Ao Seu Lado
Crítica do filme
A SEGA não tem tido tanto êxito ultimamente com seus lançamentos. Após o fracasso no mundo dos consoles (sua última tentativa foi o Dreamcast), a desenvolvedora aprendeu que investimento deve ser a alma do negócio. Apesar do insucesso nos últimos anos, ela foi contundente no lançamento de Shenmue 1 e 2, ambos lançados para Dreamcast, sendo o segundo título também lançado para Xbox Classic. A SEGA mostrou que a fórmula do sucesso era seguir por este caminho da diversidade.
São poucas as organizações mafiosas que chegam a ter uma fama internacional tão grande e apesar de serem uma espécie de ‘bandidas’, tanto a máfia italiana quanto a Yakuza conseguem até hoje mexer com a imaginação de muita gente. Seja por meio de filmes, seriados, desenhos animados, quadrinhos, jogos eletrônicos ou outros veículos, as práticas do grupo foram divulgadas pelo mundo e sua fama – ou infâmia – se propagou de forma romantizada, angariando admiração, respeito e (por que não?) medo. Falhas não admissíveis de subordinados ao não cumprir ordens dificilmente resultam em simples broncas ou “demissões”, sendo predominantes as punições por meio de violência física e mortes. Essa violência é escancaradamente mostrada em Yakuza 0. O primeiro boss, por exemplo, que é um dos três ‘líderes’ da máfia japonesa, acaba falhando com seus ‘irmãos’ da gangue, tentando diretamente uma possível traição. Esse erro acaba sendo “pago” por meio da prática do yubizume, ou seja, a amputação de um dos segmentos do dedo mindinho.
O jogo, que foi distribuído exclusivamente no mercado japonês e lançado originalmente em dezembro de 2015 para Playstation 3 e 4, finalmente chegou ao Ocidente mostrando ser um game de 2015, mas com jogabilidade e gráficos dignos de um jogo de 2017.
Kiryu é um lendário lutador pertencente à família Dojima. Um membro da Yakuza. Ele tem como missão inicial dar um susto em um empresário e deixá-lo ruim ‘das pernas’. Com isso, ele vai ao encontro do seu ‘cliente’, o magnata Loan Shark, que tenta induzi-lo a entrar para a organização. O pedido é negado, o que deixa um clima de tensão no game, prendendo à atenção do player. Depois de um tempo, o protagonista encontra um velho amigo chamado Nishikiyama que o leva para dar um passeio. Eles acabam bebendo juntos, batendo papo e até cantam no Karaokê (isso é uma missão sua, tentar entreter Kiryu e os demais), acredita?
Yakuza 0 é praticamente um prólogo situado no Japão em dezembro de 1988. Nesta época, Kazuma era novato na Yakuza e tinha apenas 20 anos de idade. Além de acompanhar a ascensão de Kiryu à maior gang japonesa de todos os tempos, o jogador poderá conhecer um pouco mais dos distritos de Kamurocho e Sotenbori, além da decadência financeira que a noite pode causar com cassinos, bares dentre outros.
Há outro protagonista direto, na casa dos 24 anos, chamado de Gorô Majima, que, com seu tapa-olho, é a estrela do enredo que acontece em Osaka, onde administra o melhor cabaré da região. É muito fácil entender a importância de cada personagem e como eles reagem a certas situações, alias Yakuza 0 é uma perfeita entrada para quem sempre ouviu falar na franquia, mas nunca conseguiu jogar – afinal os jogos da franquia (Ryo Ga Gotoku) têm dificuldade de alcançar o Ocidente. Os fãs apreciarão tanto o game pelo contato direto com certos personagens (especialmente os protagonistas Kazuma Kiryu e Majima Goro) em seus dias mais jovens quanto como pequenos toques e dicas no atual Kamurocho.
