Ao Seu Lado
Crítica do filme
Em cartaz na Netflix, A Mulher na Janela (The Woman in the Window, 2018) é um filme com seríssimo problema de identidade. Pudera, desde 2018 o longa dirigido por Joe Wright vem sofrendo alterações devido, a princípio, às reações negativas que o filme sofreu em sessões privadas. Tanta mudança acabou com a identidade da produção, deixando-a, em outras palavras, esquizofrênica, sem saber exatamente o que ela é, para onde ir e, por fim, onde quer chegar.
Não diria que A Mulher na Janela é um desperdício completo. Afinal de contas, Wright é bom um diretor. Ele sabe filmar, bem como editar um filme, entregando, assim, um produto agradável, esteticamente falando. Porém, ele coloca tudo a perder quando não sabe em qual direção ir, que tipo de obra ele quer fazer e, principalmente, não saber usar o grande elenco que tem em mãos.
Para se ter uma ideia, estamos falando de nomes que brilham há décadas; casos de Gary Oldman, Julianne Moore, bem como Jennifer Jason Leigh; nomes consagrados atualmente, como Amy Adams e Anthony Mackie e, por fim, revelações; como Wyatt Russell e Brian Tyree Henry. Um time que, com um roteiro coeso e uma direção firme, transforma qualquer produção em um grande filme. Pena que as derrapadas de A Mulher na Janela colocam tudo a perder.
Em suma, em A Mulher na Janela acompanhamos os passos (ou melhor dizendo, os olhos) de Anna Fox (Amy Adams). Uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia e, assim, não consegue sair de casa. Com a chegada de seus novos vizinhos que compraram a casa de frente a sua, ela suspeita que o jovem Ethan (Fred Hechinger) sofre abusos psicológicos do pai Alistair (Gary Oldman), com a conivência da mãe, Jane (Julianne Moore).
Obcecada com o caso, ela passa a observar os movimentos da casa com o zoom de sua máquina fotográfica até que, aparentemente, ocorre uma fatalidade. Por causa de seus transtornos psicológicos e seu constante hábito em misturar medicamentos com álcool, ninguém acredita nela. Nem David (Wyatt Russell), o inquilino que vive em seu porão; tão pouco o seu psiquiatra Dr. Landy (Tracy Letts); nem seu ex-marido Ed (Anthony Mackie), com quem, a saber, vive com a filha do casal e fala diariamente com a esposa pelo telefone.
A primeira referência que temos ao assistir A Mulher na Janela é justamente um dos maiores clássicos da história do cinema. Óbvio que estamos falando de ‘Janela Indiscreta (Rear Window, 1954)’, uma das grandes obras de Alfred Hitchcock, estrelada por James Stewart e Grace Kelly. Afinal de contas, a história é basicamente a mesma. A saber, uma pessoa confinada, que passa a observar seus vizinhos pela sua janela com sua câmera fotográfica, até presenciar um crime.
Mas, temos aí dos problemas. Um deles é o mais óbvio. Em suma, Wright não é Hitchcock. Para falar a verdade, não chega perto de ter o mesmo talento do Mestre do Suspense. O segundo é querer homenagear o cineasta usando elementos de outros dois de seus grandes clássicos. A saber, ‘Psicose’ (Psycho, 1960) e ‘Um Corpo Que Cai’ (Vertigo, 1958). Em outras palavras, o filme vira uma tremenda bagunça. Ora quer ser um drama, ora um thriller psicológico ou, enfim, um suspense convencional.
Por fim, toda essa bagunça acaba comprometendo o andamento do filme, bem como com a identidade da produção. Fazendo com que, embora seja bem filmado, A Mulher na Janela não chega a entreter ou surpreender o espectador. Ainda mais que a resolução da história seja extremamente batida e explicada em dois minutos, da maneira mais infantil possível.
Título original do filme: The Woman in the Window
Direção: Joe Wright
Roteiro: Tracy Letts
Elenco: Amy Adams, Fred Hechinger, Gary Oldman, Julianne Moore, Jennifer Jason Leigh, Wyatt Russell, Brian Tyree Henry, Anthony Mackie
Onde assistir: Netflix
Data de estreia: sex, 14/05/21
País: Estados Unidos
Gênero: mistério, suspense, drama
Ano de produção: 2018
Duração: 100 minutos
Classificação: 16 anos