‘Um Lindo Dia na Vizinhança’ | CRÍTICA

Mr. Rogers (Tom Hanks) foi um apresentador de televisão bastante conhecido para os americanos. Seu programa matinal começou ainda na década de 1960 e foi até o ano 2000. Com seu jeito calmo e de fala mansa, ele conseguia se comunicar com crianças, adultos e idosos usando praticamente o mesmo tom de voz, brincadeiras de palco e exemplos da vida cotidiana.

Em uma determinada parte do show, onde deveria montar uma barraca de camping para um de seus anunciantes e o fez com certa dificuldade, a produtora disse que poderiam editar para que não parecesse tão difícil de fazer. Nesse momento, Mr. Rogers vira e fala: “De forma alguma. As crianças precisam entender que nem tudo na vida sai como planejamos. Pode deixar como está”.

Mas Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in the Neighborhood) não é sobre Mr. Rogers. Ele, apesar de uma celebridade, não se comporta como tal. A maioria de nós acharia a vida dele até chata. Meticuloso, cheio de manias, horários, regras e de uma calma tão grande, que, às vezes, chega a irritar. Em algumas cenas você vai imaginar Tom Hanks falando: “Meu nome não é Fred Rogers. Meu nome é Gump. Forrest Gump.”

https://www.youtube.com/watch?v=QHnUG_SIYYo&t=6s

Sobre o filme

Brincadeiras à parte, falar sobre Mr. Rogers talvez não parecesse tão interessante, então, por que não falar de um dos inúmeros casos que ele levou para o seu programa? Por que não falar de uma das milhares de pessoas que ajudou? E foi exatamente isso que a diretora Marielle Heller fez.

Um Lindo Dia na Vizinhança começa e logo o espectador se dá conta que Mr. Rogers é apenas o personagem coadjuvante na história do jornalista amargurado Lloyd Vogel (Matthew Rhys). Um homem com várias questões psicológicas mal resolvidas com seu passado, que, apesar de bem-sucedido na sua profissão, carrega sempre muita mágoa e rancor.

Ele não chega a ser alguém ranzinza no cotidiano, mas é conhecido como um crítico ferrenho, que tem como fama desmascarar pessoas aparentemente certinhas. Sabendo de toda essa bagagem do passado, principalmente de seus problemas com seu pai, Jerry (Chris Cooper), sua amiga e editora, dá a missão de entrevistar Mr. Rogers para uma edição especial da revista que trabalha.

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A partir daí, somos apresentados a várias situações onde Vogel tenta desmascarar Mr. Rogers. Ao mesmo tempo, ela não acredita que haja um ser humano como ele. Vogel, por muitas vezes, acaba se irritando com o jeito calmo e devagar do seu entrevistado e tenta “pegá-lo” em alguma contradição ou situação constrangedora.

Aos poucos, a afinidade e a interação dos personagens vai acontecendo e, em certos momentos, temos a impressão de estar vivenciando uma sessão de terapia coletiva. Vamos nos colocando no lugar do personagem, avaliando nossas vidas, o rumo que demos a ela, nossos relacionamentos familiares e amorosos, com quem já brigamos e quem já perdoamos.

Mr. Rogers fala com Vogel, mas parece que ao interagir com a câmera, interage para além dela. Em uma das cenas, Ele sugere que se faça um minuto de silêncio para refletir sobre todas as pessoas que Voguel conheceu na vida e que o ajudaram a moldar seu caráter. Mas ele faz isso olhando para câmera e arranca vários suspiros de todos da sala durante a exibição. Um Lindo Dia na Vizinhança literalmente para por um minuto. Silêncio total. No filme e na sala do cinema.

Entre mortos e feridos, a parte negativa é que em alguns momentos, Um Lindo Dia na Vizinhança parece mais longo do que realmente é, ou seja, quase duas horas de projeção. Podia ter até uma ou outra cena deletada, mas não prejudica o resultado final.

Com um orçamento de US$ 25 milhões, o filme já arrecadou o dobro disso desde sua estreia em dezembro nos EUA, mas fica difícil de imaginar outro ator que não seja Tom Hanks para encarar esse personagem. Filme com cara de sessão da tarde, mas leve, agradável e que faz o espectador pensar em muita coisa da vida. Recomendo. Até a próxima.

*Filme visto no Festival do Rio 2019

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: A Beautiful Day in the Neighborhood
Direção: Marielle Heller
Elenco: Tom Hanks, Matthew Rhys, Susan Kelechi Watson
Distribuição: Sony
Data de estreia: qui, 23/01/20
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Classificação: 12 anos