A história de Yakuza 0 segue um padrão muito similar aos jogos anteriores, sendo dividida em partes, uma para cada personagem principal da trama, que, no final, acabam por se interligar de maneira bem interessante. A trama imposta é vista por diferentes perspectivas e se desenvolve gradativamente, levando um considerável tempo para o jogador entender tudo o que está acontecendo. Aliás, fique esperto durante a conversa entre Kazuma e outros ‘npcs’ durante o jogo. Tudo é interligado e fará falta no futuro se você não prestar atenção tanto durante os CGIs ou durante as conversas pré-combate. Goro e Kiryu recebem, enfim, um tratamento, em seus respectivos roteiros, excepcionalmente bom e o resultado disso é um arco incrível, complexo e muito bem detalhado do que acontece do inicio ao fim do enredo.
Para os iniciantes, o save do jogo é feito em uma cabine telefônica. Depois de efetuar uma ligação aos seus possíveis patrões da máfia japonesa ou até mesmo para um amigo, é que o jogador irá entender como são feitos os saves. Como o ambiente é uma cidade, se torna muito fácil encontrar duas ou três cabines – foi divertido recordar que isso já existiu aqui no Brasil.
A história é muito boa e intriga até o fim. Você controla Kiryu em Kamurocho e Majima em Soutenbori. Diversos locais são exclusivos para cada um desses personagem e também os minijogos. Você terá uma chance única, em mil, de ver Kiryu se tornar o famoso Dragão de Dojima. Cada personagem tem subcategorias exclusivas. Kiryu tem 60 subtramas e Majima tem cerca de 40.
Yakuza 0 entrega algo muito satisfatório em relação à trama. É possível ver o quanto algumas reviravoltas e conclusões podem ser imaginadas. Outras são bem-vindas, levando a um desenrolar da história altamente memorável e satisfatório. Embora tenha sido estabelecido em 1988, muito antes do primeiro jogo de Yakuza, você poderá jogar normalmente este game sem sequer se preocupar com o que aconteceu em jogos anteriores.
Você lembra de como era bom jogar Shenmue no Dreamcast e Shenmue 2 no Xbox Classic? Pois bem, além do jogo lembrar este formato, um dos melhores lançados pela Sega até então, o ponto forte também são os mini games e, em Yakuza 0, podemos encontrar clássicos como Space Harrier, Hang-On, Fantasy Zone e Out Run.
Um fator importantíssimo que o jogo ensina é que, dependendo do local onde irá adentrar, é necessário antes de tudo ter um preparo físico (potions e itens para reduzir dano) e psicológico.
Por um lado, é simples e direto. Estilos de golpes são restritos a cada personagem e a variedade é aceitável, porém rústica demais. O combate contra os chefões de fase é tão constante e cansativo que depois de umas 10 lutas, você deixa de se importar com o que acontece na tela e começa a bater simplesmente porque precisa, não porque está necessariamente empolgado com o ritmo. Lutas em Yakuza funcionam da mesma maneira que batalhas aleatórias em RPGs japoneses, ou seja, não é necessariamente por turno, mas você precisa ‘encostar’ no inimigo para a batalha acontecer – ou pode sair por aí correndo e evitar tamanhos embates, entretanto, vai lhe custar caro, pois é através desses confrontos que você ganhará Ienes para sobreviver no jogo. A cada cinco passos, você acaba encontrando alguém querendo te enfiar a porrada. Não ajuda também que a engine tem um carregamento relativamente lento para entrar e sair do combate, fato que era bem pior nos antecessores, mas que a essa altura se esperava um pouco mais de refinamento.
Yakuza 0 mantém o ritmo dos jogos ‘anteriores’ da franquia, permitindo modo offline e multiplayer online para dardos, boliche, danças, bilhar, karaokê, fliperama, entre outros itens incrivelmente envolventes para tirar aquele peso das costas de ser um mafioso da Yakuza. Além disso, é possível voltar aos tempos ‘da antiga’ com certa nostalgia. Na versão offline, você nem precisa de várias sequências, exceto para a dança e karaokê. É um prato cheio para diversão. A dança, por exemplo, lembra muito Hatsune Miku e suas músicas. Aliás, há recompensas gratificantes caso você tenha aquele remelexo e movimentos extras antes das sugestões de tempo. Em vez de apenas encorajar, parece, em certos momentos, com torneios de Hatsune Miku e similares.
