Comprou. Estava na promoção. E quem iria querer?

Já passava uma semana aquela peça na sala de Idalina não dizia a que veio. Cada um que adentrava a sala da moça cacarejava, mas não se aproximava do dito cujo. Diante do susto, moça também não se aproximava. O café passou para a cozinha, televisão via em pé apoiada na porta. Mas conversa com Sofá Roxo era nenhuma.

Não era preto, nem branco. Não era vermelho como ela queria, Nem gelo para não atrapalhar os outros objetos da sala. Não era grande. Pequeno também não era. Confortável? Hum… estava longe de dar trabalho à coluna. Também não garantia sono tranquilo. Era roxo o sofá de Idalina.

Ninguém procurava pelo susto que dava; afinal: não era parecido com nada. Como Idalina, não era Ida, nem Lina era. Em tempos de escola, todo mundo a chamava de “oi, você ai!” e ela ficava sem nome; como aquele objeto roxo na sala.

Até o dia em que a moça quebrou a perna e na cama não conseguiu ficar, no colchão emprestado tampouco, também na cadeira da sala, muito menos na da cozinha. Até o gato preto subir no sofá e lá ficar tranquilo. Idalina se aproximou e ali ficou. No começo se coçou, afligiu, e se alguém olhasse… Foi pensando pensando e ali ficando ficando. E lá adormeceu.

E naquele sono, sofá roxo lhe trouxe de volta a mais doce lembrança. Sonhou com o moço da portaria do colégio que gritou seu nome a primeira vez. Nunca esqueceu. Que ela tinha nome de amor. Um amor que deixou no Maranhão. A partir de então Idalina não era Ida nem Lina; era amor.

E foi amorosa que se espreguiçou manhãzinha. O sofá já não precisava ser parecido com nada. Não era mais só, mas era só ele que dava colo para Idalina. Ele, muito próprio: O Sofá Roxo de Idalina.