O Líbano é um país que faz divisão com a Síria ao norte e ao leste, e com Israel ao sul. É banhado pelo Mar Mediterrâneo e apresenta uma população mista, sendo considerado, inclusive, o país com a maior diversidade religiosa do Oriente Médio.

É dentro desse clima que o diretor libanês Ziad Doueiri ambienta a história de O Insulto (L’insulte), que venceu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Veneza e é um dos indicados na categoria de Filme Estrangeiro do Oscar 2018. Doueiri já trabalhou com Quentin Tarantino em diversos filmes como primeiro assistente de câmera. E isso, talvez, o tenha influenciado a criar um ritmo narrativo extremamente intrigante, tanto no roteiro quanto na montagem.

Toni (Adel Karam) é dono de uma oficina mecânica no mesmo bairro onde mora com sua esposa que está grávida. Na sua rua a prefeitura está fazendo uma obra de reparos e restaurações nos prédios. Yasser (Kamel El Basha) é o mestre de obra responsável. Enquanto está falando com seus funcionários, ele leva uma rajada de água na cabeça. Ao olhar para cima vê Toni lavando a varanda e percebe que a calha está virada para rua. Yasser vai até o seu apartamento para avisá-lo que precisa regularizar a calha, pois está jogando água nas pessoas que estão na rua. Toni responde rispidamente dizendo que ninguém irá entrar em sua casa e fecha a porta na cara de Yasser. Na cena seguinte vemos Yasser cortando a calha e os seus funcionários consertando-a. Toni nota o que está acontecendo e, num ato de fúria, pega uma marreta e quebra a calha que acabara de ser colocada. Yasser o chama de “babaca de merda”. Pronto, a história poderia terminar aí, mas é justamente nesse ponto que todo o conflito começa.

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A cadência narrativa do roteiro vai crescendo à medida que a tensão entre os dois vai aumentando. Aos poucos, os personagens vão sendo aprofundados, bem como o passado de suas culturas e religiões. Toni é um libanês cristão convicto de suas aspirações políticas, que ficam bem claras desde o início do filme, em que ele participa de um comício do Partido Cristão. Na sua oficina, ele deixa a TV passando uma fita dos discursos de Bashir Gemayel, que foi um dos mais marcantes líderes políticos da história do Líbano. Bashir foi eleito presidente do país em 1982 e foi assassinado. Ele era muito popular entre os cristãos libaneses. Em seus discursos exaltava o patriotismo e lutava contra a ocupação palestina e síria no país. Já Yasser é palestino e vive no bairro dos refugiados.

Tudo o que Toni deseja é que Yasser lhe peça desculpas por insultá-lo, porém este não sente que fez algo de tão grave, afinal só estava consertando a calha da sua varanda. A situação se complica ainda mais quando Yasser resolve finalmente pedir desculpas. Toni lhe diz palavras muito pesadas, ao ponto de fazer Yasser agredi-lo e lhe quebrar duas costelas. A coisa toda acaba indo parar nos tribunais.

É interessante observar como a narrativa vai acrescentando cada vez mais personagens de uma forma que rapidamente são absorvidos pela trama. E o roteiro ainda consegue incluir alguns elementos surpresas durante o percurso, quando por exemplo, é feita uma revelação em relação aos advogados que representam os dois protagonistas.

As elucubrações durante as audiências trazem à tona uma boa parte do contexto histórico e político ocorrido no Líbano. Isso acaba gerando uma comoção ainda maior, principalmente quando a mídia resolve reportar sobre o que está acontecendo. Sem dúvidas, Doueiri teve a habilidade e ousadia de fazer um filme que conseguisse abranger a complexidade dos sentimentos e ressentimentos de um país que vive no presente as marcas do seu passado.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Ziad Doueiri
Roteiro: Ziad Doueiri, Joelle Touma
Elenco: Adel Karam, Christine Choueiri, Kamel El Bacha
Produção: Rachid Bouchareb, Jean Bréhat
Fotografia: Tommaso Fiorilli
País: Líbano
Ano: 2017
Distribuidora: Imovision
Duração: 112 minutos
Classificação: 14 anos