Não vá pensando que você ganhará pontinhos de experiência. Diferente de outros métodos de como evoluir seu personagem, em Yakuza 0 o que manda é o dinheiro adquirido em suas lutas. Aliás, saiba economizar, afinal as atualizações de Kazuma ou Gordo são compradas com dinheiro para combinar o tema do jogo. Para obtê-lo depois de lutas, você pode jogá-lo no ar para distrair – pode inclusive jogá-lo, por sua conta e risco, na rua para distrair inimigos agressivos e, é claro, no cabaré e em funções imobiliárias. Alguns itens e serviços são insanamente caros e você, por mais que tente, vai ter que suar bonito pra comprá-los. Alias, seus aprimoramentos de skills e novos combos só podem ser comprados com dinheiro e custam uma grana tão alta que chega a ser irrisório o preço de cada um deles.
Itens de cura são de fácil acesso, mas vestimentas dos personagens e upgrades de habilidade tornam-se incrivelmente caros depois de quase meio caminho. As lutas na rua podem atribuir uma média de 300.000 ienes facilmente. Ainda assim, a vida no Japão não é barata e este detalhe imposto pelo jogo faz dele também um deleite para quem ama dificuldade no nível mais extremo (somente para comprar itens). Você precisará de algumas atualizações no personagem para, enfim, notar uma diferença que tenha valido a pena um gasto tão exorbitante.
O realismo de Yakuza 0 é diferenciado e, em alguns momentos, chega ser estranho, entretanto vale ressaltar que se você é baleado, esfaqueado ou toma uma pancada na cabeça, o protagonista vai realmente ao chão e se faz necessário pressionar a tecla X para erguer-se. Este detalhe não é somente um ‘luxo’ de Kazuma, mas também dos encrenqueiros que vamos encontrando ao caminharmos pelas ruas. Caso o jogador tenha contato direto com o chão (ser nocauteado ou derrubado), ele vai perder dinheiro de seus bolsos. Então é necessário toda atenção possível para esquivar-se daqueles que ousam atravessar o caminho de Kiryu. Lembre-se, em Yakuza 0 não há pontos de experiência, então todo dinheiro fará falta mais para frente.
Você chega a um NPC com intuito de comprar potes de vida, itens para uso durante sua jornada e depara-se com uma loja entupida de bolsas femininas. Aliáas, 99% dos artigos são femininos. É como chegar na loja de conveniência virtual e ver uma carteira da Baggagio que por acaso tem imagens de dar água na boca — em restaurantes. O cardápio é de matar de vontade de ir a um fast food japonês (Koni e similares) e comer bem gostoso como um yakisoba de camarão com bastante brócolis. Esse contraste com uma realidade distante de um país que sequer conhecemos é um dos grandes atrativos de Yakuza 0, que só vem melhorado a cada sequência. Atividades como essa estão presentes aos montes e acabam ficando mais nítido quando há a opção de cantar em karaokês, muitas delas cheios de colecionáveis para aqueles que preferem um pouco de motivação fora a ideia de visitar um local tão “próximo” da realidade.
A exploração do mapa é independente. Apesar de no início algumas partes dele serem bloqueadas à visitação, é somente caminhando ao redor da cidade que você vai ouvir toneladas de conversas detalhadas, tornar-se fofoqueiro e, por fim, meter-se na vida alheia, podendo este impedir que assaltos aconteçam a inocentes, brigas venham a machucar uma criança, entre outros detalhes. Aliás, isso já era bom e impressionante no PS2 e PS3 quando você percebia algumas frases jogadas ao ar por pedestres e era possível escutá-las, mas em Yakuza 0, qualquer NPC dará continuidade a conversas possivelmente demoradas, muitas vezes sem pé nem cabeça, mas aproximando você de um mundo mais caloroso, coisa que, na verdade, contrasta diretamente com a Yakuza.
É difícil não sorrir quando se joga Yakuza 0. O gráfico é excelente, a trama interessante, fazendo com que haja imersão total na história dos mafiosos mais conhecidos de todos os tempos. Para aqueles não iniciados na franquia, o game é sem sombra de dúvidas o prólogo necessário e te enche de convicção do quanto nem só de bons gráficos se vive, mas tudo é esplendoroso neste jogo. O enredo em episódios e o universo crescente da cronologia do game tornam a ideia de jogar do Yakuza 0 em algo original e único!