Há uma certa fórmula para que JRPG’s funcionem inclusive no ocidente. Na verdade, jamais tive sequer alguma relação de amor e ódio com a franquia Neptunia. Esta foi a minha primeira incursão no game que, aparentemente, é um modesto RPG, que possui muito diálogo e pode frustrar algumas pessoas pelo excesso. Na verdade, a maioria das pessoas que acham que ‘entendem’ de jogos, imaginam que alguns precisam ser sérios ou ter um gráfico absurdamente belo para que o mesmo venha a ganhar uma chance. Algumas vezes, mera competência mecânica basta ou então algo especial que o diferencia das outras centenas de jogos que aparecem por aí.

Desde que o último jogo da série foi lançado há três anos atrás, muita coisa se passou, inclusive remakes e spin-offs, que, pela capa de seus jogos, poderiam ser chamativos ao passar dos olhos. Ao invés de ser o sétimo título provindo da franquia, Megadimension Neptunia VII confunde a mente de qualquer um quando, na tela de título, o jogo pronuncia sua versão como V-two, ou uma espécie de V.2. As histórias da franquia Neptunia sempre contaram com um certo nível de alegoria frágil, ao mesmo tempo mostrando ‘peitinho’ e ‘bundinha’ em algumas cenas, até que tenta ao máximo cativar o jogador com seu excessivo diálogo entre os antagonistas e protagonistas que acabam aparecendo diversas vezes na tela (óbvio). É o quarto capítulo da série ‘Dimension’, marcando a estreia no PS4. Assim como outros títulos da franquia, não há a menor necessidade de jogar os anteriores para entender a história em Neptunia VII, no entanto, esse novo título faz várias referências a acontecimentos ocorridos em Neptunia Victory e que, provavelmente, irão agradar aos fãs de longa data.

A trama do game inicia com os personagens icônicos da série, Neptune e Nepgear. Para aqueles não iniciados na série, o jogo tem lugar em um mundo chamado Gamindustri e toda as principais personagens são uma espécie de modelo de console. Todo mundo ali parece ser representante da Sony, da Nintendo, da Microsoft no mundo das plataformas, havendo assim um monte de referências e piadas sobre a área. A história é realmente muito profunda, apesar um pouco exagerada. O jogo coloca a protagonista Neptune atendendo um chamado de resgate da Zero Dimension e lá encontra um estranho console branco que lembra MUITO o Sega Dreamcast, o qual ela leva para as outras CPUs e, de lá, todas acabam sendo sugadas para essa dimensão. Drivers EXE agora são tratados mais como um recurso consumível e já não transitam de uma batalha até a outra. Sempre que uma CPU se transforma em sua forma HDD, um barra EXE e algumas ações são gastas ao invés de SP. Enquanto isso, as ações são a alma de uma CPU e é importante frisar neste ‘mero’ detalhe. Possivelmente, o gamer ficará perdido no desenrolar da trama, mas a mesma é dividida em Zero Dimension, Hyper Dimension e Heart Dimension. Cada mundo tem seu próprio enredo e o foco acaba sendo nos novos personagens introduzidos no game, tais como Uzume e Umio. O jogo coloca os players diante do mistério do surgimento de uma quinta CPU (Uzume, representante do Dreamcast) e todas as coisas envolvendo a história dela. Uzume é uma ótima personagem e as motivações dela acabam carregando toda a aventura, com Neptune sendo guiada pelas novidades desse universo através dela.

