‘The Last of Us: Parte 1 é um remake que ninguém pediu
Felipe de Andrade
Em junho de 2013, há quase 10 anos, a Naughty Dog lançou uma das obras-primas do mundo dos games para o então console da Sony, O PlayStation 3, extraindo o máximo do seu poder em seus “momentos finais”. No próximo ano, o título campeão de vendas e premiações ganharia uma versão remasterizada para o console da próxima geração, o PlayStation 4. Impulsionando, assim, suas vendas em seu comecinho de vida.
E eis que agora, o game recebe seu terceiro lançamento através do (questionado) remake The Last of Us Parte 1 para o PS5, e futuramente para o PC. Este remake está sendo alvo do seguinte questionamento em todo o mundo: The Last of Us Parte 1 realmente precisava de ua repaginada? Um jogo que envelheceu tão bem em seus nove anos de vida, tanto no visual, na parte técnica quanto no gameplay necessitaria de uma nova versão refeito do zero em tão pouco tempo?
- ‘Cult of the Lamb’ é um jogo sinistro e divertido
- ‘Gran Turismo 7’ eleva a franquia a um novo patamar
- ‘Submerged: Hidden Depths’ é um game divertido, porém esquecível
Necessário?
Vou citar um exemplo aqui que segue uma comparação com a mesma lógica. Uma HQ da Marvel lançada nos anos 90 no antigo formatinho pela editora Abril (leitores antigos vão lembrar), foi relançada tempos depois pela Panini em formato original americano. Posteriormente ela chegou às bancas e livrarias em um encadernado com lombada quadrada e capa dura feita pela editora Salvat. Em suma, a comparação que faço aqui quer finalmente dizer que as três versões trazem essencialmente o mesmo conteúdo. Por fim, o que muda são os adicionais cosméticos que fazem parte da “embalagem”.
Resumindo… todas as três versões existentes de The Last of Us Parte 1 trazem um excelente jogo, mas sendo uma experiência visual e técnica melhor aproveitada através do remake para a nova geração. Assim como o livro da Salvat no exemplo anterior.
Apenas uma atualização gráfica
Comparações entre versões feitas, sigo com mais um porém o que pode ser o divisor de águas aqui. Este jogo é basicamente uma atualização gráfica e técnica do original de 2013, o que pode agradar os jogadores mais aficionados da série. Já os que esperavam por um trabalho por parte do estúdio nos moldes de remakes como Final Fantasy 7 e os novos Resident Evil 2 e 3, que transbordaram adições aos conteúdos originais e se tornaram novas obras refeitas do zero, mudando muitos aspectos, mas se mantendo fiéis às origens. Estes ficarão desapontados pois, afinal, aqui isso não aconteceu.
Mesma história
Começando pela história. A saber, ela se manteve exatamente a mesma de antes: onde jogamos com o Joel, um homem atormentado por acontecimentos do passado que levaram a uma perda irreparável. Dessa forma, ele aprende a viver à força sob um novo status quo da sociedade que se desfaz em meio a uma pandemia causada por fungos cordyceps, que transformaram pessoas em seres extremamente violentos e irracionais.
Para recuperar um lote de armas roubadas ele aceita a missão de transportar uma jovem até um determinado ponto do mapa. Durante a empreitada diversos acontecimentos e revelações, ligadas possivelmente ao destino da humanidade, fazem com que este homem amargurado sofra novas perdas enquanto enfrenta vários horrores em sua jornada, ainda assim encontrando novos motivos para continuar seguindo em frente.
Poucas inclusões
Todo o roteiro e seu desenvolvimento seguem sem alterações do início ao fim da partida. Até mesmo as cenas de gameplay e animações que seguem como no original, não alterando nem mesmo os ângulos das câmeras. Os cenários também são exatamente iguais, claro que sofreram um incremento de mais detalhes, mas também seguem como antes sem novas áreas exploráveis ou adições do tipo. Algumas inclusões foram feitas apenas por motivos de continuidade, devido a estarem presentes em The Last of Us Parte 2, como o visual de alguns ambientes e personagens, mas nada que altere o gameplay.
