Sangue nas Veias, de Tom Wolfe, é um caldo de culturas borbulhando na cidade de Miami. O livro é composto de diversas histórias que, inicialmente, aparentam ser independentes. Cada personagem do livro traz aspectos peculiares e características marcantes durante o desenvolvimento da trama. A cidade de Miami, no entanto, é descrita como se não fizesse parte dos Estados Unidos, justamente por ser um local que reúne diversas etnias e conflitos entre as pessoas.

A obra traz à tona personagens politicamente incorretas, o que gera o humor da história. Com uma escrita leve e ironicamente humorística, pode-se perceber que as características mais sujas dos seres humanos, como a ganância e diversos tipos de preconceito – o racismo, o machismo e a homofobia –, sobressaem-se no calor escaldante de Miami. A cidade global é percebida como a materialização do caos urbano, causado, principalmente pelos embates entre os diversos núcleos étnicos que compõem o ambiente.

O início do livro dá foco à imigração cubana e, ao longo da história, pode-se notar que a estrutura social da cidade possui base nas comunidades cubana, haitiana, afro-americana e etc; além das divergências entre os grupos historicamente oprimidos e os grupos com mais privilégios, expostos como principalmente anglo-saxões e russos.

Wolfe demonstra a forte estigmatização ruim presente no estereótipo do imigrante nos Estados Unidos, forçando este indivíduo a – muitas vezes – emergir e renegar às próprias raízes e até desprezá-las. Isto torna-se explícito, uma vez que o narrador é onisciente e intruso, portanto interfere expondo pensamentos e sentimentos das personagens.

O autor proporciona que esta trama permaneça interessante ao entrelaçar a vida de cada personagem distante da cidade, tanto do policial cubano Nestor Camacho, da bela Magdalena, da haitiana-francesa Ghislaine e dos oligarcas russos, levando o leitor a ansiar pelo próximo capítulo para descobrir quando estes indivíduos chegarão finalmente ao encontro – e se chegarão.

A obra desencadeia diversos sentimentos como raiva, esperança e, especialmente, sede por justiça. Torna-se clara a hipocrisia das pessoas as quais não fazem parte de um núcleo e perpetuam julgamentos preconcebidos. Sangue nas Veias é recomendado a todos que anseiam por um final justo e pela união de personagens que, geralmente no clichês – diferente desta obra –, deveriam acham o caminho de volta uma para a outra eventualmente.