O diretor/roteirista Alex Ross Perry saiu do drama/comédia “Cala a Boca, Philip” para o drama/suspense psicológico Rainha do Mundo. Pelo título do longa já se pode deduzir alguma coisa a respeito. A história de duas mulheres, digamos, vivendo em boa condição financeira e gozando de privilégios advindos do dinheiro da família que, em certo momento, irão se estranhar e colocar em jogo anos de amizade.

Todos os anos elas se encontram na casa do lago de uma das famílias para relaxar. Porém, na última vez, por conta de alguns eventos, as coisas não saem como esperado. Com a confiança abalada de uma para outra, instala-se uma tensão e hostilidade crescentes no ambiente. Além disso, o ficante da Virginia, Rich (Patrick Fugit), resolve pegar no pé de Catherine, colocando o dedo na ferida sempre que pode.

Dificilmente uma amizade longa e sólida acaba ou racha por incidentes sem grande importância, mas aqui o roteiro trata de exacerbar que, por conta do orgulho, egoísmo, caprichos e infantilidade de Catherine (Elisabeth Moss, do seriado “Mad Men”) e Virgínia (Katherine Waterston), as coisas irão desandar.

O enredo vai compondo o mosaico de acontecimentos anteriores e mescla propositadamente passado no presente numa transposição quase imperceptível. Talvez não tenha sido a melhor escolha, mas funciona, pois serve de arcabouço e vai dando forma à trama. O senão fica por conta do suspense instalado desde cedo que vai deixando o espectador apreensivo e pronto para um desfecho mais impactante (ajudado pela trilha sonora), porém o caminho tomado acaba sendo outro. Todo esse clima acaba resvalando em algo artificial, não chegando a um ponto satisfatório.

As atrizes fizeram um belo trabalho, com interpretações consistentes, segurando o peso do drama, sobretudo quando em close-up invasivo (como o que abre a trama) e nos longos planos-sequência. Tudo no filme contribui para trazer uma atmosfera opressiva ao filme, como a postura passivo-agressiva de ambas ao lidarem com mágoas passadas, com Virgínia observando de perto a derrocada da amiga que segue na mesma direção de seu pai que se suicidou por conta de uma severa depressão.

Rainha do Mundo é um daqueles filmes que constrói uma considerável expectativa ao longo de sua exibição, mas não cumpre o prometido (ou apenas não tenha conseguido cumprir). E muito provavelmente não cairá nas graças do público em geral pela escolha da narrativa e peso da trama, com um desfecho aquém da história que se delineava. . O final não traz respostas, mas agradará aos que se contentarem com o jogo psicológico do longa.

(Filme assistido no 17º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro na Mostra Panorama do Cinema Mundial).

:: TRAILER

:: FICHA TÉCNICA

NOME ORIGINAL: Queen of Earth
DIREÇÃO: Alex Ross Perry
ROTEIRO: Alex Ross Perry
FOTOGRAFIA: Sean Price Williams
MONTAGEM: Robert Greene
DIREÇÃO DE ARTE: Anna Bak-Kvapil
FIGURINO: Amanda Ford
MÚSICA: Keegan DeWitt
ELENCO: Elisabeth Moss, Katherine Waterston, Patrick Fugit, Kentucker Audley, Keith Poulson, Kate Lyn Sheil, Craig Butta
ESTÚDIO: Her Majesty September, Forager Film Company
PRODUÇÃO: Elisabeth Moss, Alex Ross Perry, Adam Piotrowicz, Joe Swanberg
PAÍS DE ORIGEM: EUA
ANO: 2015
DURAÇÃO: 90 minutos
GÊNERO: Drama