O Camarada O’Brien de Roberval Barcellos é uma interessante homenagem à obra mais prestigiada de George Orwell, 1984. O livro é dado como uma sequência desta, mantendo o foco no oficial do Partido Ingsoc que realiza o julgamento de Winston. O Camarada O’Brien deve lidar com mais criminosos do pensamento – ou “ideocriminosos”, como a linguagem da Ingsoc os denomina –, ao mesmo tempo que se conforma com a execução de sua mais bem sucedida cura: Direcionar todo o amor de Winston por Julia para o Grande Irmão.

Enquanto o último prisioneiro da mesa de choques era crítico e constestador, o atual não entra em debates, mas não se permite negar aquilo que viu e acredita. Este embate entre oficial e prisioneiro manifesta até em O’Brien pensamentos contraditórios em relação ao sistema, sendo salvo pela sua função privilegiada de idealizador dos princípios do Estado. Ao longo da trama, O’Brien encontra-se traído pela sua própria criação: Winston. Quando o paciente, torna-se a Polícia do Pensamento e o camarada O’Brien torna-se o paciente, os valores do partido e do ser humano são postos à prova.

Roberval Barcellos retoma a ideia de Orwell que o ser humano está fadado à emoção. O pensamento de membros do alto escalão do Estado não escapa da hipocrisia humana, ao lado da corrupção. Percebe-se que todos são passíveis ao erro em uma sociedade em que possuir sentimentos e lembranças é um ato criminoso. Sendo dominado por drogas que faziam O’Brien relembrar o seu passado, ele sente de novo o que é ser uma criança e um jovem antes de adentrar na vida do Partido, um tempo em que defendia o fim das injustiças.

O livro é recomendado para os que gostam da leitura crítica das obras de Orwell que possuem uma leitura rápida e linguagem ágil. Neste é perceptível a retomada da esperança na humanidade conforme a personalidade da personagem principal entra em estágio de mudança. Pode-se notar as fases de transição entre o “O’Brien oficial” e o “O’Brien indivíduo”, gradativamente retomando sua humanidade, porém lutando contra isso, uma vez que pensar e amar são contra os princípios da Ingsoc. É clara, além disso, a contestação do poder que líderes e símbolos detém e, consequentemente, a utilização destes para a manipulação de massas, tema muito presente em diversos debates sobre regimes políticos contemporâneos.

cover_front_bigFICHA TÉCNICA

Número de páginas: 150

Edição: 1(2016)
Formato: A5 148×210
Coloração: Preto e branco
Acabamento: Brochura c/ orelha
Tipo de papel: Offset 75g