‘Westworld’ (HBO) – S301 | CRÍTICA
Pedro Marco
Após corroermos nossos circuitos em ansiedade com o retorno de Westworld, finalmente pudemos sair do modo análise e mergulhar de cabeça na terceira temporada, desta que segue como a grande galinha dos ovos de ouro da HBO.
Se nos anos anteriores nós tínhamos este gosto de Jurassic Park, vendo as criaturas se livrando do controle humano e buscando revidar contra aqueles que os mantinham e visitavam, agora, organicamente, alçamos o patamar Jurassic World.
Seja em Londres, Los Angeles, ou escondidos nas Filipinas, as portas se abriram para que nossos queridos anfitriões tomassem este mundo de Black Mirror, com tempero de Isaac Asimov.
Apesar de referências e inspirações nestas grandes obras, a mais presente na série acaba sendo um pouco mais antiga.
A trama
Se nos primeiros anos tínhamos as várias alusões de Teddy e Dolores como Adão e Eva em busca do livre arbítrio e da fuga da ilusão do paraíso, ou mesmo referências mais diretas como à Lázaro ou à missão de Moisés, no terceiro ano as coisas se mostram muito pouco diferentes.
A começar pelo nome do primeiro episódio, “Parce Domine”. Temos alusão ao cântico cristão em latim que diz “Poupe, Senhor, poupe seu povo: Não fique bravo conosco para sempre”. Além disso, temos também o nome do nosso novo protagonista, Caleb, que pode ser alusão ao personagem bíblico de mesmo nome.
Nos textos sagrados, este foi enviado como um dos 12 espiões de Canaã, onde retornaram apenas ele e Josué (que pode vir a ter papel com o já falecido Francis). Calebe quase foi apedrejado pelo seu otimismo sobre as boas novas.
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Outro detalhe interessante de Calebe é sua recompensa como o monte Hebrom, prometido por Moisés. Será que veremos Celeb com alguma recompensa final na série?
Ademais, a alusão de nomes fica por conta do aplicativo Rehoboam, nome do filho do Rei Salomão; e na abertura, onde temos alusões à capela sistina (em que, apesar de representar o toque da criação divina, também era uma crítica que mostrava Deus dentro da cabeça humana); Ícaro, humano que por sonhar alto demais teve suas asas queimadas pelo seu; e Prometeu, semideus que trouxe o fogo do conhecimento aos humanos.
Enfim, podemos passar horas aqui falando sobre a pastilha eletrônica de calmante que lembra o formato de uma hóstia, ou especulando se é à toa o nome do primeiro cara que Dolores: Jerry (apelido para Jeremias). Mas vamos em frente.
Outra série?
Saindo um pouco das referências, vamos ao episódio de Westworld em si. Com uma grande identidade visual nova, à princípio, como vimos no trailer, parece de fato estarmos diante de outra série.
Acompanhando 3 focos, temos o personagem de Aaron Paul, já citado acima, como um ser que, apesar de humano, age em loops e atividades em função dos humanos, como se estivéssemos acompanhando um dos hosts da primeira temporada.
Com discussões sobre falta de empatia humana e meritocracia do trabalho, sua índole seria apenas uma parte da voz da série que a torna tão atual para o momento em que está sendo exibida.
Saindo um pouco do nosso eterno Jesse Pinkman, não apenas as iniciais WW ligam Westworld com Walter White, pois aqui, temos também uma gigantesca construção de uma personagem ingênua, numa das maiores vilãs da TV.
Dolores encarna ares sádicos e uma veia de espiã internacional, mostrando-se bastante confortável com seu novo corpo e novo mundo.
Saindo das bufantes roupas de donzela e do olhar assustado de vítima, temos uma personagem fatal e que sabe usar sua sensualidade como uma das mais poderosas armas de seu cinto de utilidades.
Logo na apoteótica primeira cena, vemos que não mais apenas libertar os robôs dos humanos é o bastante e que nossa bela anti-heroína messiânica agora também libera os humanos dos próprios humanos.
Dúvidas características de ‘Westworld’
Algumas dúvidas características de Westworld começam a surgir neste arco, como a questão de quem está encarnada no corpo de Charlote (apesar de terem fortes pistas no trailer, mas vamos deixar isso pra semana que vem).
Indo para o terceiro é último núcleo, Bernard deixa sua barba crescer e raspa o cabelo para viver como um açougueiro misterioso nas Filipinas. Ao final, assim como também na terceira temporada de Lost, decide que temos de voltar pra ilha.
Entre autoanálises paranoicas e cenas de ação, vemos que, até então, estes 3 núcleos passam em momentos próximos uns dos outros. Isso porque a jornada de Dolores ocorre 3 meses após o fechamento do parque e ela não vê Bernard há 76 dias.
No entanto, vale notar que Dolores diz ser a única de sua espécie em determinado momento. Isso que leva a crer que suas cenas sejam antes do momento em que ela acordou Bernard, no final da segunda temporada. Confuso, né?
Por fim, os três pontos focais da trama da 3ª temporada de Westworld não impediram a série ter seu início de temporada arrastado. Ao ponto de beirar o entediante. Mas, como de praxe, o apelo visual e o anseio pelas já características confusões temporais, bem como um terceiro plot twist na trama, nos mantêm ligados até o final.
E por falar em final, caso não saibam, tem uma grande surpresa após os créditos. Ela pode ser resumida como “Maeve e o Nazi Parque”.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Westworld
Temporada: 3
Episódios: 8
Criação: Jonathan Nolan, Lisa Joy
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandie Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Ed Harris
Distribuição: HBO
Data de estreia: dom, 15/03/2020
Gênero: ficção científica
Ano de produção: 2020
Classificação: 18