Ao Seu Lado
Crítica do filme
Alguns filmes ganham o público em suas cenas iniciais. Se estas, por algum motivo, despertarem a curiosidade ou empolgarem quem estiver assistindo, dificilmente as pessoas deixarão de vê-lo até o fim. Pode ser que, depois, se arrependam, mas aí já será tarde demais. Em parte, é isto o que ocorre com Operações Especiais, novo longa-metragem do diretor e roteirista Tomas Portella, que em sua abertura gravita de uma batida policial em uma favela a um assalto com direito a reféns em um hotel do Rio de Janeiro. A unir estas duas cenas situadas cronologicamente em momentos diferentes, a segunda um ano antes, na época da invasão do Complexo do Alemão, em novembro de 2010, uma personagem: Francis (Cléo Pires).
A transformação de uma recepcionista de hotel em agente da lei começa, justamente, no dia do assalto. A coragem e a tranquilidade demonstradas na hora de proteger uma criança exposta à mira dos bandidos; somadas ao desejo de ter um emprego melhor, levam Francis a prestar prova para a Polícia Civil. Na academia, ao se destacar nos treinamentos, ela chama a atenção de um delegado linha-dura, Paulo Froes (Marcos Caruso), encarregado de montar uma força tarefa com a missão de reduzir os altos níveis de criminalidade da cidade de São Judas do Livramento, no interior do estado.
Não se engana quem, pelo trailer ou lendo esta crítica até aqui, notou semelhanças entre a filme de Portella e a duologia “Tropa de Elite”, de José Padilha. Elas existem, sim, a começar pelo apuro das cenas de ação, muito bem feitas e ensaiadas. Além disto, há uma singularidade grande entre os personagens. Se a protagonista passa ainda por um processo de amadurecimento profissional, Froes encarna o mesmo calejo, a mesma fé inabalável na honestidade e na justiça do Capitão Nascimento (Wagner Moura). O repertório de frases de efeitos que farão o deleite da platéia também é bastante parecido. E quem sente saudades de Neto (Caio Junqueira) e Mathias (André Ramiro), certamente, se identificará com os policiais Roni (Thiago Martins) e Décio (Fabrício Boliveira).
Alternando narrações em off com um ritmo frenético, onde uma câmera quase sempre incisiva capta com nitidez o suor abundante e a respiração ofegante dos atores nos momentos de maior tensão, Operações Especiais se aproxima, também, das obras-primas de Padilha na crítica social e política presente no bojo deste filme que almeja ser mais do que um simples thriller policial. Desta forma, o questionamento estampado em todos os cartazes de divulgação, ‘E você, quer uma polícia honesta?’, reverberará na cabeça dos espectadores à medida que o longa se encaminhar para seu desfecho.
Com uma trama capaz de empolgar desde as primeiras cenas, aqueles que forem ao cinema esperando muita ação, tiros de montão e mocinhos que nem sempre usam métodos ortodoxos para caçar vilões, não se arrependerão. O uso constante de clichês e a existência de determinados diálogos, como, por exemplo, um sobre o papel da mulher nas forças policiais, que soam superficiais, não chegam a comprometer o resultado final. De resto, Operações Especiais fará qualquer um esquecer que, um dia, Portella dirigiu o insosso “Isolados”. Ainda bem.
Desliguem os celulares e ótima diversão.
FICHA TÉCNICA:
Direção e roteiro: Tomás Portella.
Co-roteirista: Marina Rupp.
Produção: Pablo Torrecillas e Rodrigo Castellar.
Elenco: Cléo Pires, Fabrício Boliveira, Marcos Caruso, Thiago Martins, Antônio Tabet, Fabíula Nascimento, Fábio Lago, Gillray Coutinho, Augusto Madeira e Analú Prestes.
Direção de Fotografia: Bárbara Alvarez.
Direção de Arte: Cláudio Amaral Peixoto.
Figurino: Ana Avelar e Gabriela Campos.
Duração: 90 minutos.
País: Brasil.
Ano: 2015.