Confesso que estou até agora tentando entender essa peça… Vamos a sinopse que consta no programa da peça:
“Ensaio Sobre o Amor Pelo Buraco da Fechadura fala de amor, uma palavra tão simples e com tantas possibilidades de significado. Quatro atores convidam o espectador a observar algumas de suas histórias mais íntimas pelo buraco da fechadura. Essa peça é um ensaio, é uma, dentre tantas tentativas de dizer, de explicar, de entender o que não pode ser entendido.”

A sinopse fala mais do que a peça em si. Inspirada em escritos de Nelson Rodrigues, a peça nada mais é do que realmente um ensaio. São 4 atores (Daniel Gonçalves, Denise Dietrich, Paula Sholl e Rafael Oliveira) que discursam sobre o amor em suas várias formas em primeira pessoa. Desde o amor por uma bola de basquete até o amor carnal. Porém as histórias são desconexas, com as personagens femininas citando o mesmo texto em momentos diferentes (essa foi a parte que eu menos entendi), as histórias sendo interrompidas abruptamente, encenações que não entendi o porquê delas no contexto da peça (em muitas vezes me senti em um filme de Godard). Aliás, acho até que essa estética da peça caberia melhor nas telas do que nos palcos. E o final dá-se de forma muito inesperada, dando aquela sensação de que falta algo.
O espaço alternativo em que a peça foi encenada (o último piso do Solar de Botafogo) deu todo um charme à encenação, o formato da platéia (estilo arena) faz com que todo o pequeno espaço de encenação seja bem aproveitado, a direção é ótima, a parte musical é bem introduzida nas cenas, o texto – mesmo com a sua carga emocional – é leve e os atores são excelentes.

Somente uma pontuação: acho que a produção falhou em admitir mais expectadores do que o espaço comporta. Compreensível que eles queiram acomodar a todos no último dia de peça, mas não é nada agradável e confortável ter que sentar no chão ou ficar de pé.
Talvez a montagem do texto e de algumas encenações não tenham favorecido a peça. Talvez o formato escolhido para esse texto não seja o mais adequado. Ou talvez eu seja racional demais para entender a subjetividade do amor. Talvez.
FICHA TÉCNICA
Tempo de Duração: 70 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Texto: Criação coletiva do grupo Chão de Teatro
Direção: Mayara Máximo
Elenco: Rafael Oliveira, Denise Dietrich, Paula Sholl e Daniel Gonçalves.