Vince Staples

Vince Staples apresenta modernidade e reflexão em seu novo álbum

Cadu Costa

Vince Staples é um rapper à moda antiga com elementos modernos. Criado em North Long Beach, Califórnia e cercado pelas interseções escritas nos clássicos do gangsta-rap da Costa Oeste, Vince fala sobre vida, morte, alegria e dor com uma naturalidade quase zen. Como se fosse a imparcialidade que o inclina nas escalas do destino. É verdade: a melhor coisa que você pode sentir quando está em apuros é ficar em paz e espirituoso. Staples faz isso sem esforço, de forma que ele é conhecido tanto por seu humor quanto por sua música. Sua conta no Twitter é um fluxo interminável de observações irônicas sobre o mundo e as peculiaridades dos seus fãs que o amam, mas nem sempre parecem o entender.

Vince não se importa em ser mal interpretado

Acho que minha coisa favorita sobre música é que ela te dá um espaço para falar sobre as coisas que eu realmente não quero falar com mais ninguém”, disse ele ao ator e escritor Jermaine Fowler durante uma conversa recente na revista Interview. E nesse seu novo álbum, que leva seu nome, lançado no início de julho, Vince mantém seu estilo autêntico. Com canções bem curtas, ele apresenta elementos bem simples e conhecidos no gênero. É claro aqui o quanto as letras falam muito mais do que qualquer batida, apesar delas continuarem dançantes.

Vince é bem direto em seu novo disco. Com muitas reflexões sobre a vida e seu passado. Sem perder tempo e com a ajuda do produtor Kenny Beats, ele entrega um dos discos mais profundos de 2021. Destaque para “Are You With That?”, que abre os trabalhos. Somos surpreendidos com um par de versos e melodias que você não poderia compor.

Sonoridade direta

É incrível que o conjunto de som mais comercial do rapper provoque queixas sobre o quão bem ele está ou não. O quanto ele pode ou não estar se entorpecendo, embora às vezes pareça genuinamente que ele está fazendo isso. Isso se assemelha ao tipo de música que algumas pessoas queriam que Vince fizesse o tempo todo. Sempre queremos o que não temos. Mas você não pode fazer rap como o Vince faz em “Sundown Town”. “Estávamos no bairro, o aluguel atrasou, não temos Seção 8 / Tive um .38 no oitavo, mudei para o 68º / Então nos colocaram pra fora, estávamos dormindo no sofá da minha tia / Então ela nos botou para fora, estômago roncando, roubando dos Ralphs”. Pelo menos não sem ter visto e vivido umas coisas pra contar. Parece um cara expressando descontentamento com o estado de coisas tanto com suas palavras quanto com seu tom de voz. Em “The Shining”, por exemplo, ele explora a vida dos afroamericanos e como eles são.

O momento lo-fi vem em “The Apple & the Tree”, quando o músico fala sobre o pai, condenado por tentativa de assassinato, e como ele poderia ter seguido o mesmo caminho e dá o exemplo dos primos, muitos presos por tráfico ao longo dos anos. É mais um relato do que uma canção, mas é muito, muito forte e revelador de como a vida funciona para uma imensa maioria das pessoas. O ritmo segue com”Take Me Home”, uma parceira com a cantora Fousheé onde você percebe fragmentos de rap do passado como “Bring the Pain” do Method Man e “Money Ain’t a Thang” de Jermaine Dupri e Jay-Z. E ainda somos brindados com “Lil Fade” que tem a batida mais desafiadora do álbum: DUVIDO VOCÊ NÃO DANÇAR!

Jornada pela vida de Vince Staples

O rapper avança com uma simplicidade genuína. Os relatos sobre si mesmo e a vida mostram como seguir por um caminho que é muito mais difícil do que parece. Mas a música, mais uma vez, mostra todo potencial em salvar vidas.

Certamente não é um álbum fácil de explorar, nem particularmente divertido. Entretanto, para aqueles interessados ​​em uma obra de arte onde a barreira entre o criador e o espectador é realmente inexistente, ao ponto de claustrofobia compartilhada, bem…aqui está. As cicatrizes de Vince nunca foram tão visíveis: ele praticamente as expôs para o mundo todo. Se isso não é bravura, não sei o que é.

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN