classificação: a definir