Luiz Bolognesi (Foto: Wilson Spiler/Blah Cultural)

O BLAH CULTURAL foi conferir o bate-papo com o diretor Luiz Bolognesi , responsável pelo filme Uma História de Amor e Fúria. Acreditem: esse filme vai fazer história no cinema brasileiro. Após a exibição da produção para a imprensa, o cineasta deu detalhes sobre a obra:

“É fascinante mergulhar na fantástica mitologia dos índios brasileiros”, disse Bolognesi, que contou a versão não oficial da história do Brasil! Todos sabemos que aquela frase “Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil” já foi desmistificada há muito tempo, contudo a versão dos povos indígenas, sem metáforas e cartas poéticas para a realeza de Portugal, nunca foi parar nos livros didáticos brasileiros. É ai que entra o diretor – e roteirista – e um grande número de historiadores e livros que, juntos, conseguiram refazer a história, desta vez contada com os que mais sofreram com essa grande “descoberta” dos lusos, que perderam tudo, e que sem os quais, o nosso grande e complexo país não existiria como o conhecemos. Mas não se trata de um documentário e sim de uma animação costurada com o “fantástico” da crença dos nossos índios, que são nossas raízes e dos quais tão pouco sabemos.

A pesquisa foi grande e a decisão de contar esta história em uma animação do tipo HQ foi muito corajosa, já que o filme não é nada infantil. Luiz Bolognesi que desde muito novo se inspirava em graphic novels, teve muito trabalho para reunir tudo o que precisava. Escolher que momentos da história entrariam no longa, como um momento teria ligação com o outro, qual seria o toque de fantasia e de surpresa encantaria o público. Escolher os atores, que viraram grandes parceiros do longa, e achar animadores com uma mão boa! Sim a animação foi feita à mão, “lápis no papel” como disse o cineasta, o que torna o filme ainda mais fascinante.

É definitivamente uma produção com alma: alma brasileira, alma justiceira, e um trabalho que fica bem claro que teve muitas cabeças, vozes e mãos. Bolognesi, teve a grande sensibilidade de convidar atores que acreditaram na ideia do filme e, como houve a necessidade de fazer e refazer muitas cenas inúmeras vezes, era necessário ter pessoas que se sentissem parte do filme. Selton Mello e Camila Pitanga realmente vestiram a camisa e foram escolhidos, pois, segundo o diretor, era necessário uma interpretação convincente para uma história tão forte, e isso dubladores não conseguiriam fazer. Eram necessários atores de qualidade. Toda a vez que uma nova cena em novo áudio chegava, era uma grande emoção para a equipe de animação criar. Era possível visualizar o que estava acontecendo e colocar toda a emoção das vozes no papel.

Luiz Bolognesi escolheu fazer um filme em um estilo mais ANIME e menos americano, que usa em média 8 folhas por segundo, enquanto o visual Disney chega a 24. A escolha desse modelo teve motivos fortes: primeiramente a emoção fica mais limpa e clara, há um tempo para o espectador chegar no sentimento do personagem. Segundo ficava muito mais barato. Foram usados 7 animadores no total. Já no estilo americano seriam necessários 30. A produção não foi feita na ordem que aparece na tela e com um olhar mais crítico, é possível perceber nitidamente o amadurecimento, das personagens, das ilustrações e da história. A última parte, foi realmente a última a ser animada, onde fala sobre o futuro. Houve uma grande pesquisa para tentar imaginar como será o Brasil daqui há um bom período de anos. Tudo muito pensado, planejado, amado e lindamente desenhado. O longa vale cada segundo, e com certeza será um grande marco no cinema brasileiro. Foram 10 anos de muito trabalho, mas o esforço está valendo, já que o filme foi convidado para vários festivais internacionais e está tendo o luxo (muito merecido), de escolher quais vai participar. Parabéns, Luiz Bolognesi e equipe, o trabalho ficou realmente fantástico, que muitos mais venham.