Ao Seu Lado
Crítica do filme
O ano era 2018 quando ‘Homem-Aranha: No Aranhaverso’ estreou, aqui no Brasil foi no início de 2019. Naquela época, mal saiba que estaria indo ver uma obra-prima do cinema em formato de animação. Tão bom que ganhou o Oscar de Melhor Animação naquele ano acabando com uma dinastia grande da Disney/Pixar. Após cinco anos, ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’ chega com a responsabilidade de ser maior e melhor que o original. O tempo irá dizer se conseguiu esse feito. No momento, posso dizer que ele é uma viagem visual incrível que precisa ser apreciada da melhor forma possível. No caso, dentro de uma sala de cinema.
Miles Morales (Shameik Moore) é o Homem-Aranha amigão da vizinhança do Brooklyn de sua respectiva Terra. Nesse novo capítulo, ele irá ser transportado para uma nova aventura através do Multiverso junto com sua melhor amiga Gwen Stacy (Haille Steinfeld) e outros novos Homem-Aranhas, cada um de uma dimensão diferente. Contudo, Miles vê seu mundo começar a ruir quando ele é confrontado com um impasse que poderá mudar sua vida para sempre. Além disso, precisará lidar com um novo vilão que pretende destroçar a realidade de nosso herói.
Se na primeira aventura as técnicas de animação usadas já eram de outro mundo, aqui elas conseguem se superar muito mais. A quantidade de técnica sobre técnica é tão incrível que só de pensar no trabalho que deu já me deixou maluco. O melhor disso é que ela não está ali apenas para mostrar como eles são bons no que fazem, essa diferença artística também ajuda a contar a história. Sendo cada personagem de uma dimensão diferente, cada um é desenhado em tela de modo diferente uns dos outros.
Uma única reclamação que faço a isso é que em alguns momentos de muita ação envolvida, fiquei um pouco tonto. Era tanta informação na tela junto com “milhões” de quadro por segundo que parecia que meu cérebro não conseguia acompanhar tudo. Sou um ferrenho defensor de ver um filme com o áudio original, mas por ter muita informação em tela, dessa vez vou indicar que vejam dublado. Ter que entender tudo o que está acontecendo em tela e ler ao mesmo tempo, pode dar uma “bugada”.
A ação é ótima, as técnicas de animação são incríveis, mas nada disso adiantaria se a história fosse qualquer coisa. É nesse momento que entra o roteiro que nos dá aquele algo a mais. A maioria dos heróis que vemos por aí são órfãos, mas Miles Morales é uma grande exceção a essa regra. Ele possui pai e mãe vivos e a relação entre eles é incrível. Diversos dilemas entre pais e filhos são levantados e todas as conversas comovem e dão aquele tom de maturidade que não esperamos em obras do estilo.
Esse é tanto o ponto central de desenvolvimento do personagem que entra direto no cerne da história. A relação entre eles irá convergir a ponto de colocar o mundo do nosso herói em perigo. O amor, nesse caso, pode destroçar tudo ao mesmo tempo que esse mesmo amor seja a única fagulha de esperança para tudo. Chega a ser poético o dilema que nosso protagonista passa e isso já o torna um dos heróis mais interessantes e trabalhados da história dos super-heróis. O que seria de um Homem-Aranha sem um dilema crucial que pode levar a tragédia? Será que essa é a única hipótese possível?
Nesse longa, a Gwen deixa de ser a melhor amiga do Miles Morales para praticamente virar uma nova protagonista. Ela ainda fica ali um pouco na sombra e agindo como uma ótima coadjuvante, mas ela possui um dilema tão grande quanto o nosso herói principal. Esconder a sua identidade do próprio pai é algo doloroso. O seu desenvolvimento também é muito grande, e é incrível ver a jornada da personagem desde o início do longa até o seu momento final. Ela cresceu o suficiente para se tornar algo bem maior do que apenas uma coadjuvante.
O vilão principal desse longa é o Mancha (Jason Schwartzman) que logo no início se mostra um personagem cômico excelente, mas que aos poucos vai crescendo e se tornando cada mais complexo e sombrio. Um verdadeiro nêmesis para nosso herói. O que eu não sabia e não esperava é que um outro vilão iria surgir e de onde menos esperávamos. Ele é um dos Homem-Aranha que poderíamos confiar. A motivação existe e mesmo ele fazendo as coisas que faz com o sentimento de estar fazendo o certo, não tira a crueldade que seria indigno a qualquer outro herói que use essa alcunha. Mas calma, ainda temos tempo para a redenção.
Um dos grandes deleites de viajar no Multiverso é ver a maior variedade possível de cada personagem. Segundo os responsáveis pela obra, são 240 Homens-Aranhas diferentes nesse filme. São tantos que fica até difícil distinguir todos. Temos Homem-Aranha T-Rex, gato, cowboy, depressivo, psicólogo, robô, LEGO, versão live-action, versão dos games, e por aí vai. Mas preciso mencionar o meu favorito que é o Spider-Punk, Hobie Brown, vivido pelo Daniel Kaluuya (Corra!). Eu diria que se ele ficasse mais tempo no filme, roubaria toda a cena. Maravilhoso, e já quero mais desse Homem-Aranha punk e anarquista.
Se preparem para muitas referências, principalmente no momento em que estamos na base principal dos Homens-Aranhas.
O seu clímax é perfeito com uma cena de ação incrível, mas é logo depois dele que consegui achar o seu único ponto fraco de todo o longa. Se ele se encerrasse logo após esse momento, certamente ele teria a minha nota máxima, mas não foi o que ocorreu. Como esse é a primeira parte de dois filmes, ele deveria acabar com um gancho impactante para a continuação. O grande problema é que essa parte final se arrasta e não temos esse momento de impacto preciso e que estava iminente na obra. A sua longa duração (140 minutos) me fez chegar nesse desfecho um pouco cansado e uma enxugada no seu fim poderia ter resolvido a situação.
Não há dúvidas que ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’ é um dos grandes eventos cinematográficos do ano. Só não terá a nota máxima por detalhes de ritmo nos seus momentos finais. Tirando isso, ele está mais do que recomendado, e por favor, tentem vê-lo no cinema. Ele foi feito para ser visto na melhor sala possível. A sua jornada visual é tão incrível quanto a jornada da história de nosso protagonista. Uma tela grande pode fazer uma diferença na imersão e no impacto do público que for assisti-lo. Altamente recomendado.
PS: A parte 2 já está programada para 2024. O final irá causar uma revolta por não ter exatamente um fim, mas logo logo estaremos vendo o seu desfecho.
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Título original: Spider-Man: Across The Spider-Verse
Direção: Joaquim dos Santos, Kem Powers e Justin K. Thompson
Roteiro: Phil Lord, Christopher Miller, Dave Callaham
Elenco: Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Oscar Isaac, Jake Johnson, Issa Rae, Brian Tyree Henry, Luna Lauren Velez, Rachel Dratch, Daniel Kaluuya, Andy Smaberg, Jason Schwartzman, Karan Soni, Amandla Stenberg, Jorma Taccone, Shea Whigham
Onde assistir: Somente nos cinemas
Data de estreia: 1.º de junho de 2023
Duração: 140 minutos
País: Estados únicos
Gênero: Animação, Aventura
Ano: 2023
Classificação: 10 anos