The Atlas Underground Fire Tom Morello crítica do álbum novo

Tom Morello projeta seu modo de ouvir música com ‘The Atlas Underground Fire’

Cadu Costa

Se tem um guitarrista que é muito menos endeusado do que deveria esse alguém se chama Thomas Baptist Morello. Talvez assim você o conheça menos, mas basta tocar o primeiro “TAAAAAMMMM” de “Killing In The Name” para qualquer um que tenha escutado rock uma vez na vida saber que estamos falando de Tom Morello, o instrumentista principal do Rage Against The Machine.

Mas seu legado vai muito além de seu trabalho com o RATM. Seja com projetos em tempo integral como Audioslave ou Prophets Of Rage, ou uma (ou duas) aparições com nomes como Linkin Park, Bruce Springsteen, Rise Against, The Pretty Reckless e Frank Carter & The Rattlesnakes, para ficarmos só nos mais conhecidos. Se eu for falar dele tocando o tema de Game Of Thrones num comercial da Fender, então, vai dar até vergonha de tentar resenhar um disco do cara.

E, por isso, podemos dizer que Tom Morello simplesmente ama tocar com quem quiser tocar com ele. Seu amor por trabalhar com outros músicos ficou mais evidente com seu quarto disco solo (o primeiro com seu próprio nome), The Atlas Underground, de 2018. Aquele álbum tinha convidados tão ecléticos e inesperados como Marcus Mumford, bem como Portugal. The Man, Gary Clark Jr. e Steve Aoki. Desnecessário dizer que era um conjunto de sonoridades distintas.

Novas colaborações

The Atlas Underground Fire, o novo trabalho de Tom Morello, lançado no último dia 15, tem uma lista de colaboradores diferentes, mas os resultados são semelhantes. Mas é tudo tão sublime, tão conectado. É como se pudéssemos entrar na mente do músico e conhecer todas as suas influências e gostos. Parece uma grande rádio onde ele é o DJ.

As partes boas são realmente impressionantes. Ou seja, a melancolia assustadora e taciturna de “Driving To Texas”, apresentando Phantogram; as cepas apocalípticas sinistras de “Naraka”, com Mike Posner; assim como a escuridão explosiva de “Let’s Get The Party Started”, com a banda Bring Me The Horizon.

Duvida? Escute então Tom reinterpretar “Highway to Hell”, do AC/DC com a ajuda de Bruce Springsteen e Eddie Vedder, do Pearl Jam. Experimente ainda a pulsação neurótica de rock-rap-funk de “Hold The Line”, com grandson e o dark-pop convincente de “Night Witch”, com participação de phem. E o que é “The Achilles List”, com Damian Marley, Jesus? É puro ‘raprockandrollpsicodeliahardcoreragga’, como já dizia o Planet Hemp.

O grande Tom Morello

Estou tentando achar um tom ruim em The Atlas Underground Fire. Talvez a música country em “The War Inside”, com Chris Stapleton; ou os oito minutos de techno um pouco entediante de “On The Shore Of Eternity”, com Sama’ Abdulhadi? Putz, não. Definitivamente não. Afinal, a guitarra superlativa de Tom Morello começa a amarrar tudo junto. A maneira como muda os gêneros e a atmosfera tão caoticamente, no final das contas, torna-o muito genial para tecer uma crítica negativa. Por favor, o cara me toca techno, industrial, gótico, country e ragga com rock ‘n roll no estilo Rage Against The Machine! Gente, é o Tom Morello!

Não importa onde estejam seus gostos musicais. Ainda assim, há muitas joias aqui e cabe ao público tentar entender onde pode ir com esse disco. Porque The Atlas Underground Fire é simplesmente uma viagem musical pela mente de Tom Morello, um dos maiores guitarristas que o mundo do rock já conheceu.

Ouça The Atlas Underground Fire, de Tom Morello

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN