Um lançamento recente da Editora 34 traz à tona mais uma coletânea de contos russos. Trata-se de Meu companheiro de estrada e outros contos, escrito por Maksim Górki e organizado e traduzido por Boris Schaneiderman. São 16 contos que representam as diversas fases da atuação literária do escritor, porém, segundo o tradutor, o livro não pretende ser representativo de toda a obra gorkiana, “é apenas um fragmento do seu mundo”. Nesse mundo gorkiano, figuram prostitutas, mendigos, ladrões, além de ambientes percorridos pelo próprio autor.
Os assuntos explorados pelo russo justificam a declaração de Otto Maria Carpeaux de que “Górki cumpriu para as camadas do povo russo a mesma missão que Dickens cumprira para as classes médias da Inglaterra”. O retrato de pessoas que viviam à beira da marginalidade se relacionam com  a biografia do escritor russo que nasceu em uma família sem recursos e desde cedo teve que arranjar diversos trabalhos para conseguir se sustentar. Nesse sentido, o escritor trabalha com o que lhe é um tanto familiar o que faz suas histórias soarem mais verídicas e coesas.
O estilo direto e sem grandes floreios de Górki contribui bastante para a leitura. A prosa é fluída e as narrativas despertam interesse e curiosidade. Não é raro ter a sensação de que o russo está ali falando sobre as histórias em vez de escrevê-las. Em “Vovô Arkhip e Lionka”, avô e neto perambulam por várias aldeias em busca de alimento e de esmola, como diz o avô. Arkhip está doente e fica aflito com o futuro do neto depois de sua morte: “Percebia que ia morrer em breve e, embora o considerasse com absoluta indiferença, sem pensamentos, como algo obrigatório, inelutável, preferiria morrer longe dali, em sua terra e, além disso, comovia-o fortemente a lembrança do neto…Para onde iria Lionka?”.
A temática social também está presente de forma bastante significativa em “Certa vez, no outono” e em “Vinte e seis e uma”. No primeiro conto, duas pessoas se aproximam e tentam combater juntas o frio e a fome. Já o último refere-se a vinte e seis funcionários de uma fábrica de sequilhos que possuem uma jornada de trabalho exaustiva, realizada em um porão insalubre. A alegria desses funcionários é ocasionada com a visita diária de uma jovem chamada Tânia, mas ela passa a se interessar por outro homem e provoca ciúmes nos empregados. Chama a atenção a maneira com que o autor descreve os trabalhadores que são chamados de “vinte e seis máquinas vivas”,  reflexo das péssimas condições em que viviam.
De maneira geral, Meu companheiro de estrada e outros contos oferece uma amostra de um autor que simbolizou importantes transformações ocorridas no seu país.
 
Ficha técnica
Título: Meu companheiro de estrada e outros contos
Autor: Maksim Górki
Organização, tradução, prefácio e notas: Boris Schnaiderman
Editora 34
Ano: 2014
Idioma: Português
Especificações: Brochura, 400 páginas
ISBN: 8573265663
Peso: 0,494 kg
Altura: 21cm
Largura: 14cm