Nós somos todos uns mimados. Quando pensamos em guerra, ou imaginamos gente empoeirada, distante, ou os headshots desumanizantes dos Call of Duty e Battlefields da vida. Mas guerra não é bolinho, não. É cruel, dilacerante, deprimente. E a maior parte dos heróis nunca dispara um tiro sequer. E sobre essa faceta dos horrores dos conflitos militares que Valiant Hearts – The Great War traça sua emocionante narrativa.

Alternando o comando de quatro personagens, o jogador mergulha na opressora posição de uma família engolida pela explosão da Primeira Guerra Mundial na fronteira da França com a Bélgica. Um jovem é obrigado a deixar sua esposa francesa e seu filho para se unir às forças alemãs. O pai da moça, por sua vez, alista-se nas forças francesas. Também juntam-se ao grupo um americano que busca vingança pela esposa morta nos bombardeios a Paris e uma jovem enfermeira motivada pela busca ao pai desaparecido. Além desses personagens, há também o cão salva-vidas, muito útil para explorar espaços confinados e roubar os corações dos gamers mais sensíveis.

Durante a Grande Guerra, ninguém malhava perna.

Durante a Grande Guerra, ninguém malhava perna.

Ao contrário do que é praxe em jogos de guerra, ninguém aqui anda armado. Apenas muito eventualmente nossos heróis passam pra agressão física. Normalmente, as baixas entre os inimigos se dão por decorrência de seus próprios ataques e, na maior parte do tempo, estamos mais salvando vidas do que tirando. A enfermeira, por exemplo, tem seu próprio mini-game inspirado na mecânica de Guitar Hero, onde apertar os botões certos no tempo exato pode salvar a vida de um paciente. Ou não.

X...X...O...

X…X…O…

A direção de arte é belíssima e tem algumas sacações inteligentes. Escondendo os olhos dos personagens, por exemplo, eles ficam particularmente mais expressivos. É o tipo da coisa que você só começa a reparar depois da sua terceira edição no Animamundi. Por outro lado, as vezes as oscilações de tom do jogo são meio abruptas, saindo do cômico pro trágico com uma agilidade que beira a esquizofrenia.

Não tem nada mais engraçado que dinamite!

Não tem nada mais engraçado que dinamite!

Como a maioria dos jogos de plataforma com puzzles, Valiant Hearts tenta equilibrar a dificuldade de seus quebra-cabeças com o ritmo de sua narrativa e, em boa parte do jogo, acaba abrindo mão do desafio em benefício da história. Por um lado, isso faz que alguns puzzles passem em branco. Por outro, quando convém à história, o sentido de urgência aumenta em determinados momentos, elevando a tensão e o grau de dificuldade.

Quem teve a ideia de esconder a chave do cofre num campo minado?

Quem teve a ideia de esconder a chave do cofre num campo minado?

No final das contas, Valiant Hearts consegue divertir, engajar e emocionar num tema que parecia fadado aos clichês dos grandes títulos de shooter. Ou seja, entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Todos? Não todos.