Entre as décadas de 1960 e 1970, a Turquia ostentava o título de um dos maiores polos produtores de cinema do mundo, apesar de sua indústria de cinema sofrer de um déficit criativo crônico: a falta de roteiristas. A fim de manter o fluxo de filmagens, produtores turcos copiavam roteiros e argumentos de produções internacionais. Assim, para qualquer título de sucesso, como Tarzan, Drácula ou Star Trek, passou a existir uma versão turca.
Remake, Remix, Rip-Off é um documentário nos apresenta a época de ouro do cinema popular turco, quando os diretores deviam ser rápidos e os atores resistentes. Este insólito universo dos filmes turcos é interessantemente construído por Cem Kaya, que opta por uma obra de reconstituição através de relatos dos diretores, atores, roteiristas, produtores, etc., somado a imagens dos filmes dá década de 60 e 70, principalmente, mas chegando a atualidade.O cinema turco, das duas principais décadas apresentadas, era uma espécie de Bollywood sem recursos e, principalmente, sem roteiristas (só haviam 3!!!!), mas que produzia uma quantidade truculenta de filmes, 250 a 300 filmes por ano (com 3 roteiristas!!!!!). O diretor conseguiu montar uma colcha de retalhos através dos relatos e da recuperação de diversos filmes que expões o amadorismo e “surrealismo” do processo produtivo turco, que nos entretém constantemente, levando público a gargalhada. De certo que o filme consegue alcançar seus objetivos e reverencia uma geração “guerreira”, por assim dizer, que fazia filmes com muito pouco, mas com muita criatividade e persistência e, o mais impressionante, levava multidões aos cinemas.
3DEVADAM
Contudo, existem alguns problemas, menores, mas dignos de nota. O filme se estende um pouco a mais do que poderia (informações parecem se repetir), muito por um afã de cobrir a história do cinema turco quase que toda a partir dos anos 60. Além disso, com essa extensão demasiada, o ritmo acaba por se perder, o que atrapalha o terço final do filme. Talvez, no entanto, o maior erro seja na discussão política. Quero dizer, ele expõe como a ditadura que assumiu o poder na década de 70 e 80 destruiu o cinema turco, o substituindo por uma espécie de pornô-chanchada turca (mais pornô do que chanchada) e como era a ideologia deste governo. Ao entrar na atualidade, o filme também questiona o governo atual e suas políticas, principalmente com relação a memória do cinema de seus país e com o domínio da televisão. Não que estes questionamentos sejam ruins, ou mal feitos, o problema não reside neles, mas nestas duas épocas eles foram feitos e não na época de ouro, por que? Não há nenhuma indagação do que queria dizer um cinema que copiava Hollywood constantemente? Ou qual era a cultura e a política que guiavam aquela época? Diversas questões que se fazem pertinentes devido as questões políticas colocadas no filme são ignoradas.
Independente de qualquer coisa, o filme diverte e informa, torna-se quase que obrigatório para quem trabalha na área, além de nos mostrar que fazer cinema para a massa com pouco dinheiro era (talvez ainda seja) possível. Türk filmine yaşa !!! (Um viva ao cinema turco!!! em turco, segundo o Google tradutor).

Turkish-Rambo
BEM NA FITA: Divertido, cumpre seu objetivo de ser um importante resgate de uma época e se coloca como uma obra fundamental para entender o cinema na Turquia e, quiçá, no mundo.
QUEIMOU O FILME: Os questionamentos políticos feitos não englobam a época reverenciada no filme, a duração e o ritmo.

FICHA TÉCNICA:

Título original: Remake, Remix, Rip-Off
Duração: 110 minutos
Roteiro, Direção e Edição: Cem Kaya
Produtor: Jochen Laube
Fotografia: Meryem Yavuz e Tan Kurttekin
Som: Gözen Atila, Özkan Coşgun, Emrah Yıldırım, Gökhan Kırtaş e Orçin İnceoğlu