Foi com a sala de exibição cheia e com público bastante heterogêneo, que o Cine São Luiz recebeu as últimas exibições de Favela Gay, de Rodrigo Felha, no Festival do Rio. O jovem diretor, foi revelado em um dos episódios de “5x favela – agora por nós mesmos”, produzido por Cacá Diegues e que também assina a produção de Favela Gay. Filme esperado com bastante expectativa, não apenas pela comunidade LGBT, prometia um retrato desse universo em comunidades do Rio de Janeiro.

A obra apresenta um formato consagrado dentro do gênero documentário, em que relatos diversos são entremeados por imagens das realidades apresentadas. É um filme importante, pois além de colocar em pauta a necessária visibilidade LGBT, investiga espaços negligenciados em boa parte das produções cinematográficas – as favelas. Somos assim, levados a conhecer o universo de personagens muito distintas entre si. Esse aliás, é um argumento trazido no filme, através da fala do reeleito deputado federal pelo Rio de Janeiro – Jean Wyllys – a diversidade de uma comunidade que muitas vezes se une por vínculos em comum, como negação e opressão, que sofrem nos inúmeros espaços da sociedade. Não é de se espantar, portanto, que os relatos passeiem pelas tantas histórias de homofobia, luta por aceitação social e reconhecimento familiar. Se de um lado evidencia-se o triste cenário vivido por muitos LGBT, de outro, entram em cena histórias de superação, humor e arte.

Carregado de tanta potência, o filme por vezes traz certa superficialidade com que apresenta seus personagens. Acaba lançando mão, em vários momentos, de algumas caricaturas que marcam o imaginário social acerca de muitos LGBT – exagero, prostituição, drogas, brigas, entre outros. Não é negar a existência de tal realidade, mas vale questionar, em que medida pode corroborar com certas manutenções na forma como são vistos.

Outra crítica importante a se fazer, é a presença discreta de mulheres lésbicas no filme. Diante do crescimento do movimento feminista, algumas questões vêm tomando corpo, como a dominação masculina também percebida entre os LGBT. Incomoda, portanto, que numa produção repleta de personagens, as mulheres surjam simplesmente como elemento secundário.

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Mas, o filme também acerta, como ao trazer a trajetória de Rafaella, transexual que narra o seu percurso de auto-aceitação e conquistas de vida, como o ingresso em uma universidade pública. A cena, em que a mãe abraçada a filha, comenta o reconhecimento e os limites de seu compreensão, é tocante. Ou ainda de Gilmara, que apresenta o seu percurso como militante social no Complexo da Maré, destacando a importância da articulação política LGBT nas favelas.

Favela Gay diverte e é inegável que cumpre um papel necessário, que é o de dar visibilidade a tantos seres humanos que ainda lutam por direitos básicos de sua existência. Mas em mim, deixou a curiosidade em saber o que mais esses personagens e tantos outros das favelas cariocas, podem mostrar para além de certos clichês. No geral, a plateia do último domingo no Festival do Rio, parece ter se entretido com as histórias de Pandora, Martinha, Guinha e tantas outras de uma comunidade LGBT cada vez mais consciente de que é preciso ocupar também o espaço da sétima arte.

BEM NA FITA: Temática e Montagem.

QUEIMOU O FILME: Poderia ter aprofundado mais os personagens.
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FICHA TÉCNICA
Direção: Rodriga Felha
Roteiro: Ana Murgel
Produção: Renata almeida Magalhães, Carlos Diegues
Fotografia: Arthur Sherman
Gênero: Documentário
Ano: 2014
País: Brasil