‘Uma Mulher Alta’ | CRÍTICA
Jéssica Borges
Se você gosta do tipo de filme que te faz sair da sala do cinema sem saber o que pensar e questionando o que faria se estivesse no lugar das personagens, Uma Mulher Alta (Dylda) certamente vai mexer com você.
A trama
O filme russo, dirigido por Kantemir Balagov, conta a trama intensa e comovente de duas mulheres em Leningrado pós 2ª Guerra Mundial. Durante cerca de 900 dias, a cidade soviética foi deixada pelos nazistas à própria sorte, sem água, luz ou alimentos, o que causou extremo sofrimento e muitas mortes. Então, a pouca comida era dividida especialmente para crianças e idosos. Mesmo assim, não foi suficiente para que todos sobrevivessem.
No outono de 1945, Iya (Viktoria Miroshnichenko) e sua melhor amiga Masha (Vasilisa Perelygina), encontram nessa amizade um vínculo para sobreviver em meio a tanta destruição. Iya é uma enfermeira muito alta, o que causa estranheza perto das outras pessoas, sobretudo, quando são feitos takes em contra-plongeé, dando a sensação de que a diferença de altura é ainda mais discrepante.
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Um acontecimento brutal
O elo entre as personagens, além dos terrores da guerra, é o pequeno Pashka (Timofey Glazkov), criança que Iya cuida como seu filho, contudo, na realidade, é o primogênito de Masha, nascido na linha de frente do confronto. Inválida por uma concussão que ainda lhe causa apagões, Iya é enviada de volta para casa e concorda em cuidar de Pashka como se fosse sua cria. Entretanto, um episódio chocante – que inclusive nos causa um nó no estomago e vontade de desviar o olhar – coloca a humanidade das jovens à prova.
Com performances realmente emocionantes e por vezes perturbadoras, a história segue por um caminho imaginável e hipnótico. Deste modo, para resolver o embate entre as companheiras de guerra, Masha força Iya a enfrentar um grande sacrifício na tentativa de curar sua dor.
Por fim, Uma Mulher Alta se difere muito dos demais filmes de guerra russos. Isso porque, além de não mostrar cenas de batalha, não está interessado em pintar seus personagens como vítimas, e sim, em esmiuçar suas patologias, traumas e mazelas. Humanizando cada detalhe e se aproximando do espectador a ponto de fazê-lo testar seus limites entre ir até o final ou deixar a sessão.
Novos talentos no cinema
Além de uma trama surpreendente, Uma Mulher Alta ainda é um celeiro de grandes revelações nas telonas. O diretor, Balagov, de apenas 28 anos, entrou na cena cinematográfica em 2017 com o longa “Tesnota”. Do mesmo modo, sua operadora de câmera, Ksênia Sereda, de 24 anos, já é considerada uma das mais criativas e procuradas da Rússia.
E, para arrebatar de vez o grande público, suas duas protagonistas, Viktória, 25 anos, e Vassilisa, 23 anos, fazem sua estreia no cinema exatamente neste filme. Inclusive, arriscamos a apostar que ainda veremos muito as duas por aí!
Indicação ao Oscar 2020
Além de muito bem recebido pela crítica, o longa foi indicado na mostra Un Certain Regard, em Cannes, assim como fez parte de diversos festivais como os de Nova Iorque, Toronto e Londres, e é a indicação russa na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2020.
Assim, o drama, juntamente a “Retablo” (Peru), “Parasita” (Coreia do Sul), “A Vida Invisível” (Brasil), “Dor e Gloria” (Espanha) e “Os Miseráveis” (França), se soma à lista de favoritos à estatueta.
A saber, Uma Mulher Alta estreia nos cinemas brasileiros dia 12 de dezembro!
::: TRAILER
https://youtu.be/Ai6AgQfMaX4
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Dylda
Direção: Kantemir Balagov
Elenco: Konstantin Balakirev, Andrey Bykov, Olga Dragunova
Distribuição: Supo Mungam Films
Data de estreia: qui, 12/12/19
País: Rússia
Gênero: drama
Ano de produção: 2019
Duração: 130 minutos
Classificação: a definir