Outro aspecto que segue idêntico a versão original são os diálogos. Pois The Last of Us Parte 1 não recebeu nenhuma redublagem e suas linhas de diálogos se mantiveram exatamente iguais. Inclusive o áudio e todas as vozes de personagens seguem os mesmos utilizados antes. No entanto, alguns consertos na parte técnica foram realizados, resolvendo o problema em que algumas falas ficavam muito baixas sem motivo, que atrapalhavam a imersão em cenas importantes durante a jornada de Joel e Ellie.
Erros mantidos
Essa falta de redublagem faz com que alguns erros de localização para o nosso idioma perdurem na nova versão. Vez ou outra é possível perceber que determinadas falas ficam sem sentido, como em uma cena em que a Tess manda o Joel subir em algum lugar quando eles estão em uma área plana. Assim como quando ela fala que um soldado inimigo foi esquartejado, mas o corpo do defunto segue inteiro. Quem jogou a versão dublada do jogo original automaticamente irá lembrar desses momentos.
Erros corrigidos
Em contrapartida o restante da parte sonora foi muito aprimorado fazendo uso das novas tecnologias de som que o novo hardware possui. Com o novo design de som em 3D nunca houve melhor forma de ambientação do jogador em qualquer cenário ou jogo, como ocorre aqui. Cada efeito sonoro dos infectados foi retrabalhado de forma ímpar pela Naughty Dog, inclusive tirando o máximo proveito do headset Pulse 3D do PlayStation 5.
Esta é a melhor opção para aproveitar o novo sistema de som de The Last of Us Parte 1, chegando a dispensar o sistema de escutas que Joel possui, utilizado para localizar inimigos pelo cenário. Destaque para a transição do som ambiente entre lugares abertos ou fechados que ficou muito natural e realista.
Upgrade gráfico
Agora, vamos falar na cereja do bolo: o upgrade gráfico que o game recebeu (e o maior motivo dele ser vendido como remake, e não mais um remaster). Apesar de todo o design das fases permanecer intacto, tudo foi recriado visando um produto que transparecesse a nova geração da família PlayStation.
Os novos gráficos estão realmente incríveis e superam o que foi apresentado na Parte 2, desde a vegetação que avançou sobre o que restou das construções abandonadas, muito mais volumosa e realista, até as expressões faciais dos personagens que ganharam novas animações estão muito mais naturais que no original. Movimentos realizados durante o combate também estão mais agradáveis de se ver, e menos repetitivos.
Iluminação
Efeitos de iluminação dinâmica dão show a mais fatores que melhoram ainda mais visual do que vemos na tela. Esta técnica é utilizada com maestria garantindo mais imersão e realismo a todo o momento. Não importando se estamos em ambiente aberto iluminado ou fechado e escuro à luz da lanterna, o jogo traz uns dos efeitos de luz e sombras mais realistas que já havia até agora.
Os personagens também ganham um tapa no visual para acompanhar a evolução gráfica de todo o resto do jogo. Entretanto, parecem que foram portados diretamente da Parte 2, com as melhorias mais perceptíveis feitas nos inimigos infectados pelo fungo zumbificador que ganharam uma aparência muito mais assustadora.
Visualização
Como já esperado o game disponibiliza dois modos de visualização: Desempenho, que trava a quantidade de frames em 60 quadros por segundo em detrimento de uma resolução um pouco menor, mas com muito mais fluidez nas animações e no giro de câmera; e Performance, que exibe gráficos em 4K, mas com uma taxa de até 40 quadros por segundo apenas, trazendo desvantagem para os momentos mais frenéticos dos combates.
Para finalizar sobre a parte gráfica, o jogo traz a novidade de poder equipar skins nos personagens principais, alterando o visual das mochilas e adereços, além de camisas temáticas de outros jogos como God of War, Horizon Zero Dawn, e Ratchet & Clank, por exemplo. São apenas acessórios cosméticos, mas que não deixam de ser uma adição de conteúdo a mais do que o jogo de 2013.
