A humanidade e o amor fraternal em ‘The Last Of Us’
Taynna Gripp
Quando somos apresentados a Joel e sua família disfuncional, no primeiro episódio da série The Last Of Us, conhecemos sua filha Sarah e seu irmão Tommy, e nos apegamos à jornada de sobrevivência dos três personagens em meio ao caos de uma nova doença que se espalha rapidamente.
A história que nos é apresentada de luta e dor é só uma premissa básica – mas realista – do que a série da HBO vai abordar em cada um dos seus nove episódios, finalizados no último domingo (12).
O jogo que deu origem à série, um megassucesso criado por Neil Druckmann, aborda a reação de Joel ao mundo pós-apocalíptico em que o Cordyceps, um fungo que atinge o sistema nervoso central, toma conta de grande parte da população mundial, e a relação com Ellie, uma garota de 14 anos que é imune à enfermidade.
Entre infectados e sobreviventes cruéis, Joel tem a missão de atravessar o país com Ellie para entregá-la aos Vagalumes, uma espécie de milícia que pretende desenvolver a cura a partir da imunidade da adolescente.
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The Last of Us: diferenças entre a série e o jogo
Diferente do jogo, a série se construiu usando pouco o recurso dos infectados, embora existam três episódios com bastante ação entre os nove totais. A relação entre Joel e Ellie é o maior foco do roteiro, e esse é um acerto gigantesco dos roteiristas e diretores.
A evolução de ambos os personagens, daquele Joel taciturno e frio da segunda metade do episódio piloto, que incinera o corpo de uma criança sem sentir absolutamente nada ao Joel enfurecido indo resgatar Ellie; da primeira impressão de uma Ellie raivosa e com ódio do universo até o último momento em que ela entende que pode ser a salvação do universo, e isso se transforma em coragem.
A jornada que ambos traçam rumo à redenção é grandiosa e abraça cada episódio dessa primeira temporada de The Last of Us. A relação de amor que é construída aos nossos olhos justifica até o ato mais atroz que qualquer um deles poderia tomar para salvar um ao outro, porque é sincera, vimos nascer, acreditamos nela mais do que em qualquer outra premissa da série.
Muito mais do que ação
The Last Of Us não se tornou o que é por mera ação. Isso qualquer outro jogo é capaz de trazer. É na capacidade de humanização em meio a um mundo devastado que está seu ponto mais alto. É fácil criar um herói, difícil é criar um homem devastado pela dor capaz de qualquer coisa para salvar apenas uma pessoa, porque essa é a realidade que todos nós nos identificamos.
Joel não é quem vai salvar o mundo, ele é aquela pessoa que já sofreu tudo e que está disposta a salvar somente a si mesmo. E como é possível julgar alguém que já perdeu tudo tantas vezes?
Como é possível atravessar o último ato da primeira temporada da série sem a certeza de que se apertaria sim o gatilho em cada vez que fosse necessário; se o que estivesse em risco fosse a sua própria humanidade, já que perder outra vez o amor é se tornar um animal?
Quem se preocuparia com milhões de outras pessoas quando ali, do outro lado, encarando a morte, está a razão de sua própria existência?
Joel caminha executando qualquer coisa que se aproxime do seu destino de salvar Ellie. Enquanto isso, toda a trajetória que ele viveu desde o primeiro momento em que Sarah está em perigo em casa sozinha, a dor de deixar Tess, o medo de nunca mais encontrar Tommy, o desespero compartilhado nos olhos de Henry quando ele mata Sam, tudo isso vem na nossa própria memória. Assim como a devastação que a raça humana causou, a crueldade de Kathleen ou ainda de David.
E é fácil entender seus motivos quando ele atravessa tudo. Afinal, existe mesmo um mundo que mereça ser salvo pagando um preço tão alto?
‘Come up to meet you’
A única coisa que eu conseguia escutar na minha cabeça enquanto ele atirava eram os versos de “The Scientist”, da banda inglesa Coldplay: “Come up to meet you, tell you I’m sorry / You don’t know how lovely you are / I had to find you, tell you I need you / And tell you I set you apart / Tell me your secrets and ask me your questions / Oh, let’s go back to the start” (Vim para te encontrar, dizer que sinto muito / Você não sabe o quão adorável você é / Eu tinha que te encontrar, dizer que preciso de você / E dizer que te escolhi / Me conte seus segredos e me faça suas perguntas / Oh, vamos voltar ao início, em português).
Se você chegou ao final da série e não sentiu o desespero quando Joel diz que não foi o tempo quem curou as feridas, talvez você seja alguém que prefira o jogo. Mas se, por acaso, entendeu que o tempo não cura nada, somente as pessoas são capazes de fazerem nossas cicatrizes fecharem e nossos olhos voltarem a ver cor, certamente essa será uma série que vai marcar sua vida.
Porque aqui existe mais do que uma dupla de pessoas tentando sobreviver em meio a um universo inóspito. Aqui existem duas pessoas que sofreram o suficiente para se refugiarem dentro de si e encontram no amor fraternal um motivo para salvar a si mesmo da morte que é viver recluso dentro de si. Afinal, não somente o Cordyceps que mata: não viver também é, em suma, morrer.
Onde assistir à série The Last of Us?
A saber, The Last of Us está disponível no catálogo da HBO Max.
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Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:
Trailer da série The Las of Us, da HBO Max (Temporada 1)
The Last of Us (HBO Max): elenco da temporada 1 da série
Pedro Pascal
Bella Ramsey
Anna Torv
Lamar Johnson
Ficha Técnica da série The Last of Us (temporada 1), da HBO Max
Título original da série: The Last of Us
Temporada: 1
Episódios: 9
Duração: de 43 a 140 minutos
Criação: Craig Mazin, baseado no jogo de Neil Druckmann
Direção: Ali Abbasi, Jeremy Webb, Neil Druckmann, Peter Hoar, Liza Johnson, Craig Mazin, Jasmila Zbanic
Roteiro: Neil Druckmann, Craig Mazin
País: Estados Unidos
Gênero: ação, suspense, aventura, drama
Ano: 2023
Classificação: 16 anos