Diretor de dois filmes ganhadores de Oscar de melhor produção em língua estrangeira (A Separação e O Apartamento, também indicado na categoria roteiro original), além de prêmios nos Festivais de Berlim e Cannes, o iraniano Asghar Farhadi, volta à sua terra natal, para o drama de suspense Um Herói.

O longa, que no Festival de Cannes deste ano, ganhou o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio François Chalais, conferido a filmes com valor afirmativos sobre a vida e o jornalismo. A produção terá exibição pela primeira vez no Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que acontece entre 21 de outubro e 03 de novembro.

Sinopse de Um Herói, de Asghar Farhadi

Protagonizado por Amir Jadidi, o filme segue a história de Rahim, um homem que foi preso por dever dinheiro, e, quando tem a chance de sair da cadeia por dois dias, arma um plano, com ajuda de sua namorada, que encontrou uma sacola com ouro perdida na rua. Mas quando descobre que este vale menos que o imaginado, ele tem uma ideia. Espalhar anúncios procurando o verdadeiro dono, e, assim, ganhando publicidade como um homem honesto. Farhadi, que também assina o roteiro, explica que a origem da trama está em fatos reais, mas em nenhum específico.

Como em todo os filmes do cineasta, esses acontecimentos são permeados por dubiedade e nuances. Sem trazer respostas simples em suas narrativas, Farhadi conta que isso não é intencional.

A ambiguidade vem naturalmente durante a escrita, e devo confessar que gosto disso. Esse aspecto faz a relação entre o filme e o público durar mais, ir para além da sessão. Dá a possibilidade de se refletir mais sobre o filme. Combinar ambiguidade com uma história que lida com a vida cotidiana é um desafio interessante.”

Personagens realistas

O diretor resolveu situar a trama do longa em Shiraz, no sudoeste do Irã, onde há “muitas ruínas históricas, traços importantes e gloriosos da identidade iraniana. A principal razão pela escolha dessa cidade é por causa da especificidade da trama e dos personagens. Eu também queria ficar longa da tumultuada Teerã.”

A construção realista das personagens, de acordo com o diretor, é marcada pela complexidade. “As pessoas são feitas de uma multiplicidade de dimensões, e, em certas circunstâncias, uma destas toma a frente e se torna mais visível. Esses personagens não são estereotipados.” No caso específico do protagonista, explica, seu sorriso é parte fundamental de um conjunto que apareceu progressivamente ao longo dos meses de ensaio.

Família e solidariedade

Outro elemento importante nos filmes do diretor iraniano são as famílias e a solidariedade entre seus membros. E, em Um Herói, são centrais para a trama e as personagens.

As relações familiares são mais desenvolvidas nas cidades pequenas, e, quando um dos membros enfrenta um problema, todo mundo se envolve. Eu cresci nesse tipo de ambiente sociocultural. Vinte anos atrás, a frase “Não é problema meu” não existia na língua iraniana. Esse comportamento foi importado e materializa um novo modelo de relacionamento na nossa sociedade.”

A contemporaneidade da sociedade iraniana também se manifesta no filme na presença das redes sociais. E Farhadi destaca isso como crucial na vida de seus conterrâneos.

Isso é um fenômeno novo, mas o impacto é tal que é difícil lembrar como era a vida antes disso. Minha experiência pessoal me leva a crer que essa sensação é mais óbvia na sociedade iraniana do que em qualquer outro lugar. Acredito que possa ser explicado pela situação sociopolítica do país.”

Por fim, Asghar Farhadi define Um Herói como um filme no qual “todas as personagens têm suas razões, para agir como agem. Elas são repletas de contradições. Não quero dizer que todos os atos sejam justificados. Não é sobre legitimação, mas compreensão. Ao se saber os motivos que levaram alguém a agir, podemos o compreender sem tomar o seu partido.”

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