Ao Seu Lado
Crítica do filme
Uma obra-prima! Não dá pra fugir muito do clichê quando falamos de O Urso (The Bear), série do Star Plus que chegou recentemente no catálogo brasileiro. O programa foi aclamado por público e crítica no exterior e não é difícil entender os motivos. A comédia dramática transforma a dor e a incerteza da perda numa grande poesia, onde cada espectador pode se relacionar de uma forma única.
A premissa não é exatamente incomum. Carmy (Jeremy Allen White) é um jovem chef de cozinha de alta gastronomia que volta para Chicago, sua terral natal, para administrar o restaurante da família. Enquanto lida com suas próprias questões, ele luta para ser aceito pela equipe do local.
Embora a ideia não seja nova, são tantos os elementos que compõem a obra que o produto final acaba nos oferecendo um ineditismo bem gostoso.
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O Urso busca sair do lugar comum desde o primeiro momento. Seja pela simbologia de alguns elementos (como o urso enjaulado no início do primeiro episódio), passando pela fotografia e chegando na dinâmica da edição. Tudo é muito dinâmico e perfeitamente pensado para provocar diferentes sensações no espectador. E um dos elementos mais legais é que a cidade de Chicago funciona como mais um dos personagens. E um dos principais, eu diria.
A série posiciona a luz, a arquitetura e as texturas de Chicago no centro da narrativa. E essa presença é tão forte que por vezes parece que a gente consegue sentir o cheiro da cidade. Me lembra um pouco as sensações que já senti passeando por São Paulo. Aliás, farei aqui um paralelo que talvez só faça sentido dentro da minha cabeça. Se o Rio é uma cidade solar, Nova York também é, mas por motivos diferentes. Já São Paulo e Chicago tem uma personalidade especial, um toque de sobriedade. Um jeito diferente de encarar o sol se pondo. O Urso consegue fazer com que a gente sinta o coração de Chicago batendo.
Outro elemento que me pegou BASTANTE foi a trilha sonora. Especialmente pensada para complementar a fotografia e as atuações incríveis que destrincharei daqui a pouco nesse texto. O pontapé inicial do primeiro episódio já começa com o inconfundível riff de “New Noise”, do Refused. Ao longo do episódio, ainda ouvimos “Via Chicago”, do Wilco. Para os créditos no fim do episódio temos simplesmente “Animal”, do Pearl Jam. Com o também inconfundível som da batera de Dave Abbruzzese e a voz de Eddie Vedder, nascido em Evanston (que fica a 30 minutos de Chicago) e torcedor fanático do Chicago Cubs.
Ao longo dos episódios, uma seleção maravilhosa de canções perfeitamente escolhidas para cada momento, para cada cena de impacto. Destaco ainda “Last Train Home”, de John Mayer e “Let Down”, clássico do Radiohead. Um deleite, amigos.
Os fãs mais antigos de Jeremy Allen White estão finalmente se sentindo recompensados! Afinal, o ator acabou de receber um Globo de Ouro por sua atuação na primeira temporada de O Urso e mais prêmios devem estar a caminho. White consegue transmitir com perfeição a mistura de sensações de quem lida com o luto mal resolvido. A confusão, a negação e, principalmente, a solidão estão muito bem representados ali. Quando um belo texto encontra uma atuação à altura, que consegue dar vida às palavras saídas do papel, é pra gente se emocionar mesmo.
Ebon Moss-Bachrach continua fazendo muito bem o papel de doidão da galera. Assim como seu Desi de “Girls” (HBO), seu Richie é uma mistura de doidera, nicotina e angústia, tudo regado ao melhor “italianismo” que Chicago poderia oferecer.
Destaco também Ayo Edebiri, que interpreta Sydney, nossa verdadeira heroína na história. Sua personagem está ali para encher nosso peito de empatia e fazer com que a gente torça por ela. Nos faz odiar o Carmy em alguns momentos e enche nossos olhos de lágrimas quando vence. Ela é a “working class hero” que a gente escolheu amar.
Como artista, me senti ainda mais tocado pelo arco da personagem, que luta para equilibrar seu amor pela gastronomia com a interminável necessidade de pagar as contas no final do mês. Edebiri faz um trabalho ainda mais brilhante porque trabalha com um texto ligeiramente menor do que o do protagonista. Portanto, muitas de suas sensações são passadas apenas com o silêncio, com os olhos e sua respiração.
Outros personagens como Tina (Liza Colón-Zayas) e Marcus (Lionel Boyce) também contribuem muito para a riqueza de espectros e histórias que a série oferece ao longo de seus oito episódios.
Conclusão
O Urso entrega absolutamente tudo. E, sem medo de parecer exagerado, é uma obra-prima do minimalismo. Ela te emociona, te faz chorar e daqui a pouco alguma coisa engraçada acontece para quebrar a tensão e te lembrar de ser feliz, de sorrir, de dar risada. A série definitivamente não baixa o seu astral e eu considero isso um dos seus maiores méritos.
Ela faz isso indo de momentos tremendamente emocionantes como o monólogo de quase sete minutos de White no último episódio a cenas tremendamente divertidas como crianças doidonas em uma festa de aniversário. Ao mesmo tempo, a história é uma grande panela de pressão, com uma energia caótica saindo por todos os lados. O sétimo episódio, quase um plano-sequência, denota muito bem essa mistura de doce e salgado, de frio e quente.
Por fim, O Urso chegou quase sem alarde ao catálogo do Star Plus e isso foi um erro tremendo. Corre lá pra assistir essa delícia e depois conta pra gente o que achou!
A saber, a série O Urso estreou no dia 12 de outubro de 2022 no catálogo do Star Plus.
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Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:
Jeremy Allen White
Ebon Moss-Bachrach
Ayo Edebiri
Abby Elliott
Lionel Boyce
Oliver Platt
Liza Colón-Zayas
Título original da série: The Bear
Temporada: 1
Episódios: 8
Duração: 30 minutos
Criação: Christopher Storer
País: Estados Unidos
Gênero: comédia dramática
Ano: 2022
Classificação: 16 anos