Todo Dia a Mesma Noite O Incêndio da Boate Kiss crítica da série minissérie Netflix 2023

Foto: Netflix / Divulgação

‘Todo Dia a Mesma Noite’: série sobre o incêndio da Boate Kiss mostra como a impunidade ainda reina no Brasil

Wilson Spiler

O incêndio na Boate Kiss foi, sem dúvida, uma das tragédias mais terríveis que o Brasil já viveu. Com 242 mortes e 636 feridos, o incidente ocorrido em 27 de janeiro de 2013 chocou o país. Diversos jovens mortos por irresponsabilidade de diversos lados. Seja da iniciativa privada, que foi mesquinha ao preterir a segurança do público em prol de uma economia porca; seja do poder público, que fez vistas grossas com relação à regularização de estabelecimentos do tipo.

Após 10 anos da tragédia, eis que a Netflix lança a série Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss, minissérie em cinco episódios estrelada por grandes nomes da TV e do cinema brasileiro que relembra não só o fatídico dia, mas também a trajetória dos familiares que perderam seus entes queridos.

Leia também:

‘Presidente por Acidente’ é uma grata surpresa da Netflix

‘Guerreiras’ é um importante documento histórico, mas peca pelo exagero

‘Justiça por Uphaar’: dois pesos e duas medidas

Retrato da nossa Justiça

Baseado no livro homônimo de Daniela Arbex, Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss é um retrato fiel de como funciona a Justiça brasileira: morosa, pouco empática e, por vezes, até corrupta. É, de fato, revoltante ver como funcionam os bastidores dos julgamentos e recursos no decorrer dos episódios da minissérie. Embora, vale lembrar, estejamos falando de um dos lados da situação e, claro, adaptações sempre mudam algo para conferir um dramaticidade maior.

Esses, aliás, são os ‘melhores’ momentos da produção da Netflix. A forma como tudo se sucedeu é bem contada e facilmente digerida pelo espectador, gerando uma empatia instantânea com a situação dos pais e a torcida para que os réus tenham a merecida justiça. Os dois últimos episódios (“O Processo” e “Sem Fim”) são os melhores, quando vemos, de fato, os acontecimentos terem um desfecho.

Ótimo trabalho de produção

Entretanto, antes disso, Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss é um pouco arrastada e demora a cativar, ainda que a cena da tragédia, em si, seja bem rápida e ‘resolvida’ já no primeiro capítulo. O que é bom, já que o foco da série é, sem dúvida, o drama dos familiares.

Dirigida pelas competentes Julia Rezende (“Depois a Louca Sou Eu”) e Carol Minêm (“Coisa Mais Linda”), a minissérie traz ainda um impressionante trabalho de produção e elenco. A maquiagem e os efeitos visuais dos sobreviventes que ficaram feridos e com sequelas é realmente de saltar os olhos.

Além disso, o cuidado com o sotaque gaúcho – ainda mais de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul – vale ser mencionado. Nomes de peso no elenco como Thelmo Fernandes, Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo MedeirosFlavio Bauraqui e Debora Lamm (todos muito bem) se desdobram para pegar até os trejeitos das falas. Sendo a grande maioria oriunda do Rio de Janeiro e São Paulo, o trabalho é digno de nota 10, em especial o resultado de Debora Lamm, uma carioca da gema que fala como uma verdadeira moradora dos pampas.

Impunidade: réus da Boate Kiss continuam soltos

Dito isto, Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss, apesar de alguns problemas de desenvolvimento e exageros para aumentar a dramaticidade, é um bom documento histórico sobre uma das maiores tragédias que esse país já sofreu. A lembrança de outros desastres como Brumadinho, incêndio no Ninho do Urubu, por exemplo, ajuda a colocar ainda mais o dedo na ferida sobre a impunidade no Brasil.

Ainda mais quando, nos créditos finais, a série faz questão de lembrar que nove meses depois da condenação dos réus em 2021, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul anulou, por questões processuais, o julgamento da primeira instância. Por consequência, em janeiro de 2023, os réus estão em liberdade aguardando novo julgamento que ainda não foi marcado. Ou seja: uma década depois do incêndio, ninguém está preso. E, por isso, a Associação de Familiares e Vítimas da Tragédia de Santa Maria segue lutando para que todos os responsáveis não fiquem impunes.

Onde assistir à série Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss?

A saber, Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss estreou em 25 de janeiro de 2023 no catálogo da Netflix.

Aliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:

https://app.orelo.cc/uA26

https://spoti.fi/3t8giu7

Trailer da série Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss, da Netflix

Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss – elenco da série da Netflix

Thelmo Fernandes

Paulo Gorgulho

Bianca Byington

Ficha Técnica da série Todo Dia a Mesma Noite: O Incêndio da Boate Kiss, da Netflix

Temporada: 1

Episódios: 5

Duração: de 46 a 46 minutos

Criação: Gustavo Lipsztein

Direção: Julia Rezende, Carol Minêm

Roteiro: Gustavo Lipsztein, baseado no livro de Daniela Arbex

País: Brasil

Gênero: drama

Ano: 2023

Classificação: 16 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
0

Créditos Galáticos: