Wolfwalkers animação crítica Apple TV

‘Wolfwalkers’: a mais nova pérola da animação

Victor Lages

O irlandês Tomm Moore só lançou três filmes até agora. “Uma Viagem ao Mundo das Fábulas” saiu em 2009 e misturou fantasia com um visual único. Em 2014, pegou o melhor da sua estética criada e combinou com uma lenda aquática em “A Canção do Oceano”. Por fim, no último dia 11 de dezembro, lançando pela plataforma de streaming Apple TV+, Moore revolucionou novamente o mundo da animação trazendo Wolfwalkers (ainda sem título traduzido).

Para cada filme, veio uma indicação ao Oscar. Assim, quem sabe, chegou agora a hora da esperada vitória em abril do ano que vem com sua melhor obra.

Duas crianças se encontram

A saber, a trama apresenta uma jovem caçadora chamada Robyn, que é transferida para um vilarejo na Irlanda com o pai, este responsável por matar todos os lobos que moram na floresta próxima.

Então, em um ato de rebeldia, Robyn conhece Mebh, uma criança wolfwalker, ser místico que possui a magia de se transformar em lobo e comandar a alcateia rumo à sobrevivência. Desse encontro inusitado, vemos uma amizade honesta e inocente quebrar preconceitos.

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Mistura de Disney com Ghibli

O resultado dessa história são 100 minutos de puro brilho nos olhos com o visual lindíssimo que Moore coloca nos seus filmes. Mesmo com a narrativa da animação Wolfwalkers se assimilando bastante com aquelas histórias clássicas da Disney/Pixar, com personagens tendo que reinventar suas ideologias a partir de situações extremas de transformações (A Bela e a Fera, Valente e A Pequena Sereia são ótimos exemplos), há traços aqui que se distanciam do maior estúdio de animações do mundo.

Além disso, as divergências estão em dois pontos fundamentais. O primeiro é a linha tênue entre religião e política que o antagonista Lorde Protetor representa. Em nome da Igreja e de um ser superior comandando suas ações de destruir a floresta e exterminar os lobos, o personagem parece ter saído do cenário federal do Brasil, em que uma figura autoritária usa o nome de Deus para nortear suas ações arbitrárias.

O segundo ponto está – e vou ressaltar pela terceira vez nesse texto (e quantas vezes forem necessárias para incentivar o espectador a embarcar na obra) – é a estética. Afinal, os desenhos têm inovações tão deslumbrantes que lembram o visual dos filmes japoneses do Ghibli Studio (em que se destacam A Viagem de Chihiro e O Conto da Princesa Kaguya).

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Mas a animação Wolfwalkers vai bem mais além. Isso porque combina traçados distintos dependendo das ações dos personagens, em movimentos que vão se encontrando e se distanciando. E esse louvor de misturas deve-se ao trabalho em união com o codiretor Ross Stewart, que coloca sua criatividade principalmente na cena que entra como uma das mais bonitas do ano cinematográfico: os lobos correndo ao som da música “Running With The Wolves”, da cantora norueguesa Aurora.

O reconhecimento merecido

Enfim, tudo o que mais espero é que Tomm Moore receba logo seu reconhecimento no Oscar. Com isso, virá a estima também do público, como já existe dos críticos que assistiram aos seus três filmes. Certamente, um dia, esse prestígio almejado virá e irá colocá-lo no patamar elevado que ele merece. Assim, quem sabe, talvez consiga uma bela exposição itinerante em museus e galerias de arte com quaisquer frames das suas obras. E isso é o mínimo que fará jus à sua carreira que, até agora, está impecável.

TRAILER

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FICHA TÉCNICA

Título original: Wolfwalkers
Direção:
Tomm Moore, Ross Stewart
Elenco:
Honor Kneafsey, Eva Whittaker, Sean Bean, Simon McBurney, Tommy Tiernan, Jon Kenny, John Morton, Maria Doyle Kennedy
Onde assistir: Apple TV
Data de estreia:
 sex, 11/12/20
País:
Irlanda, Luxemburgo, Estados Unidos, Reino Unido, França
Gênero: 
animação
Ano de produção: 
2020
Duração: 
102 minutos
Classificação: 
10 anos

Victor Lages

Feito no coração do Piauí, onde começou sua aventura cinematográfica depois de descobrir as maravilhas do filme “Crepúsculo dos deuses”, o jornalista Victor Lages ama tanto a sétima arte que a leva para tudo em sua vida: de filosofias do cotidiano à sua dissertação de mestrado.
NAN