Há diversas novidades no sistema de batalha, tais como ‘Batalha de Gigantes’ e ‘Quebra Peças’, onde as mesmas adicionam estratégias e ação extra ao clássico sistema de combate baseado em turnos da série. Batalha de Gigantes leva os jogadores a outro reino para enfrentar chefões enormes e Quebra de Peças permite aos jogadores roubar certas peças dos inimigos para desabilitar seus ataques. Na verdade, apesar dos modos acima mencionados, o jogo possui certa dificuldade desequilibrada. Ainda que você seja bom no mundo dos RPG’s, certamente irá se deparar com um início que pode ser um desafio, pois os locais de saves demoram a aparecer e você certamente morrerá bastante antes que o encontre. Há também ataques de equipes que dependem de seu posicionamento no campo de batalha e do personagem em uso. Você não conseguirá ‘combar’ sempre e, para isso, é preciso que cada personagem tenha uma afinidade com os outros. Quanto maior essa característica for, mais poderosos serão os ataques. É algo bem louco e você sequer pode imaginar a quantidade de variáveis possíveis de combo. O combate por turnos é grande e pode deixá-lo (a) em dúvida sobre qual golpe usar, seja ele buff (heal) ou dar ao personagem um certo sustento ao ganhar um buff que aumenta seu ataque e defesa. O sistema de combinação precisa de um pouco de trabalho e pode deixar perdido quem não é familiarizado com o gênero.

Para este formato de jogo (JRPG), os gráficos são suficientes e não precisam de algo “óóóóó que coisa mais linda mais cheia de graça, com gráficos de última geração”. Na verdade, quem AMA o gênero jamais se importará com gráficos. Normalmente, quem tende a ter preferência por RPG, ARPG e/ou JPRG, prende a atenção em detalhes como as novidades nos quesitos jogabilidade, skills e estratégia. O fluxo de progressão parece um pouco desigual nos níveis mais baixos. Pelo menos uma das masmorras era muito difícil se comparada às fases anteriores. Neste caso, ir e voltar e upar seu personagem é a solução para conseguir melhora-lo. Uma série de características vieram do jogo ‘Victory’, retornando muito melhor. O sistema Scout, onde os jogadores podem enviar NPCs em masmorras para procurar novos inimigos, itens, dinheiro ou mesmo masmorras escondidas foi altamente melhorado.

Houve algumas melhoras em relação aos jogos anteriores e “Neplunker”, que é um mini-game completamente separado do jogo principal, possui elementos do clássico “Spelunker” e – como o nome sugere -, as Neps devem se aventurar pela masmorra Neplunker para ganhar itens especiais! Eu vi coisas que realmente fizeram com que eu amasse esse jogo, apesar de alguns pontos irritantes como a quantidade em excesso de diálogo. Ainda assim, o jogo é realmente bem interessante para amantes do gênero.

Graficamente, o jogo é bem legalzinho, mas poderia ser melhor, claro. As especificações recomendadas no PC para o título também são bem pesadinhas. Enquanto VII é um jogo de PS4, seus gráficos realmente não tentam jogar o console aos seus limites e fritar componentes. Aliás, há outras configurações no jogo para PC que corrigem a taxa de framerate. A chegada da franquia ao PS4 sabe bem o quanto o mesmo ganhou novos ares.  Adicione a isso a trilha sonora cativante de qualidade, mesmo que se apoie demais num J-Pop com um old tecno, que de imediato recordará a faixa ”Sash – Ecuador” com um tom meio genérico, claro. A música é bastante alegre e divertida, encaixando bem no humor e estilo do jogo.

O VEREDICTO

Com uma jogabilidade surpreendentemente agradável e inteligentemente estruturada, com uma história com teor cômico acima do normal, Megadimension Neptunia VII é JRPG que faltava para PS4. Muitos do gênero chegaram para o console, mas não conseguem manter uma qualidade tão boa quanto a introduzida neste game. A história é agradável, os personagens são simpáticos e as novas mecânicas que foram introduzidas são muito mais atrativas, criando uma experiência única. Mesmo que não seja uma evolução de grande dimensão, o jogo funciona muito bem para seu público. Em diversos momentos são abertas as portas a novos jogadores, mas é preciso que estes estejam dispostos a aceitar as suas extravagâncias e – o principal – um nível de dificuldade acima do normal para games do tipo.

MEGADIMENSION NEPTUNIA VII‘ FOI TESTADO PELA EQUIPE DO BLAH CULTURAL NO CONSOLE PLAYSTATION 4. COPIA DIGITAL GENTILMENTE CEDIDA POR IDEA FACTORY.

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