Fidelidade
Buscando ser o mais fiel possível ao jogo original o estúdio realizou pouquíssimas mudanças no gameplay na nova versão. As poucas melhorias incluídas vieram basicamente da sequência de 2020. A jogabilidade é, em essência, a mesma de antes e trazendo um homem de meia idade no papel principal ficaria estranho transportar para a Parte 1 a agilidade das protagonistas da Parte 2, com suas esquivas e a possibilidade de deitar no chão para pegar inimigos desprevenidos ficaria pouco crível aqui, então essa parte ficou de fora.
Ademais, novas adições foram aproveitadas com o fato de ser necessário inserir a numeração manualmente para abrir um cofre, após encontrar um documento contendo a senha em alguma parte do cenário. Isso faz com que não abra mais automaticamente como no jogo anterior. Outra adição bem-vinda foi o uso da bancada de armas para realizar upgrades em armas e equipamentos em tempo real, usando animações muito realistas e mostrando alterações perceptíveis após a modificações. Esta adaptação também veio da sequência é muito mais agradável do que realizar essas ações através de menus, como antes.
Gore
Outra melhoria que foi feita, se é que podemos chamar assim, foi no gore durante o gameplay. Antes era possível destruir parte de corpos dos inimigos com explosões. No entanto, agora, com uma bomba ou alguns tiros certeiros é possível transformar os inimigos em “um troço sem braços, sem pernas e sem cabeça também, rolando pela rua que nem bosta no esgoto”, parafraseando o anti-herói Venom em uma cena marcante de seu filme de estreia.
Uma última adição ao gameplay é o fato de que o último inimigo humano de um grupo exterminado, quando não atingido por um ataque fatal, vai tentar suplicar piedade nos dando a oportunidade de executá-lo friamente ou esperar que ele sangre até a morte. Essa ação também veio direto do segundo jogo.
Acessibilidade
As opções de Acessibilidade retornam ainda mais completas do que nos jogos anteriores do estúdio. Agora são dezenas de modos que podem ser ativados para facilitar a jogatina de quem for portador de necessidades especiais de vários tipos e graus. Isso faz com que eles também possam aproveitar o remake ao máximo. Opções como as que auxiliaram um jogador deficiente visual a terminar The Last of Us Parte 2, por exemplo.
Finalizando
E para finalizar irei falar um pouco da total compatibilidade com o feedback háptico do controle Dualsense. Ele só não é melhor do que em Astro’s Playroom, pois este foi feito para demonstrar as capacidades do controle. Poder perceber cada gota de chuva e a pressão diferenciada para sacar e atirar com diversas armas disponíveis, em especial poder sentir o puxar da corda ao atirar com o arco.
Temos também vibrações localizadas que indicam a direção de uma explosão e coisas do tipo. Além de ser possível sentir as vibrações com mais ou menos intensidade durante os diálogos, de acordo com o timbre, a intensidade e a proximidade das vozes de personagens que estiverem falando. Somando essas sensações com uso do Headset Pulse 3D, já citado, não há jeito melhor de apreciar a nova versão do início ao fim.
Veredito
O jogo traz um pacote mais robusto do que o jogo original, mesmo com a falta do modo multiplayer. Ele vem com mais modos, mas níveis de dificuldade, diversos filtros de imagem para o jogo e para o completíssimo modo foto, ele vem totalmente compatível com o novo controle e variadas formas de acessibilidade no gameplay. A expansão Left Behind também está incluída.
Com tudo o que foi citado aqui esta é a melhor versão entre as três lançadas para os três consoles diferentes, ainda assim fica a pergunta: vale a pena pagar o preço cheio de lançamento por um remake que ninguém pediu, e que não altera em nada a sua história, e que ainda por cima a versão remasterizada pode ser jogada de graça pelos donos de um PS5? Bom, só você pode responder.
Trailer – The Last of Us Parte 1
Prós
- Lindos gráficos refeitos
- Explosões mais realistas
- Mais violento visualmente
- Feedback háptico bem utilizado
- Áudio otimizado
Contras
- Pouco conteúdo novo
- Preço cheio pela mesma experiência
- Muda pouco para um remake
- Não adiciona nada a história já conhecida
- Não possui o multiplayer
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